sábado, 31 de outubro de 2015

O PERIGO DO PODER SEM DOMÍNIO




“E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra” (Gn.1.26).
Deus fez o homem para dominar. O problema começou quando o homem não dominou seu próprio desejo. 
Hoje, o ser humano domina desde as feras até as naves espaciais, mas muitos não dominam a si mesmos. Esta é a parte mais difícil.
“Como a cidade derrubada, sem muros, assim é o homem que não controla o seu espírito” (Pv.25.28). Quem não se controla não se protege.
Muitas vezes pensamos que somos capazes de dominar certas situações perigosas, mas o correto seria dominar a si mesmo, evitando participar delas.

O poder está no fazer. Domínio próprio é parar. 
Força é motor. Autocontrole é freio.   
Deus nunca nos mandou dominar Satanás, mas a nós mesmos. Assim evitaremos suas ciladas.
Temos pleno domínio antes do envolvimento com o pecado. Depois, somos dominados por ele. Essa mudança ocorre quando falamos, fazemos, aceitamos ou experimentamos o que não deveríamos. O que parece um ato sem compromisso pode tornar-se um eterno tormento. Assim começam os vícios e os envolvimentos indevidos.
Enquanto estamos calados, somos senhores dos nossos pensamentos. Depois que falamos, as palavras nos dominam, podendo até mudar o rumo das nossas vidas.
Quando Davi viu Batseba se lavando, ele ainda tinha o domínio de seus próprios atos. Depois que a possuiu, a situação tornou-se incontrolável como uma carreta sem freios na descida. Ele tomou uma série de providências para se livrar das consequências dos seus atos, mas não conseguiu. O rei não tinha poder? É claro que tinha. O que lhe faltou foi o domínio sobre os seus próprios desejos.
Sansão foi o personagem bíblico mais forte, mas mostrou-se fraco diante dos pecados sexuais. Por fim, a falta de controle sobre a língua custou-lhe os cabelos, a força, a liberdade, a visão, e a vida.
O fruto do Espírito e as obras da carne são opostos entre si (Gal.5.19-22). Assim como o amor resume bem o fruto, a falta do domínio próprio explica muitas daquelas obras pecaminosas listadas pelo apóstolo Paulo. A falta do auto-controle está relacionada à ira, glutonaria, bebedice, prostituição, pelejas, dissenções e homicídios. A mesma relação ocorre com algumas transgressões dos 10 mandamentos.
O fruto é do Espírito, mas o domínio é “próprio”. Deus dá ao cristão a capacidade de se controlar. O jejum é um exercício de auto-controle. Calar-se é também uma boa prática, principalmente quando sabemos que vamos ofender, mentir ou fazer compromissos precipitados.
Que Deus nos ajude a dominar nossas inclinações carnais com seus apetites e impulsos. Rendamo-nos ao senhorio de Cristo, pois a ele pertence todo poder e todo o domínio para sempre.
Pr. Anísio Renato de Andrade

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

O ATLETA CRISTÃO




Todo aquele que quer ser um campeão precisa se abster de algumas coisas, ainda que sejam lícitas. O que é ilícito então, nem se fala. Caso contrário, antes mesmo de ser derrotado, já estará desqualificado.
Alguns vícios, como drogas, fumo e álcool, e certas atividades que demandam muita energia são incompatíveis com a prática esportiva, pois podem debilitar o corpo e a mente. 
Mas nem só de abstinência se faz um vencedor. O atleta precisa se alimentar adequadamente e dormir bem, evitando todo tipo de excesso. Além disso, deve dedicar-se a uma rotina de exercícios pesados que não apresentam resultados imediatos, mas são indispensáveis ao bom desempenho nas competições. Uma dedicação esporádica, rápida, leve e sem compromisso não o levará a lugar algum.
Sua boa forma física, seu peso e sua saúde são fatores fundamentais para o seu sucesso.
O apóstolo Paulo escreveu aos cristãos de Corinto, na Grécia, onde já aconteciam os jogos olímpicos. Ele comparou o cristão ao atleta, dizendo:
"Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis. E todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, uma incorruptível" (1Co.9.24-25).
Quando se tem um objetivo a alcançar, muitas coisas precisam ficar para trás. Não podemos ter ou fazer tudo ao mesmo tempo. Se alguém quer servir a Cristo, deve abandonar Mamom. Se somos amigos de Deus, não podemos ser amigos dos prazeres pecaminosos.
Tudo isso pode ser resumido em duas palavras: renúncia e disciplina.
Precisamos também resistir ao desânimo e às palavras negativas daqueles que nos querem fazer desistir.
O cristão também tem exercícios espirituais a realizar, tais como o jejum, a oração e  a dedicação à palavra de Deus.
O jejum é um exercício de domínio próprio e combate à glutonaria.
A oferta é um exercício de generosidade e combate à avareza.
A leitura bíblica é o exercício do conhecimento e combate à ignorância.
Nosso alvo espiritual não é conseguir casa, carro, emprego, casamento e dinheiro, mas sim cumprir o propósito do Senhor em nossas vidas, em santificação e serviço.
O esforço pode ser grande, mas o prêmio é maior. O resultado será a vitória. A bíblia diz que Deus tem um galardão para nós, uma recompensa na glória celestial. O Senhor Jesus é o nosso principal exemplo. Quando ele esteve aqui na terra, viveu em disciplina e renúncia para que a vontade do Pai fosse realizada.
"Portanto, nós também, pois que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo o embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com paciência a carreira que nos está proposta; olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus" (Heb.12.1-2).

Depois, olharemos para trás com a certeza de que tudo valeu a pena, valeu demais.

            Pr. Anísio Renato de Andrade

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

ANIMAIS PUROS E ANIMAIS IMUNDOS




Regras alimentares mosaicas e suas lições espirituais.

Logo que o homem foi criado, Deus só lhe permitiu comer alimentos de origem vegetal (Gn.1.29). A restrição talvez fosse para proteger os animais até que se multiplicassem. Por outro lado, não faria sentido o sofrimento daquelas criaturas antes do pecado.
Depois do dilúvio, Deus permitiu o consumo de carne (Gn.9.3). A regra mudou de acordo com o propósito divino em cada época. O mesmo ocorreu entre o Antigo e o Novo Testamento.
No livro de Levítico, capítulo 11, encontramos uma lei especial para Israel, determinando os animais que serviriam ou não para se comer. A pureza ou a imundícia de um animal estava relacionada, geralmente, ao tipo de alimento que ele comia. Os animais herbívoros eram puros; os carnívoros, principalmente os de rapina, eram imundos.
Esta é uma caracterização das aves e dos animais da terra firme, mas  havia outros fatores em relação aos seres aquáticos e insetos.
Aquela legislação poderia parecer opressora, mas, de fato, tinha o objetivo de proteger a saúde dos israelitas, evitando contaminações, doenças, epidemias e o possível extermínio do povo de Deus. Além disso, só os animais puros serviriam para o sacrifício.
Nós, que não somos judeus, não estamos sujeitos àquelas leis. Paulo instruiu os coríntios a comerem todo tipo de carne encontrada no açougue (ICo.10.25).
Entretanto, a lei de Moisés é palavra de Deus para nós e continua sendo útil para nos ensinar profundas lições espirituais. As regras alimentares devem ser vistas dentro do principal tema de Levítico, que é a santificação. A questão dos animais puros ou imundos nos deve fazer refletir sobre coisas santas e profanas, sobre a santidade e o pecado.  É preciso observar a diferença entre a sujeira e a pureza, entre as trevas e a luz, entre o ímpio e o justo (Lv.10.10; Ez.44.23. Mal.3.18). 
O israelita poderia querer comer de todos os animais que encontrasse, mas a lei determinou limites e parâmetros. Devemos aceitar o "sim" o "não" de Deus em todas as áreas das nossas vidas. Nem tudo será aceitável diante dele.
Quais seriam os critérios para definir se um animal era próprio ou impróprio para o consumo humano? A fome é a regra? O desejo, o apetite, a necessidade? Seria a aparência do animal? Seria uma questão de experimentar para decidir? Então, o sabor era o fator determinante? Não. Nem tudo que é gostoso é bom.
Quais são os critérios que utilizamos para fazer nossas escolhas na vida? Por trás de uma boa aparência pode haver contaminações invisíveis e perigosas.  Deus estabeleceu leis para que os israelitas sequer experimentassem certos alimentos pois, uma vez instalada, a contaminação é difícil de ser removida.
Deus determinou as regras, mas não deu explicações científicas. Ele tem motivos suficientes para as proibições morais e espirituais que nos ordenou, ainda que não compreendamos. Não devemos questionar, mas obedecer.  Não adianta inventar escapes. Não adiantaria lavar o animal imundo. A impureza não é superficial. A porca lavada volta ao lamaçal (2Pd.2.22). Não podemos tornar lícito o que Deus proibiu. Não adiantaria argumentar que todos os animais foram criados por Deus. É claro que foram, mas muitos deles têm outros propósitos e não foram feitos para a nossa alimentação. O camelo é para o transporte. O cão para a segurança. O urubu para a faxina ambiental.
Em tudo isso, o mais importante não são as questões alimentares, mas os princípios espirituais que devem reger as nossas vidas, de modo que não nos contaminemos com as coisas que Deus proibiu. Que o desejo, a aparência e o sabor não sejam os parâmetros que determinam os rumos da nossa existência. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.

