terça-feira, 11 de abril de 2017

O ESPELHO




Geralmente, olhamos em todas as direções, exceto para nós mesmos. Vemos facilmente os defeitos alheios e temos ótimas ideias para corrigi-los, mas Jesus disse: “Por que reparas no argueiro que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que está no teu olho”? (Mt.7.3).
Em outras palavras: “Tu vês o cisco no olho do outro, mas não vês a viga que está no teu”.
De fato, examinar os próprios olhos é tarefa difícil. Seria impossível, se não houvesse espelhos.
Na visão de Tiago, o espelho é a Palavra de Deus:
Porque, se alguém é ouvinte da palavra, e não cumpridor, é semelhante ao homem que contempla ao espelho o seu rosto natural; Porque se contempla a si mesmo, e vai-se, e logo se esquece de como era” (Tg.1.23-24).
Quem se olha no espelho deve se limpar e se pentear imediatamente, corrigindo o que for preciso. A palavra de Deus nos mostra quem somos e como estamos. Sua prática é a correção.
Como purificará o jovem o seu caminho? Observando-o conforme a tua Palavra” (Salmo 119.9).
Jesus não disse que os erros são incorrigíveis e que tudo está perdido. Podemos melhorar, com a ajuda de Deus. Depois, vamos ajudar o irmão. A bíblia não nos ensina a “deixar pra lá” o pecado alheio. Jesus continuou, dizendo:
Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão” (Mt.7.5).
Pode ser, porém, que, ao voltarmos para ajudá-lo, constatemos que não havia cisco algum. 
Tudo foi apenas uma ilusão de ótica.


Pr. Anísio Renato de Andrade

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Três tempos na vida de Ester






Depois do cativeiro, muitos judeus continuaram morando fora de Canaã. Entre os que ficaram na Pérsia, havia uma mulher chamada Ester, cuja história encontramos no livro bíblico que leva o seu nome.
A aceitação daquele relato entre os livros sagrados enfrentou grande resistência pelo fato de não encontrarmos ali nenhuma menção ao nome de Deus. Contudo, sua providência é notória no decorrer da narrativa. Em muitos momentos das nossas vidas, também podemos ser levados a perguntar “onde está Deus”? Entretanto, estejamos certos de que ele está sempre presente e nada escapa à sua soberania.
A história de Ester pode ser dividida em três períodos distintos:
No primeiro, temos a vida difícil de uma menina pobre chamada Hadassa (este era o seu nome hebraico, cujo significado é “murta”, uma espécie de planta). Ela era órfã de estrangeiros, criada pelo tio Mardoqueu, parte de um povo discriminado e perseguido (Et.2.5-7).
No segundo momento, Hadassa tornou-se uma linda moça que, depois de participar de um concurso promovido pelo rei Assuero, veio a ser rainha da Pérsia. Certamente, foi uma mudança espetacular em sua vida. Seu nome foi mudado para Ester, que significa “estrela”. Todas as suas dificuldades pessoais foram superadas. Agora, ela poderia possuir tudo o que desejasse, comer as melhores comidas, vestir as melhores roupas e frequentar os melhores lugares. Aliás, sua casa era esse lugar: o palácio (Et.2.16-17).
No terceiro tempo, Ester se coloca como intercessora do seu povo, contribuindo de modo decisivo para o livramento de milhares de judeus que estavam condenados à morte (Et.7.1-6).
Em outras palavras, podemos dizer que Ester passou por três níveis distintos em sua vida, como pode ocorrer também conosco, guardadas as proporções e diferenças específicas a cada caso.
O nível 1 é da tribulação, das privações e prováveis questionamentos. É o tempo dos “por quês”. Por que eu sou assim? Por que minha família é assim? Por que Deus permitiu a morte dos meus pais? Seja qual for a situação e mesmo sem respostas às suas perguntas, continue fiel a Deus.
O nível 2, caracterizado por vitórias de ordem natural, parece a glória, e corremos o risco de ficarmos muito satisfeitos, pensando que isto seja tudo o que Deus tem para nós. Em termos materiais, é o tempo das realizações e suprimento das necessidades. Para alguns, pode significar a conquista do emprego, da empresa, da casa própria e do carro novo. São experiências de superação, mas não se trata da essência dos propósitos divinos, pois os ímpios também podem alcançar este patamar. O nível 2 é o fim da miséria e da humilhação, mas traz novos desafios e tentações. Êxito, prosperidade e eventual riqueza trazem novos riscos. Ester começou a presenciar as tramas políticas ligadas ao poder.
O nível 3 significa assumir grande risco, deixar o egoísmo e sair da zona de conforto para lutar a favor do próximo. Ester era crente, cria no verdadeiro Deus, era uma pessoa abençoada, mas o Senhor tinha muito mais para a sua vida.
Entre um nível e outro existem barreiras e dificuldades (embora a vida não seja um game). Para passar da primeira fase para a segunda, Ester precisou enfrentar um concurso público, concorrendo com muitas candidatas. Certamente, Deus a abençoou e lhe deu a vitória, mas isso não seria suficiente para termos sua história na bíblia.
Do segundo para o terceiro nível, o desafio seria enorme. Mardoqueu levou ao conhecimento de Ester que havia uma sentença de morte sobre o povo judeu. Sabendo de tal ameaça, a rainha não ficou indiferente, mas tomou uma atitude. Mesmo sendo esposa do rei, Ester não tinha poder para livrar o seu povo. Ela precisava falar com o rei, mas não poderia entrar em sua presença, a não ser que fosse chamada. Se esperasse, poderia ser tarde demais. Se entrasse na sala do trono sem ser convocada, poderia ser condenada à morte. Então, Ester entrou em luta espiritual, com oração e jejum. Antes de falar ao rei, Ester falou com Deus, conforme a instrução enviada a Mardoqueu:
Vai, ajunta a todos os judeus que se acharem em Susã, e jejuai por mim, e não comais nem bebais por três dias, nem de dia nem de noite, e eu e as minhas servas também assim jejuaremos. E assim irei ter com o rei, ainda que não seja segundo a lei; e se perecer, pereci” (Et.4.16).
Conforme lemos na sequência do seu livro, Ester entrou na presença do rei (Et.5.1), iniciando uma série de atos que levaram, não só à salvação do seu povo, mas também à execução do inimigo de Israel: Hamã.
Antes de agir no âmbito natural, Ester atuou no mundo espiritual. Sem isso, sua ousadia seria estupidez. Ester não ficou acomodada ao luxo e conforto do palácio, mas colocou sua vida em risco para salvar milhares de pessoas. Entretanto, sua ação foi precedida por jejum e oração, mostrando que para alcançarmos um nível superior e espiritualmente significativo em nossas vidas, precisamos tomar atitudes importantes que envolvam uma busca intensa pela face do Senhor.
Assim, a trajetória de Ester não foi apenas de superação pessoal, mas de grande relevância para o seu povo, salvando milhares de judeus e tornando-se figura de destaque na história de Israel.

Pr. Anísio Renato de Andrade