sexta-feira, 29 de maio de 2015

A ESCOLHA DE UM NOVO REI




"Disse o Senhor a Samuel (...) Enche um chifre de azeite e vem. Enviar-te-ei a Jessé, o belemita; porque dentre os seus filhos me tenho provido de um rei. Porém disse Samuel: Como irei eu? pois, ouvindo-o Saul, me matará. Então disse o Senhor: Toma uma bezerra das vacas em tuas mãos, e dize: Vim para sacrificar ao Senhor (...) E sucedeu que, entrando eles, viu a Eliabe, e disse: Certamente está perante o Senhor o seu ungido. Porém o Senhor disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a grandeza da sua estatura, porque o tenho rejeitado; porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração (...)
Assim fez passar Jessé a seus sete filhos diante de Samuel; porém Samuel disse a Jessé: O Senhor não tem escolhido a estes. Disse mais Samuel a Jessé: Acabaram-se os moços? E disse: Ainda falta o menor, que está apascentando as ovelhas. Disse, pois, Samuel a Jessé: Manda chamá-lo, porquanto não nos assentaremos até que ele venha aqui. Então mandou chamá-lo e fê-lo entrar (e era ruivo e formoso de semblante e de boa presença); e disse o Senhor: Levanta-te e unge-o, porque é este mesmo. Então Samuel tomou o chifre do azeite, e ungiu-o no meio de seus irmãos; e desde aquele dia em diante o Espírito do Senhor se apoderou de Davi; então Samuel se levantou e voltou a Ramá". (I Sm.16.1-13).

Em princípio, o estabelecimento de um rei é apenas uma questão política, mas Deus está no controle. Muitas questões naturais são resolvidas no mundo espiritual. Deus estava agindo, embora o povo não estivesse consciente disso. 
O texto nos chama a atenção por vários motivos. Um deles é a maneira de Deus fazer as coisas. Seu jeito é diferente do nosso, mas precisamos confiar nele. O próprio Samuel apresentou seu questionamento, mas acabou obedecendo à ordem recebida.
Deus escolheu o novo rei sem levar em conta a vontade do povo nem o suposto direito do príncipe herdeiro, Jônatas. O Senhor visava o bem de Israel, mesmo que, para isso, interesses particulares fossem contrariados.
O Senhor poderia falar com Davi diretamente ou enviar um anjo, mas enviou Samuel. Via de regra, Deus usa homens na realização dos seus propósitos.
Logo no verso 1, Deus poderia ter dito que o escolhido era Davi, mas não disse. Apenas mandou que o profeta fosse à casa de Jessé.  Queremos saber tudo e com a maior antecedência possível, mas Deus nos dirige passo a passo. Ele vai iluminando o caminho na medida em que caminhamos. O fato de Samuel não saber quem era o escolhido, produziria expectativas, desilusões e lições para a família de Jessé.
Samuel não saiu de casa anunciando que iria ungir o novo rei. Ele também não poderia mentir. Portanto, Deus lhe deu uma estratégia para ocultar seu objetivo. Mandou que ele fizesse um sacrifício, que serviria como resposta a quem o interrogasse sobre o motivo de sua visita a Belém. Não devemos falar demais, anunciando aos quatro ventos todos os nossos propósitos e planos, pois isso pode atrair perseguições desnecessárias. O importante, nesse caso, não é a propaganda, mas a obediência ao que Deus mandou.
O Senhor escolheu Davi para reinar sobre Israel. Isto poderia ser suficiente, mas a unção era necessária e importante.  Haveria dificuldades para Samuel cumprir aquela ordem, mas a unção era imprescindível. Estava em jogo, não apenas um cargo, mas um ministério. Da mesma forma, não nos bastam posições e títulos. A unção é indispensável.
Deus sabia que Davi era o seu escolhido, mas, no tempo certo, todos deveriam saber também.  Um dos aspectos da unção é servir como testemunho público da escolha divina. O primeiro a reconhecer Davi como rei seria o profeta. Em seguida, a família. O ministério de Samuel seria um respaldo inicial para a autoridade de Davi. Ninguém poderia dizer que ele surgiu do nada ou que tenha sido sua a ideia de governar.
Davi não era parente de Saul. Portanto, não fazia parte da família real. Além disso, era o filho mais novo, o menor, o último, o menos indicado para reinar.  As melhores oportunidades pertenciam, por costume, ao filho primogênito, nesse caso Eliabe. Todos os fatores pareciam conspirar contra Davi. Três de seus irmãos eram guerreiros, mas ele era um simples pastor de ovelhas. O próprio Samuel ficou impressionado com o irmão mais velho. Davi foi esquecido por todos, inclusive pelo próprio pai, Jessé.
Quais seriam os requisitos necessários para que alguém se tornasse rei? O povo se impressiona com um líder por sua beleza, estatura e eloquência. A árvore genealógica e a condição financeira também pesam bastante. O que vale, porém, é a determinação divina.
O mundo valoriza aspectos exteriores, mas Deus vê o coração. O que nós valorizamos?  O julgamento pela aparência pode criar ciladas. Talvez estejamos julgando a nós mesmos de acordo com critérios mundanos e nos sentimos diminuídos.  Felizmente, ninguém perguntou a Davi se ele queria ser rei ou se possuía condições para isso. Deus o escolheu e pronto.
Muitas pessoas sofrem por causa do desprezo e da rejeição, mas Deus ama a todos. A busca por aceitação conduz muitos jovens às drogas e ao sexo ilícito. Vale tudo para ser aceito pelo grupo?  Não.
O nome "Davi" significa "amado".  Todos podiam esquecê-lo, mas Deus o amava e  lembrava-se dele.  Ele foi escolhido por Deus, e o profeta mandou chamá-lo. Hoje também, ecoa o chamado de Deus para nós.  Não podemos deixar de atendê-lo.  Davi estava ocupado, cuidando das ovelhas, mas não usou isso como desculpa.
Assim que o jovem entrou na casa, o Senhor ordenou que ele fosse ungido. Samuel trouxe consigo um chifre cheio de azeite.  Não seria apenas um toque, mas uma unção abundante. O azeite foi derramado sobre Davi no meio dos seus irmãos.  A unção do Senhor sobre nós deve mostrar seus efeitos dentro das nossas casas, antes que isso ocorra em outros lugares. É no seio familiar que a unção atua em primeiro lugar, através do nosso testemunho de vida.
Naquele momento, diz a bíblia, o Espírito do Senhor se apoderou de Davi. O azeite é um símbolo do Espírito Santo.  Depois da unção, ninguém poderia segurar aquele moço. No capítulo seguinte, temos a vitória de Davi sobre o gigante Golias. Sabendo que seria rei, Davi estava convicto de que nenhum gigante seria capaz de matá-lo. Nós também temos grandes desafios pela frente e precisamos da unção do Espírito Santo.
Daquele dia em diante, Davi passou por um longo processo de preparação para reinar.  A unção não é um fim em si mesma, mas o princípio de uma caminhada com renovado vigor.
"O Espírito do Senhor está sobre mim; porque o Senhor me ungiu, para pregar boas novas aos mansos; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos" (Isaías 61.1).