Pr. Anísio Renato de Andrade

O POÇO E A FONTE




A mulher samaritana foi buscar água e encontrou Jesus. Momentos de necessidade podem ser oportunidades de experiências com Deus. O texto de João 4 fala sobre três tipos de sede, física, emocional e espiritual, relacionadas às três partes integrantes do homem: corpo, alma e espírito. A mulher buscava satisfação na água do poço, em vários relacionamentos conjugais e numa forma religiosa de adoração, até encontrar a fonte de água viva: Jesus.
Apesar do problema conjugal da samaritana, Jesus não transformou aquele encontro num momento de aconselhamento sentimental.
Não podemos negar nossas necessidades físicas e emocionais, mas a fonte da nossa felicidade é o Senhor Jesus. A verdadeira alegria não vem das coisas materiais. É possível ser feliz andando de ônibus e estar deprimido no jatinho particular, mas com Jesus somos sempre felizes, quer sejamos solteiros ou casados, empregados ou patrões, ricos ou pobres.
Passando pelo assunto da água e dos maridos, Jesus conduziu a conversa para o tema mais importante: a espiritualidade, o relacionamento com Deus. O resto seria consequência.
A religião nos faz preocupados com lugares sagrados, objetos e aspectos formais do culto, mas a espiritualidade relaciona-se à essência, ao contato com o Pai, em espírito e em verdade. Religiosidade é uma lâmpada. Espiritualidade é luz. Religião produz muito trabalho, semelhante ao esforço para tirar água do poço. A verdadeira espiritualidade produz santidade, um modo de vida agradável a Deus, fazendo sua água viva saltar do nosso interior.
A verdadeira vida espiritual está vinculada ao conhecimento da pessoa de Jesus. Em pouco tempo, aquela mulher passou por vários estágios de conhecimento:
1-Começou reconhecendo que Jesus era um judeu (v.7).
2-Desconfiou que ele pudesse ser maior do que o patriarca Jacó (v.12).
3-Disse que Jesus era profeta (v.19).
4-Creu que ele é o Cristo, o salvador prometido (v.25,29).
Buscamos satisfação em tantos poços, mas Jesus é a fonte da água viva. Se já o conhecemos, mas ainda nos sentimos espiritualmente fracos, é porque talvez não estejamos bebendo da água que ele nos oferece. A fonte é inesgotável. Se não estamos saciados, o problema não está na fonte, mas no recipiente. A água flui em quantidade suficiente para encher um copo, uma jarra, um balde, um barril, um caminhão pipa ou uma fila deles. A intensidade da nossa busca determina o quanto receberemos. Busque ao Senhor por meio da oração, do jejum e da leitura bíblica. Precisamos buscá-lo não apenas para saciar a nossa sede  e suprir nossas necessidades, mas para sermos lavados, purificados. O propósito de Deus é que sejamos cheios da água viva, cheios da sua palavra e do seu Espírito Santo. Em seguida, virá o transbordamento, ou seja, seremos canais da graça e da unção do Senhor para abençoar outras pessoas. A água viva que Jesus nos dá torna-se um rio que flui. Poços podem ser entulhados, mas nada pode deter um rio. Assim, o poder do Senhor fluiu através da samaritana que, deixando o cântaro, foi pregar na cidade. Deste modo, o cristão torna-se uma influência transformadora para sua comunidade, povo e nação.                                   
Pr. Anísio Renato de Andrade

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

FÉ, ATITUDE E AÇÃO




Muitos se gloriam de terem uma grande fé, mas será que isso é tudo? É como se orgulhar de ter muito dinheiro sem que se faça bom uso dele. A fé não é o fim do caminho, mas apenas o início. Em Hebreus 11, temos uma lista de pessoas que se destacaram por sua fé. É importante crer, pois "sem fé é impossível agradar a Deus" (Heb.11.6). Contudo, existem naquele capítulo outros elementos indispensáveis.  Uma fé sadia é produzida pela palavra de Deus (Heb.11.3; Rm.10.17).  Ela é amparada e garantida pelo que Deus falou, seja em forma de aviso, chamado ou promessa (Heb.11.7,8,9). Além disso, a fé precisa ser bem direcionada como uma flecha que busca o alvo certo. Uma fé sem rumo, uma crença no acaso ou em falsos deuses, trará grandes decepções.
Nossa fé deve estar depositada em Deus e em Jesus Cristo. Ele mesmo disse: "Credes em Deus; crede também em mim" (João 14.1). A fé deve ser acompanhada do compromisso com Deus e da fidelidade a ele. Além de crermos até o fim, é necessário que sejamos fiéis até a morte (Ap.2.10).  Se o crente for infiel, sua fé poderá ser inútil.
Aqueles homens listados em Hebreus não tinham apenas fé, mas ela era o princípio fundamental em suas vidas, como a pedra principal de um alicerce. Temos ali diversas atitudes e ações que acompanharam a fé, combinando bem com a afirmação de Tiago: "A fé sem obras é morta" (Tg.2.26).
Abel creu e ofereceu o sacrifício.
Noé creu e construiu a arca.
Abraão creu e saiu da sua terra. Mais tarde, pela mesma fé, o patriarca se dispôs a oferecer Isaque sobre o altar.
Isaque creu e abençoou Jacó.
Jacó creu e abençoou seus filhos e adorou a Deus.
Moisés creu e renunciou aos tesouros e à glória do Egito.
Os israelitas creram e andaram em volta de Jericó durante sete dias. 
Raabe creu e acolheu os espias.
Vemos, portanto, que a fé sempre está relacionada a outras virtudes e, sobretudo, à ação. É importante orar, desde que não nos esqueçamos de agir, quando for o caso. A palavra de Deus não nos ensina uma fé passiva, mas uma crença que produz obediência à vontade do Pai. Isso pode significar, não apenas ganhos, mas também perdas. Ganhar pela fé é fácil. Difícil é renunciar.
O capítulo 11 de Hebreus poderia dizer que Deus fez tudo por causa da fé daqueles personagens, mas o texto fala muito do que eles mesmos fizeram, enfrentando trabalhos árduos e missões difíceis.  Enfim, a ação divina também se fez evidente, resolvendo o que não era possível aos homens.
A galeria dos herois da fé nos mostra uma série de experiências relacionadas a situações difíceis. É uma relação de desafios enfrentados pela fé. Quem teve vida fácil ficou fora da lista.
Muitos daqueles servos de Deus salvaram suas vidas pela fé, mas outros, pela mesma fé, foram martirizados. Isto nos mostra que o resultado principal do nosso relacionamento com Deus não se encontra neste mundo, mas na glória celestial.
Apesar de tudo, o capítulo 11 de Hebreus nos apresenta uma galeria de vencedores, cujo testemunho deve servir de exemplo para nós, de modo que tenhamos fé, atitude e ação em nossa caminhada com Cristo.                                              

            Pr. Anísio Renato de Andrade 

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

O DIA DEPOIS DO FIM




"Porque necessitais de paciência, para que, depois de haverdes feito a vontade de Deus, possais alcançar a promessa" (Heb.10.36).

No Egito, quando Faraó mandou que os meninos judeus fossem mortos, Joquebede e Anrão esconderam Moisés durante 3 meses. Certamente, clamaram ao Senhor por uma saída, mas, ao final desse tempo, nada mudou. As ameaças continuavam reais. O que fazer? Colocaram o filho no rio, com todo cuidado. Não o jogaram. Não desistiram da vida. Seria o fim para Moisés?  Aos olhos humanos, parecia que sim, mas o rio era o caminho do palácio. Pouco tempo depois, o bebê voltou para casa e a mãe passou a receber salário para cuidar dele. Aquele foi um maravilhoso exemplo de restituição.

No tempo de Ester, os judeus foram condenados por motivo fútil, pela vaidade de Hamã. A condenação foi assinada pelo rei Assuero e não podia ser revogada. Portanto, a morte era certa. Parecia o fim, mas, apesar do cenário desolador, Ester buscou ao Senhor e falou com o rei. Um novo decreto foi emitido dando aos judeus o direito de se defenderem. Houve então um grande livramento. O dia de tristeza transformou-se em festa.

Marta e Maria eram amigas de Jesus, mas, quando seu irmão Lázaro adoeceu, o Mestre não foi visitá-lo. Lázaro morreu e Jesus não chegou para o sepultamento. Parecia o fim. É possível que elas tenham ficado decepcionadas com Jesus. Depois de quatro dias, ele chegou, muito atrasado, diriam alguns, mas seu propósito era maior do que todas as expectativas. Lázaro ressuscitou e todos glorificaram a Deus.

O próprio Jesus é o nosso maior exemplo de esperança.  Seus ensinamentos e milagres o colocaram em evidência. Ele poderia ter tido uma carreira de sucesso como rabino ou até mesmo como rei de Israel, mas os fatos tomaram outro rumo.
Jesus foi perseguido, mas não reagiu.
Sendo preso, não fugiu. 
Condenado, não se livrou.
Crucificado, não desceu da cruz.
Enfim, o Mestre morreu.
Aquele parecia o seu fim, mas Jesus ressuscitou, subiu ao céu e, em breve, voltará em glória.

Quando tudo parece acabado, Deus pode nos garantir um recomeço.
Temos necessidades, expectativas, desejos e imaginamos um prazo para as nossas realizações, mas Deus tem o seu tempo e o seu modo. Nem sempre o Senhor age como gostaríamos. Pode ser que nem tudo dê certo agora, mas o evangelho nos anuncia a vida eterna na presença do Pai, onde nada dará errado.  Depois do fim, o milagre é maior. Sempre há esperança para quem crê em Deus.
Quando acabar a pista, estaremos voando.

Pr. Anísio Renato de Andrade. 

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

ABORTO É HOMICÍDIO




Será que um cristão pode praticá-lo ou apoiar sua legalização?
Será que a vida humana só começa no nascimento?
O salmista disse: "Tu és meu Deus desde o ventre da minha mãe" (Salmo 22.10).
De acordo com a lei, nós temos que respeitar até os cadáveres, caso contrário cometemos o crime de vilipêndio. Não haveríamos de respeitar muito mais um feto vivo? O aborto, além de ser pecado, é um ato de extrema crueldade contra um ser indefeso. Trata-se do pior tipo de homicídio que existe, pois é cometido pela própria mãe.
Os abortos realizados pelas sociedades chamadas "civilizadas" não são melhores do que os sacrifícios humanos dos rituais macabros ou do que o infanticídio praticado por algumas tribos selvagens.
Ao que chamamos "feto", a bíblia chama de "criança" (Lc.1.44).
No ventre, a criança já pode ser cheia do Espírito Santo (Lc.1.15). Notamos, portanto, quanto Deus a valoriza.
No ventre, os profetas eram vocacionados para o ministério (Is.49.1; Gal.1.15).
Considero que o aborto é errado em toda e qualquer situação. Se, para salvar a mãe, decide-se matar o feto, continua sendo homicídio, mesmo que por um motivo forte. Matar em legítima defesa é compreensível, mas não deixa de ser assassinato.
Em caso de estupro, é natural que a mãe não queira o filho. Poderá, portanto, conduzi-lo à adoção. Se a mãe não suportar a gravidez e resolver interrompê-la, ainda assim é homicídio, mesmo que o motivo seja compreensível. Se não condenamos à morte o estuprador, deveríamos condenar o filho inocente?
Ainda que o feto não tenha chance de sobreviver, não nos compete tirar a vida que Deus deu. Que ela dure pelo tempo que ele quiser, mesmo que sejam meses, dias ou horas.
O que acontece, na maioria das vezes, é apenas o assassinato em nome do egoísmo. A pessoa mata o filho porque não quer assumir a responsabilidade que ele representa, não quer arcar com as despesas ou deseja encobrir o pecado sexual cometido. Quem tiver essa dificuldade evite a gravidez, por meio de métodos não abortivos, ou evite o sexo.
Vivemos numa sociedade onde cortar uma árvore ou matar um morcego são crimes ambientais. O aborto de um ser humano, porém, está deixando de ser crime em vários países. Este é um exemplo claro da inversão de valores que estamos vivenciando. Todavia, a pretensa legalização do pecado não muda a situação diante de Deus, pois o Tribunal de Cristo não é regido pela legislação humana.
Hoje em dia, muita gente é semelhante ao profeta Jonas, que tinha compaixão de um pé de abóbora, mas não de um ser humano.
Aos que já praticaram o aborto, mas se arrependeram, Deus está pronto a perdoar. O amor de Deus é maior do que o pecado humano. Entretanto, a bondade divina não deve ser usada como álibi para a prática do mal, pois situações desse tipo podem marcar a consciência e a memória por toda a vida.
A ideia ou desejo de abortar não deve sequer ser pronunciada, a não ser que se esteja buscando ajuda para a solução do problema, pois, mesmo que o ato não se concretize, a simples informação causará profundo e grave sentimento de rejeição no filho, caso chegue ao seu conhecimento em qualquer época da sua vida.
Por uma questão de coerência, quem defende o direito dos pais matarem os filhos deveria também defender o direito dos filhos matarem os pais.


Pr. Anísio Renato de Andrade

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

O MINISTÉRIO PROFÉTICO





No jardim do Éden, Deus falava diretamente com Adão e Eva (Gn.2 e 3). O pecado deu início a um processo de afastamento entre o homem e Deus. Ele falou também com Caim, antes e depois da morte de Abel (Gn.4).  (Se Caim estivesse aqui hoje, talvez seria muito valorizado, pois Deus falou com ele).  Dali em diante, a comunicação de Deus com os homens foi se tornando cada vez mais distante, indireta e rara. A humanidade se multiplicou, mas o Senhor falava com poucas pessoas, como Noé, Abraão, Isaque e Jacó. 
Em muitas situações, ao invés de falar com as pessoas, Deus lhes enviava um anjo, como aconteceu com Abraão e Ló: comunicação indireta.
Depois, tornaram-se frequentes as mensagens através de sonhos.  A bíblia não diz que José do Egito ouviu a voz de Deus alguma vez, mas a mensagem lhe chegou através de sonhos (Gn.37). Da mesma forma Deus se comunicou com Abimeleque (Gn.20.6), com Faraó (Gn.41)  e seus servos:  o copeiro e o padeiro (Gn.40).
Nesse contexto da comunicação indireta de Deus com o homem é que surge a necessidade do ministério profético como um porta-voz.  O primeiro profeta “registrado” na bíblia foi Enoque (Jd.14). O segundo foi Abraão (Gn.20.7).  Deus declarou que ele era profeta. Não foi uma auto-proclamação, mas uma vocação divina.
O terceiro profeta declarado pela bíblia é Moisés (Dt.34.10). Nessa época, os profetas eram raros.
A lei de Moisés definiu em detalhes o funcionamento do ministério dos levitas e sacerdotes (Num.3; Num.4; Ex.28), mas não fez o mesmo com o ministério profético. Por isso, dizemos que o profeta é um ministério não regulamentado, “fora do script”.  A lei não determinava sua linhagem, idade,  atividades, roupas ou rituais.  O profeta não dependia de vínculo genealógico, eleição ou direito adquirido. Sua manifestação dependia inteiramente de Deus. Por isso, encontramos até um profeta gentio no antigo testamento: Balaão.
Levitas e sacerdotes estavam em constante atividade em Israel, podendo ser encontrados em determinados lugares e horários. Os profetas eram incertos.  Em determinadas épocas, não havia profeta em atividade.  O profeta era “previsto em lei”, porém imprevisível, pois ninguém sabia quem ele seria, nem quando ou onde apareceria.  Como disse um aluno: o profeta era “uma carta na manga de Deus” para certas situações.  
A respeito dos profetas, Moisés só determinou uma coisa: a sentença de morte para aqueles cujas profecias não se cumprissem (Dt.13.1-5; 18.20). Embora este mandamento não esteja em vigor hoje, temos nele um forte ensinamento sobre a seriedade da profecia.  Não podemos falar em nome de Deus sem que ele nos tenha mandado. Não podemos matar os falsos profetas, mas nada impede que Deus lhes mate.
O profeta existe para o tempo da crise. Nos momentos de maior degradação pecaminosa em Israel, eles se manifestavam. Por isso, sua aparição não era bem vista. Via de regra, o profeta é um sinal de que as coisas não estão bem.  Eles não vinham para elogiar ou agradar, mas para  repreender. Por isso, não eram queridos, amados, honrados, exaltados ou premiados.  Eram temidos (ISm.16.4), rejeitados, desprezados, odiados, perseguidos e mortos (Mt.5.12; 23.29-35). Por esta causa, alguns vocacionados não queriam ser profetas (Jr.1.5-6; Am.7.14).
Quem fica feliz com a chegada do cobrador, do interventor ou do oficial de justiça? Ninguém. Assim também ocorria com a chegada do mensageiro de Deus.  Os profetas do Antigo Testamento tinham a missão de cobrar o cumprimento da lei de Moisés.
Eles incomodavam muita gente. A autoridade que Deus lhes conferia era tanta que repreendiam até os reis. Natã repreendeu Davi. Elias repreendeu Acabe. Muito tempo depois, João Batista repreendeu Herodes.  Se fosse hoje, as pessoas lhes diriam: “Você está me julgando”, mas a palavra do profeta não é julgamento, senão um aviso para que a pessoa não seja condenada por Deus.
Depois da morte de Moisés, o povo de Israel viveu um período de poucas profecias.  Nos dias do sacerdote Eli, a palavra do Senhor era muito rara (ISm.3.1). Então, foi  levantado o profeta Samuel. Naquele tempo começava um movimento chamado “profetismo”.  Surgiram escolas de profetas e esse ministério floresceu em Israel, como sinal de que as coisas não iam bem.
Vieram Natã, Gade, Elias, Eliseu e muitos outros.  Surgiu então, no contexto da monarquia, a figura do profeta profissional, um funcionário da corte que recebia salário para profetizar o que o rei queria ouvir. Por exemplo, os ministros de Estado têm sempre uma palavra otimista em relação à economia, mas os analistas independentes falam a verdade claramente. Assim acontecia no caso dos profetas. Elias, por exemplo, era bem diferente dos profetas de Baal, que viviam para agradar Jezabel.  Assim, enquanto centenas de falsos profetas viviam nos palácios, alguns verdadeiros se escondiam nas cavernas.  Uma exceção interessante foi Daniel: um profeta verdadeiro no palácio. Ele era um político honesto.
Além de falar a mensagem de Deus, alguns profetas escreveram seus oráculos.  Algumas vezes, Deus mandou que escrevessem (Ex.17.14; 34.27; Is.8.1; Jr.30.2; Hab.2.2; Ap.1.11). De outro modo, suas palavras não chegariam a nós. Vemos, portanto, como é importante escrever a mensagem que temos a transmitir, pois nós passaremos, mas ela continuará alcançando vidas. Escrever a profecia era também um ato de ousadia e coragem, pois ficaria muito mais fácil conferir seu cumprimento e até condenar o profeta à morte se a sua palavra fosse mentirosa.
O ministério profético não ficou restrito ao Antigo Testamento.  Depois de um longo período sem profecias, aproximadamente 400 anos, apareceu  o profeta  João Batista. A surpresa foi tão grande que toda a população de Jerusalém queria vê-lo e ouvi-lo (Mt.3).  Embora fosse da família sacerdotal, João Batista assumiu aquele ministério “fora do script”. Sua roupa era feita de pelos de camelo, que nem de longe lembrava o linho das túnicas sagradas (Mc.1.6). Ao invés de comer os pães da proposição, comia gafanhotos e mel silvestre.  Era uma figura chocante, talvez até ofensiva, pois, de acordo com a lei,  o camelo era um animal imundo.  Sua mensagem também não era agradável, pois chamava o povo à confissão de pecados e ao arrependimento.
Depois, veio Jesus, que era também profeta (João 4.44). No Novo Testamento temos ainda: a profetisa Ana (Lc.2.36),  o profeta Ágabo (At.21.10),  alguns anônimos (At.13.1) e, finalmente, João, com a profecia do Apocalipse.
Paulo disse que Deus colocou na igreja: Apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres (Ef.4.11).  Não há razão para supormos que o ministério profético tenha acabado.  Ele continua em nossos dias, trazendo a mensagem de Deus, repreendendo os pecadores e anunciando os propósitos do Senhor.
Profeta não é sinônimo de pregador. Alguém só pode profetizar o que Deus lhe falou. Repetir o que a bíblia diz não é profetizar.  Falar o que eu quero que aconteça na vida de alguém não é profetizar. 
Como dissemos, a comunicação de Deus com o homem tornou-se muito indireta. Por exemplo: Deus falou com o anjo, que falou com Daniel, que escreveu a profecia, que hoje eu leio pra você ouvir.  Que comunicação mais indireta! É válido ouvir a mensagem de Deus assim, mas  precisamos de uma comunhão mais próxima com o Senhor.
O pecado de Adão iniciou um processo de afastamento entre o homem e Deus. A obra de Cristo tem o propósito de nos levar no sentido inverso, aproximando-nos do Pai.  Por isso, Tiago escreveu: “Chegai-vos a Deus e ele se chegará a vós” (Tg.4).
Qual é o caminho? A busca da intimidade com Deus.  Abraão foi chamado profeta porque era amigo de Deus (Is.41.8; Tg.2.23; Gn.18.17).  Contamos nossos segredos a qualquer pessoa? Não, mas apenas aos amigos íntimos. Deus também faz assim (Am.3.7; Sal.25.14).
Precisamos buscar a intimidade com Deus. Jesus disse que os fariseus gostavam de orar nas ruas, praças e sinagogas. Então, ele ensinou os discípulos a orarem onde só Deus pudesse vê-los (Mt.6). Esta é uma forma de buscar intimidade com Deus. Este é o caminho do ministério profético.
O apóstolo João era o discípulo mais próximo de Jesus.  Até no momento da crucificação, lá estava ele. Resultado: recebeu as maiores revelações registradas na bíblia, o Apocalipse.
Busquemos ao Senhor, pois ele quer nos usar como profetas nesta geração.


Pr. Anísio Renato de Andrade.

MARAVILHOSA GRAÇA






O filho pródigo foi embora por direito, mas voltou pela graça.

Graça é benevolência; é a boa vontade de Deus para conosco, sem obrigação de sua parte nem méritos da nossa. É o favor imerecido.
Quando Adão e Eva pecaram, veio o castigo. Entretanto, a graça se manifestou na promessa de um descendente para esmagar o inimigo e quando, num gesto inesperado de carinho, Deus fez roupas de pele para o casal (Gn.3).
Logo depois, o pecado se multiplicou, provocando a ira divina. "Noé, porém, achou graça aos olhos do Senhor" (Gn.6.8).  Esta benevolência se consumou na salvação através da arca.
Antes que Sodoma fosse destruída, o favor divino se revelou na visita dos anjos que retiraram Ló da cidade (Gn.19). 
Pela graça, Israel foi liberto do Egito. Mais tarde, o pecado fez com que fossem levados cativos para a Babilônia, mas a graça se manifestou mais uma vez, quando o remanescente voltou à terra prometida (Ed.9.8).
No Novo Testamento, a graça está personificada no Messias: "A lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo" (João 1.17). "Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça" (Ef.1.7). "Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens" (Tito 2.11).
A morte de Jesus encerrou a dispensação da lei mosaica e iniciou um tempo especial da graça, que pode ser visto como a porta da salvação, aberta até que Jesus volte. Contudo, essa oportunidade é fechada para cada indivíduo no momento de sua morte. 
A salvação não pode ser conquistada pelo homem, mas recebida gratuitamente (Rm.6.23; At.15.11). "Para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus. Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie" (Ef.2.7-9).  A graça dá; a fé recebe. Em todas as citadas manifestações da bondade divina durante a história bíblica, havia possibilidade de rejeição por parte do homem.
A graça não é automática em seus efeitos, pois, se assim fosse, toda a humanidade seria salva. Ela é extensiva a todos os homens (Rm.5.18), mas muitos a rejeitam. É necessário que haja uma resposta humana positiva, recebendo Jesus Cristo como salvador (João 1.11-12; Rom.10.9). Sem isso, a graça torna-se inútil para o indivíduo.
"E nós, cooperando também com ele, vos exortamos a que não recebais a graça de Deus em vão. Porque diz: Ouvi-te em tempo aceitável E socorri-te no dia da salvação; Eis aqui agora o tempo aceitável, eis aqui agora o dia da salvação" (2Co.6.1-2).
Nada há que possamos fazer para comprar ou conquistar uma só bênção. Orações e jejuns são formas de manifestarmos nosso desejo, mas Deus só nos atende pela graça. Não é razoável que alguém se apresente ao Senhor para exigir direitos ou estabelecer condições.
Também não podemos confundir a graça de Deus com aprovação ao pecado. É o que muitos têm feito, supondo que seus erros serão simplesmente desconsiderados. Não é assim. A graça não dispensa o arrependimento, o pedido de perdão e a mudança de vida, mas dispensa pagamentos, penitências, indulgências, compensações e sacrifícios expiatórios, pois a morte de Cristo foi suficiente neste sentido.
Judas, irmão de Tiago, advertiu acerca dos falsos mestres , dizendo:
"Porque se introduziram alguns, que já antes estavam escritos para este mesmo juízo, homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de Deus" (Jd.4).
A graça não significa licença para pecar, mas a disposição divina para receber o pecador arrependido.
A mesma deturpação foi percebida por Paulo, que disse:
"Permaneceremos no pecado, para que a graça abunde? De modo nenhum. Nós, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele"? (Rm.6.1-2).
Ao invés de permanecermos no pecado, devemos permanecer na graça (Gal.5.4), ou seja, permanecer no caminho do Senhor, buscando a santificação e deixando de lado a auto-confiança, sabendo que dependemos de Deus  a cada instante.
"E, despedida a sinagoga, muitos dos judeus e dos prosélitos religiosos seguiram Paulo e Barnabé; os quais, falando-lhes, os exortavam a que permanecessem na graça de Deus" (At.13.43).  Permanecer na graça é como ficar na arca até que o dilúvio termine. Quem não permanece na graça cai no juízo.
Queremos tantas coisas do Senhor, mas precisamos reconhecer que a sua graça é suficiente, pois sem ela estaríamos destruídos. Além disso, o que vier é lucro.
"E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza" (2Co.12.9).
"A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com todos vós. Amém" (Ap.22.21).


Pr. Anísio Renato de Andrade

sexta-feira, 24 de julho de 2015

O ESPIRITISMO À LUZ DA BÍBLIA





A invenção do termo, da doutrina e da religião espírita são creditados a Allan Kardec, um francês que viveu entre os anos de 1804 e 1869. A essência do espiritismo é a suposta comunicação com os mortos. Sabendo, porém, que a bíblia já trata do assunto há milhares de anos, compreendemos que o francês não trouxe nenhuma novidade. No jardim do Éden ocorreu o primeiro caso de mediunidade, quando Satanás falou pela boca da serpente. Mais tarde, Moisés escreveu assim a respeito do tema:

"Quando entrares na terra que o Senhor teu Deus te der, não aprenderás a fazer conforme as abominações daquelas nações. Entre ti não se achará quem faça passar pelo fogo a seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro; Nem encantador, nem quem consulte a um espírito adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os mortos; Pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao Senhor; e por estas abominações o Senhor teu Deus os lança fora de diante de ti" (Dt.18.9-12).

A consulta aos mortos é, portanto, uma abominação que a bíblia proíbe e condena.

"Quando, pois, vos disserem: Consultai os que têm espíritos familiares e os adivinhos, que chilreiam e murmuram: Porventura não consultará o povo a seu Deus? A favor dos vivos consultar-se-á aos mortos"? (Is.8.19).

Os espíritas citam a bíblia quando lhes convém, tentando conseguir, na autoridade das Escrituras, algum respaldo para suas crenças. Contudo, usam apenas alguns textos isolados.

Gostam muito de lembrar a consulta do rei Saul à feiticeira de Endor (1Sm.28), afirmando que esse relato comprova e autoriza as sessões espíritas. Em primeiro lugar, é bom dizer que a já citada lei de Deuteronômio 18 estava em vigor na época do rei Saul. Portanto, o rei e a necromante estavam transgredindo a vontade de Deus. O texto se refere ao espírito ali presente como "Samuel". Seria o profeta? Temos várias razões para acreditar que não. Tendo Deus rejeitado Saul, de modo que não lhe falava mais pelos profetas nem por outro meio (1Sm.28.6), o Senhor não permitiria que o falecido profeta Samuel se manifestasse naquela sessão proibida.

O texto cita o nome de Samuel a partir da opinião de Saul. No início da manifestação, a mulher disse: "Vejo deuses que sobem da terra" (1Sm.28.13).  Depois, Saul "entendeu" que era Samuel (v.14). Se eram "deuses", como poderia ser Samuel? Se subiam, vinham do abismo e não do céu.  Além de qualquer tentativa de se justificar aquela sessão espírita, está a reprovação bíblica, colocando aquela consulta entre os motivos de condenação de Saul:

"Assim morreu Saul por causa da transgressão que cometeu contra o Senhor, por causa da palavra do Senhor, a qual não havia guardado; e também porque buscou a adivinhadora para a consultar" (1Crônicas 10.13).

A feiticeira era também chamada "pitonisa", palavra relacionada à serpente Píton. Coisa boa não devia ser.

Se a bíblia proíbe a consulta aos mortos, dizem os espíritas, é porque ela funciona. Digo que, se a bíblia proíbe, não devemos fazer.  Os mortos não respondem, mas sim os demônios. Muitas pessoas, que eram possuídas por espíritos, supostamente humanos, foram libertas nas igrejas evangélicas quando seus guias foram expulsos de seus corpos. Nas sessões espíritas e centros de macumba, eles se manifestam imitando a voz, a letra e mencionando fatos a respeito de pessoas falecidas, com o propósito de enganar a muitos que buscam conforto pela perda de seus entes queridos.

Um dos pilares do espiritismo é a doutrina da reencarnação. Há quem tente conciliar tal ensinamento com o evangelho, mas isto não é possível. Como está escrito: "Aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo" (Heb.9.27). As eventuais ressurreições citadas na bíblia são exceções à regra, bem como os casos de personagens que nunca morreram, como Enoque e Elias.  A doutrina da reencarnação, entretanto, é apresentada como regra pelos espíritas. Isto seria a negação absoluta do texto bíblico.

Por outro lado, se a reencarnação é o meio de purificação dos pecados, Jesus Cristo não precisaria ter vindo ao mundo morrer para nos salvar. Portanto, espiritismo e cristianismo são incompatíveis.

Se o sofrimento da vida presente é uma forma de pagar pelos pecados das supostas vidas passadas, os espíritas não deveriam fazer caridade, pois estão impedindo que as pessoas paguem pelos seus erros.

Afirmar que a condição de um aleijado de nascença  é consequência dos seus pecados é uma grave acusação sem provas, favorável à discriminação e ao preconceito.

Os espíritas acreditam em Jesus como um espírito evoluído e iluminado. Então, devem admitir que ele, quando curou as pessoas, agiu contra o suposto processo purificador das reencarnações e dos sofrimentos em suas vidas.

Se, de fato, os sofrimentos da vida presente são consequências dos pecados em vidas passadas, por que sofrem os animais? Eles também reencarnam? Neste ponto, os espíritas se dividem em suas opiniões.

Talvez o texto bíblico mais apreciado pelos espíritas seja aquele que cita as palavras de Jesus sobre João Batista, dizendo que ele é "o Elias que havia de vir" (Mt.11.14).

O próprio João Batista afirmou que ele não era Elias (João 1.21).  Evidentemente, Jesus não mentiu nem se enganou. Quando João é chamado de Elias, trata-se de uma forma figurada de se afirmar a semelhança entre os ministérios de ambos.  Vejamos o que o anjo disse ao pai de João Batista:

"E irá adiante dele no espírito e virtude de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos" (Lc.1.17).

Ademais, Elias não morreu, mas subiu ao céu vivo, no meio de um redemoinho (2Rs.2). Logo, de acordo com a doutrina da reencarnação, não poderia reencarnar, pois não desencarnou.

O uso figurado de nomes não nos deve fazer confundir as pessoas. Por exemplo, o fato de Jesus ter chamado Pedro de Satanás e Judas Iscariotes de Diabo nunca fez ninguém concluir que os discípulos eram duas versões do capiroto (Mt.16.23; João 6.70).

Paulo se referiu a Jesus como o "último Adão" (1Co.15.45). Isto significa que Jesus era reencarnação de Adão? Os espíritas negam isso, mas, paradoxalmente, continuam afirmando  que João era reencarnação de Elias.  O lendário Inri Cristo defende a tese de que Jesus seria Adão. Pelo jeito, ele entendeu e assimilou bem a doutrina espírita.

Se João Batista era Elias, quem deveria ter aparecido no monte das transfigurações era João, mas o Elias "original" apareceu lá (Mt.17).

A doutrina da reencarnação envolve uma série de contradições. Por exemplo, se os mortos reencarnam, como continuam baixando nos centros?

Os espíritas dizem que, em suas sessões, manifestam-se espíritos mais evoluídos para doutrinarem os atrasados. Se isso é verdade, porque eles não realizam essas aulas diretamente lá no mundo espiritual? Jesus nunca doutrinou demônios, mas expulsou todos eles. Assim fazemos nós também.

O racismo é característica intrínseca do espiritismo kardecista. Allan Kardec escreveu que os negros precisam reencarnar em corpos melhores.

Reproduzo aqui suas palavras:

"Os negros, pois, como organização física, serão sempre os mesmos; como Espíritos, sem dúvida, são uma raça inferior, quer dizer, primitiva; são verdadeiras crianças às quais pode-se ensinar muito pouco; mas, por cuidados inteligentes, pode-se sempre modificar certos hábitos, certas tendências, e já é um progresso que levarão numa outra existência, e que lhes permitirá, mais tarde, tomar um envoltório em melhores condições."
(Envoltório = corpo)
(Allan Kardec - Revista Espírita, abril de 1862)

"O progresso não foi, pois, uniforme em toda a espécie humana; as raças mais inteligentes naturalmente progrediram mais que as outras, sem contar que os Espíritos, recentemente nascidos na vida espiritual, vindo a se encarnar sobre a Terra desde que chegaram em primeiro lugar, tornam mais sensíveis a diferença do progresso. Com efeito, seria impossível atribuir a mesma antiguidade de criação aos selvagens que mal se distinguem dos macacos, que aos chineses, e ainda menos aos europeus civilizados"
(Allan Kardec, A Gênese, pág. 187)."

"Em relação à sexta questão, dir-se-á, sem dúvida, que o Hotentote é de uma raça inferior; então, perguntaremos se o Hotentote é um homem ou não. Se é um homem, por que Deus o fez, e à sua raça, deserdado dos privilégios concedidos à raça caucásica? Se não é um homem, porque procurar fazê-lo cristão?"
(Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, cap. V, p. 127).

"O negro pode ser belo para o negro, como um gato é belo para um gato; mas não é belo no sentido absoluto, porque os seus traços grosseiros, seus lábios espessos acusam a materialidade dos instintos; podem bem exprimir as paixões violentas, mas não saberiam se prestar às nuanças delicadas dos sentimentos e às modulações de um espírito fino.
Eis porque podemos, sem fatuidade, eu creio, nos dizer mais belos do que os negros e os Hotentotes; mas talvez também seremos, para as gerações futuras, o que os Hotentotes são em relação a nós; e quem sabe se, quando encontrarem os nossos fósseis, não os tomarão pelos de alguma variedade de animais".
(Allan Kardec, Teoria da Beleza, in Obras Póstumas, p.131)

"A raça negra é perfectível? Segundo algumas pessoas, essa questão está julgada e resolvida negativamente. Se assim é, e se essa raça está votada por Deus a uma eterna inferioridade, a consequência é que é inútil se preocupar com ela, e que é preciso se limitar a fazer do negro uma espécie de animal doméstico adestrado para a cultura do açúcar e do algodão ".
(Allan Kardec - Revista Espírita, abril de 1862)

Uma pessoa pode passar a vida inteira dentro de um centro espírita e nunca ouvir falar sobre estes textos que estão nos livros de Kardec e na Internet à disposição de todos.

O racismo kardecista fez surgir a umbanda pois, nas sessões espíritas dos brancos, não se manifestavam os espíritos dos "ancestrais" negros.  

O espiritismo tem enganado a muitos com seus atos de caridade. Contudo, sua essência é demoníaca.

Somos contra a doutrina espírita, mas não contra os seus adeptos que, como nós, são amados por Deus e precisam de Cristo para serem salvos.

Pr. Anísio Renato de Andrade

QUEM É JESUS E QUEM SOU EU?





Quando alguém bate à porta, a pergunta que normalmente se faz é esta: "Quem é"?  O mesmo acontece nos contatos telefônicos etc. A identificação é muito importante porque está relacionada ao caráter e à expectativa que se pode ter. O que a pessoa fala, faz, possui ou oferece é secundário. Precisamos saber quem ela é.

Vemos esse tipo de cuidado na bíblia:  "Quando eu for aos filhos de Israel, e lhes disser: O Deus de vossos pais me enviou a vós; e eles me disserem: Qual é o seu nome? Que lhes direi?  ...Assim dirás aos filhos de Israel: Eu Sou me enviou a vós... O Senhor, Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó, me enviou a vós" (Ex.3.13-15).

A preocupação de Moisés era pertinente. Não podemos ter uma ideia vaga ou indefinida sobre Deus. Não servimos a um "deus" qualquer, mas ao único criador de todas as coisas.

Quando Jesus se manifestou, seus milagres chamaram a atenção de muita gente e a pergunta inevitável era: "Quem é este"?

"E sentiram um grande temor, e diziam uns aos outros: Mas quem é este, que até o vento e o mar lhe obedecem"? (Mc.4.41).

O ápice do questionamento encontra-se no evangelho de Mateus:

"E, chegando Jesus às partes de Cesaréia de Filipe, interrogou os seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens ser o Filho do homem? E eles disseram: Uns, João o Batista; outros, Elias; e outros, Jeremias, ou um dos profetas. Disse-lhes ele: E vós, quem dizeis que eu sou? E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. E Jesus, respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus" (Mt.16:13-17).

Depois de um tempo caminhando com os discípulos, o Mestre pede um feedback, como se dissesse: "Vamos ver qual é o resultado do discipulado até este ponto".  Não basta ser abençoado e aprender boas lições para a vida. Precisamos saber quem é Jesus e tomar uma posição a respeito dele.

Havia muitas opiniões sobre a identidade de Jesus. Apesar de erradas, eram suposições positivas. Seu caráter e suas obras ligavam sua figura aos grandes profetas de Deus.
Se fizermos uma pesquisa de opinião pública sobre nós mesmos, qual será o resultado? As respostas serão reflexos do nosso testemunho, bom ou mau.

Alguns diziam que Jesus era um dos profetas que ressuscitou (Lc.9.18-19).  Temos nessa afirmação um exemplo de fé sem conhecimento espiritual. Eles conheciam as Escrituras e os profetas, mas não sabiam quem era Jesus. Algumas pessoas naquele tempo já acreditavam em ressurreição! Isto era muito avançado para a época. Contudo, de nada adiantam doutrinas corretas sem o conhecimento da pessoa de Jesus.

Elias, Jeremias e João Batista foram lembrados, mas nenhum deles alcançava a grandeza de Cristo. Assim também, de nada adiantará a veneração a tantos personagens da história, pois só Jesus é o salvador.  Nenhum dos profetas antigos ressuscitou, mas Jesus ressuscitaria em breve.

Depois de tomar conhecimento acerca da opinião popular, Jesus perguntou: "E vós, quem dizeis que eu sou"? Não nos basta o senso comum. Cada um de nós precisa posicionar-se sobre Jesus. As opiniões sobre ele continuam variadas e geralmente equivocadas ou incompletas. Seria ele um filósofo, revolucionário, um mestre ou espírito iluminado?

Pedro disse: "Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo".  Este reconhecimento é a porta da salvação.  Como disse João: "Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome" (Jo.20.31).

Então, Jesus disse: "Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus". Aqui está a fronteira entre o conhecimento natural e o espiritual. Podemos evangelizar, e devemos fazê-lo, mas a consciência sobre a identidade de Cristo vem de uma revelação de Deus.  Por isso, os debates com ateus são sempre infrutíferos. A pregação, contudo, não é a exposição de um tratado teológico, mas uma semeadura. A semente lançada, mesmo caindo em boa terra, ainda depende de Deus para germinar.

Depois do "eu sou" vem o "tu és". Jesus disse: "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja" (Mt.16.18).  Temos uma brusca mudança de foco no episódio. O assunto muda da "identidade de Jesus" para a "identidade de Pedro". O discípulo, depois de reconhecer o Mestre, é levado a olhar para si mesmo em busca do auto-conhecimento.

O encontro com Jesus sempre nos leva a olhar para nós mesmos. Só diante da luz podemos nos enxergar. Diante do evangelho reconhecemos nossa condição de pecadores.  Mas, além de tudo isso, o encontro com Jesus é transformador. Simão Barjonas torna-se Pedro. Este foi o nome que Jesus lhe deu, conforme Lucas 6.14.  O Mestre mudou o nome de Simão, mas não foi só isso. Transformou também seu caráter, seu rumo e sua história. 

Novamente, Jesus altera o tema da conversa ao dizer: "Sobre esta pedra edificarei a minha igreja" (Mt.16.18). O propósito divino para os séculos seguintes estava colocado diante dos apóstolos. Foi assim que a igreja começou: encontro com Jesus, reconhecimento, fé e transformação. O povo de Deus é constituído por pessoas transformadas por Jesus. Contra elas, as portas do inferno não prevalecerão.

Pr. Anísio Renato de Andrade


quinta-feira, 23 de julho de 2015

O VOTO NA BÍBLIA



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O VOTO NA BÍBLIA

Embora a palavra apareça nas Escrituras no sentido de eleição ou decisão (At.1.26; 26.10), o significado mais comum do voto é o de uma promessa solene.  Hoje em dia, costuma-se falar em "propósito", talvez com o mesmo sentido, mas isto só é verdade se a pessoa faz uma promessa a Deus em oração, dizendo: "Farei tal coisa" ou "prometo tal coisa".  Propósito sem oração não tem valor espiritual.

O objeto da promessa é livre, mas não vale prometer o inexequível,  o que não me pertence ou o que foi proibido. Não adianta dizer: "Prometo que darei o carro da minha mãe como oferta" ou "Prometo que nunca vou matar ninguém". Isso não é mais do que a minha obrigação. Por exemplo, dinheiro de prostituição não deve ser apresentado diante do Senhor sob qualquer pretexto (Dt.23.18).

O primeiro exemplo de voto está em Gênesis 28.20-22: "E Jacó fez um voto, dizendo: Se Deus for comigo, e me guardar nesta viagem que faço, e me der pão para comer, e vestes para vestir; e eu em paz tornar à casa de meu pai, o Senhor me será por Deus; E esta pedra que tenho posto por coluna será casa de Deus; e de tudo quanto me deres, certamente te darei o dízimo".

A hora do aperto muitas vezes se transforma na hora do voto (1Sm.1.11,21). Depois, o próprio Deus mencionou o voto de Jacó em Gn.31.13, ou seja, o Senhor estava atento e, obviamente, não se esqueceu da promessa. O pedido de Jacó era coerente com o propósito de Deus. Por isso foi atendido. É provável que todas aquelas bênçãos viriam sem o voto, pois o Senhor já tinha propósitos na vida de Jacó e as promessas feitas a Abraão não seriam anuladas.

Mais tarde, os votos foram regulamentados pela lei de Moisés, mostrando o que seria ou não aceito e como fazer (Lv.7.16; 22.21-23; 27.2-8; Num.15.3,8; 21.2). Normalmente, os israelitas prometiam o sacrifício de um animal como oferta ao Senhor. Um caso excepcional foi o de Jefté, que prometeu sacrificar o que saísse de sua casa quando ele voltasse da guerra. Saiu a filha e foi sacrificada. Foi um voto absurdo, feito numa época em que muitos absurdos aconteceram em Israel por falta de uma liderança nacional definida (Jz.11.30-39).  Quando se reconhece que o voto está errado, o melhor a se fazer é o seu cancelamento mediante oração, com o devido pedido de perdão. Será que a vitória de Jefté dependia daquele voto? Creio que não, pois Deus tinha um compromisso com a nação de Israel, independente do voto. Outros juízes foram vitoriosos sem que tenham feito qualquer promessa.

O cancelamento de voto é previsto nas Escrituras. Se uma mulher fizesse uma promessa ao Senhor e isso chegasse ao conhecimento do pai ou do marido e ele não estivesse de acordo, o voto seria declarado nulo diante de Deus (Num.30.1-14).

Um tipo especial de voto era do nazireado, no qual os pais consagravam os filhos (Jz.13.5) ou a própria pessoa se consagrava ao Senhor durante um tempo ou definitivamente (Num.6.1-21). O nazireu tinha obrigações definidas na lei de Moisés: não poderia tomar bebidas fortes, nem consumir uvas e seus derivados, nem cortar os cabelos nem tocar em cadáveres. Em "compensação", tinham uma unção sobrenatural. Esse tipo de voto era um "pacote" de obrigações pré-definidas. Nos casos de Sansão  e João Batista, o nazireado foi determinado pelo próprio Deus (Jz.13.5; Lc.1.15). Aqueles homens precisavam ser especialmente consagrados porque suas missões eram especiais.

O voto não deve ser feito como uma tentativa de troca ou negócio com Deus, mas como forma de dedicação especial, súplica em face da necessidade urgente ou demonstração de gratidão. Certamente, a intenção do coração será o mais importante, pois Deus não precisa de nada que possamos oferecer. Não devemos pensar que possamos convencê-lo a fazer ou dar-nos algo pelo fato de lhe prometermos uma oferta. Não é possível subornar Deus. Contudo, um coração contrito ou grato é o que toca o coração do Pai (Salmo 51.17). 

Alguns votos estão relacionados a bênçãos ou unções especiais. Contudo, é melhor deixar que Deus escolha a bênção, caso ela venha a acontecer, pois ele é soberano e não se obriga pelas nossas ações.  Sansão vivia sob o voto do nazireado. Contudo, sua força foi uma característica determinada por Deus e não por ele mesmo. 

Não devemos usar o voto como ferramenta da nossa própria cobiça para obter coisas materiais. O voto de Jacó envolvia coisas materiais, mas ele se encontrava em grande aperto e necessidade. Não foi para alcançar coisas supérfluas que atendessem à sua vaidade pessoal.

O jejum é um tipo de voto, desde que tenha sido iniciado com uma oração envolvendo uma promessa de abstinência durante determinado tempo.

Uma questão muito importante a ser destacada é a seriedade do voto, como está escrito:

"Quando um homem fizer voto ao Senhor, ou fizer juramento, ligando a sua alma com obrigação, não violará a sua palavra: segundo tudo o que saiu da sua boca, fará" (Num.30.2).

"Quando fizeres algum voto ao Senhor teu Deus, não tardarás em cumpri-lo; porque o Senhor teu Deus certamente o requererá de ti, e em ti haverá pecado" (Dt.23.21).

"Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos; o que votares, paga-o. Melhor é que não votes do que votares e não cumprires. Não consintas que a tua boca faça pecar a tua carne, nem digas diante do anjo que foi erro; por que razão se iraria Deus contra a tua voz, e destruiria a obra das tuas mãos? Porque, como na multidão dos sonhos há vaidades, assim também nas muitas palavras; mas tu teme a Deus." (Ec.5.4-7).

"Laço é para o homem apropriar-se do que é santo, e só refletir depois de feitos os votos" (Pv.20.25).

Não podemos fazer voto de tolo. Se é importante que um homem cumpra a sua palavra diante de outro homem, quanto mais diante de Deus? Ninguém é obrigado a fazer um voto, mas, uma vez que foi feito, deve ser cumprido, guardadas as exceções já mencionadas. O não cumprimento configura pecado de mentira contra Deus e pode trazer consequências ruins.

Devemos evitar a banalização do voto. É melhor que não seja feito. Um voto é um compromisso extraordinário com Deus. Quebrá-lo é um pecado grave, embora não seja imperdoável.

Devemos tomar cuidado com votos feitos por ordem de qualquer pessoa. Se você fizer o voto, deverá cumpri-lo. Portanto, pense bem, antes de se comprometer. Não levante a mão levianamente prometendo ofertas ou jejuns que não estão ao seu alcance. Não prometa valores que você não tem, a não ser que você diga claramente que o cumprimento está condicionado à aquisição dos recursos. Nenhum líder deve conduzir seus liderados a fazerem promessas ao Senhor. Se alguma sugestão for feita neste sentido, também devem ser anunciados os riscos e a seriedade do voto.

Ninguém deve ser obrigado a fazer votos.  Não sejamos irresponsáveis com coisas tão sérias.

Nunca use um voto como forma de compensação por um pecado. Nada substitui uma vida de obediência a Deus. Ele não quer jejum ou ofertas de ímpios ou de crentes rebeldes. 

Muitos dos textos aqui citados estão no Antigo Testamento, mas os votos aparecem também no Novo Testamento (At.18.18; 21.23). Certamente, muita coisa mudou na Nova Aliança, exceto a seriedade da nossa relação com Deus.  Hoje, não vamos prometer animais para o sacrifício nem faremos votos de nazireus. Contudo, podemos fazer promessas ao Senhor, se assim desejarmos, com responsabilidade e bom senso. Se prometemos, devemos cumprir. Afinal, não queremos também que ele cumpra suas promessas em nossas vidas?

Pr. Anísio Renato de Andrade



quinta-feira, 9 de julho de 2015

OS PREGADORES SÃO OS PROFETAS ATUAIS?




Há algumas décadas, os cristãos se dividiam entre os que criam e os que negavam a existência de profetas na igreja. Agora, temos a terceira via, afirmando que os pregadores são os profetas da atualidade. Pronto, chegou-se a um ponto de equilíbrio antibíblico.
O que a bíblia diz?
"E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres" (Ef.4.11). São "outros" e não "os mesmos".
Pastor é pastor, profeta é profeta. Uma pessoa pode até ter os dois ministérios e profetizar enquanto prega, mas isso é raro. Profetizar é dizer o que Deus falou diretamente ao profeta e não apenas repetir o que a bíblia disse. Falar o que eu quero que aconteça na vida de alguém não é profetizar. Ficar dizendo "eu profetizo isso e aquilo na sua vida" é uma ótima forma de tornar-se um falso profeta.
Profetizar é dizer o que Deus mandou que fosse dito. Não vale repetir o que o pregador diz. Precisamos é orar mais e buscar os dons espirituais que Paulo listou na primeira carta aos coríntios.
A bíblia não diz "profetizai sem cessar", mas sim "orai sem cessar". Devemos orar pelos irmãos e não ficar "profetizando isso e aquilo na vida deles". Só os profetas podem profetizar. Um texto que tem sido usado para justificar a prática é a visão do vale de ossos secos, onde o Senhor disse: "Profetiza sobre estes ossos" (Ez.37.4). Ezequiel profetizou porque Deus mandou. Se você ouve Deus diretamente, e ele te manda profetizar, vai em frente. Ezequiel profetizou, mas os israelitas não estavam autorizados a saírem profetizando uns para os outros conforme seus próprios desejos ou mesmo repetindo profecias alheias. A coisa era muito séria, porque a profecia que não se cumprisse significava pena de morte para o indivíduo.
"O profeta que tiver a presunção de falar alguma palavra em meu nome, que eu não lhe tenha mandado falar, ou o que falar em nome de outros deuses, esse profeta morrerá" (Dt.18.20).
O que acontece é que ultimamente tem sido dado um sentido diferente à palavra "profetizar", mas esse sentido não é bíblico.
Por exemplo, se perguntarem se você pode "abençoar um irmão", talvez você pensará que ele está precisando de uma ajuda financeira, não é mesmo? Este é um exemplo de como pegamos as palavras bíblicas e deturpamos o seu significado. Precisamos voltar à bíblia. Se alguém se considera profeta, profetize. Se a profecia se cumprir, é de Deus, mas profetizar simplesmente o que queremos que aconteça não é certo e não é bíblico.
Se todos puderem profetizar à vontade o que bem entenderem, quem vai cumprir essas profecias? Deus? Isso o colocaria como refém do homem. De fato, Deus só se compromete a fazer aquilo que ele mesmo falou. Aqui está o limite do propagado poder das palavras humanas.
A verdadeira profecia é sobrenatural, pode desvendar coisas ocultas que o profeta não seria capaz de descobrir, podendo também trazer previsões que vão se cumprir, a não ser, por exemplo, que o arrependimento desvie o castigo (como ocorreu no caso de Nínive). As profecias bíblicas eram quase sempre pesadas. Eram até chamadas de "peso do Senhor" (Mal.1.1). Envolviam repreensões contra o pecado, avisos de juízo e promessas de bênçãos para os arrependidos. Não é uma lista de coisas boas que uma pessoa deseja pra outra ou para si mesma. O aspecto pesado das profecias fazia com que os profetas fossem odiados geralmente. Os profetas bem quistos eram os falsos.
O mesmo vale para os atos proféticos, os quais têm mais a ver com o Antigo Testamento. Só podem ser feitos por profetas e por ordem de Deus. Se não for assim, será apenas uma simpatia (ou antipatia mesmo).

Pr. Anísio Renato de Andrade

quinta-feira, 2 de julho de 2015

A NOIVA, O SERVO, O FILHO E O SOLDADO






A bíblia nos fala de tantas maneiras diferentes, que podem parecer contraditórias. Somos a noiva de Cristo, servos de Deus, seus filhos ou soldados? Somos tudo isso. Uma visão voltada exclusivamente para uma dessas facetas pode causar distorção no entendimento e na prática cristã. Todos esses termos referem-se à realidade espiritual, mas, em primeira análise, devem ser considerados como metáforas plenamente conciliáveis no que tange às lições transmitidas. Pensando assim, não perguntaremos como Jesus pode ser, ao mesmo tempo, o pastor e a porta das ovelhas, o cordeiro de Deus e o leão de Judá (João 10.7,11; Ap.5.5).

Jesus contou muitas parábolas relacionadas ao reino de Deus, como se vê, por exemplo, nos capítulos 13 e 25 do evangelho de Mateus. Por que tantas? Não seria repetitivo?  O que ocorre é que nenhuma parábola é suficiente para expressar toda a realidade espiritual. Então, o Mestre contou diversas. Cada uma demonstra diferentes aspectos, conceitos e valores do reino. 

Em Mateus 25, Jesus começou falando sobre 10 virgens que esperavam o noivo, mas, desejando mostrar o outro lado da questão, ele falou, na sequência, sobre 3 servos que esperavam o seu senhor (Mt.25.14-30). Jesus deseja que tenhamos uma visão cada vez mais ampla sobre a sua pessoa, sobre o Pai, o reino de Deus, a segunda vinda e sobre nós mesmos, nossa posição e responsabilidades.

"Regozijemo-nos, e alegremo-nos, e demos-lhe glória; porque vindas são as bodas do Cordeiro, e já a sua noiva se aprontou" (Ap.19.7).

A igreja é a noiva de Cristo. Esta figura nos lembra o amor, o compromisso, a festa de casamento e a intimidade. O noivo não é ausente ou distante. Não é uma pessoa estranha ou indiferente. Cristo se importa conosco e nos ama profundamente. O amor é a base de tudo, mas não é o fim. Existe muito mais na nossa relação com Deus.

"Mas agora, libertados do pecado, e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna" (Rm.6.22).

Na parábola dos talentos, somos representados pelos servos (Mt.25.14-30). É outra perspectiva que o cristão precisa ter acerca de si mesmo. Agora, não se fala em festa, mas em recursos, responsabilidade, trabalho e prestação de contas. Precisamos servir ao Senhor de acordo com os dons que ele nos confiou. Contudo, não podemos ter apenas essa visão, transformando a vida cristã em ativismo mecânico ou meramente profissional. Precisamos servir por amor, ainda que haja uma recompensa.

"Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus" (João 1.12).

Quando nos trata como filhos, a palavra nos lembra vínculo, natureza e herança. Contudo, não podemos nos esquecer da nossa participação no exército de Deus. Somos soldados. Isso nos lembra disciplina, treinamento, armamento, inimigos, lutas, guerras e vitórias.

"Sofre, pois, comigo, as aflições, como bom soldado de Jesus Cristo" (2Tm.2.3).

A percepção parcial da identidade cristã pode criar expectativas indevidas. Como filhos, esperamos benefícios, provisão, carinho e proteção. Não está errado, mas o que faremos quando Deus permitir dificuldades em nossas vidas?  Quem não tem luta é soldado morto.

"Amados, não estranheis a ardente prova que vem sobre vós para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse" (IPd.4.12).
 
Portanto, a vida espiritual assemelha-se muito à vida natural quanto à diversidade de papéis e situações. Queremos bênção sem compromisso? Vitória sem luta? Canaã sem deserto? Festa sem trabalho?

Devemos confiar em Deus e aceitar o que ele tem para nós, certos de que, "todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus (Rm.8.28). 

Pr. Anísio Renato de Andrade