            Pr. Anísio Renato de Andrade



quarta-feira, 20 de maio de 2015

QUE TIPO DE SATISFAÇÃO O EVANGELHO NOS GARANTE?





Assim que nascemos, começamos a desejar. Primeiro, o alimento; depois, tudo.
Temos necessidades básicas que precisam ser atendidas, pois disso depende nossa sobrevivência. Depois, vêm as questões relacionadas à realização de sonhos, vontades e caprichos, nem sempre fundamentais.  A tudo isso, a natureza pecaminosa acrescenta a cobiça.
"Se temos o que comer e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes", foi o conselho de Paulo (1Tm.6.8);  mas nós queremos mais, muito mais e sempre mais.  Podemos desejar e conseguir muitas coisas além da comida e da roupa, mas existem limites que devemos respeitar. O problema está no descontrole.
Adão e Eva tinham inúmeras árvores frutíferas à sua disposição, mas queriam mais uma, justamente aquela que Deus proibiu. 
Deus deu o maná para o povo de Israel no deserto, mas eles queriam carne, pepino, cebola, melão, alho e peixe (Num.11.5). Não seria pecado comer essas coisas, mas precisamos entender que o deserto é lugar de renúncia, representando os períodos de provação necessários ao nosso crescimento.
Os desejos podem vir, mas não devem nos dominar. Este é o ponto que separa a espiritualidade da carnalidade. Não podemos ser guiados pelos desejos, que são voláteis e incertos, mas pelo Espírito Santo.  Além do necessário domínio, existem parâmetros para nossas realizações. Nem tudo nos será permitido.  Devemos estar prontos para ouvir o "sim" e o "não", de modo que tenhamos somente o que Deus permitir, quando ele quiser e durante o tempo que ele determinar. 
Em algumas situações, o "não" é definitivo.  No caso dos desejos impróprios, o único caminho  certo é a renúncia. Por exemplo, "não cobiçarás a mulher do teu próximo" (Ex.20.17) e ponto final.  "Andai em Espírito e não satisfareis a concupiscência da carne" (Gal.5.16).  Na busca da satisfação carnal e pecaminosa (Col. 2.23) ocorrem as "obras da carne", listadas pelo apóstolo Paulo em Gálatas 5.19-21.  Este é o caminho daqueles cujo objetivo na vida é apenas a satisfação de seus próprios impulsos.
No caso dos desejos legítimos e naturais, existe o tempo certo para sua realização. Comer frutos verdes não é aconselhável (Jr.31.30). Precisamos esperar a estação própria. 
Muitas vezes, o desejo natural é substituído pela cobiça, crescente e insaciável. A glutonaria é um exemplo disso. Algumas pessoas nunca estão satisfeitas. Por isso, não agradecem nem valorizam o que receberam. Descartam a conquista recente e partem para nova busca.  Dinheiro, sexo, bens e todo tipo de novidade são objetos de um apetite desenfreado.
"Quem amar o dinheiro jamais dele se fartará; e quem amar a abundância nunca se fartará da renda; também isto é vaidade" (Ec.5.10).
"Como o inferno e a perdição nunca se fartam, assim os olhos do homem nunca se satisfazem" (Pv.27.20).
"A sanguessuga tem duas filhas: Dá e Dá. Estas três coisas nunca se fartam; e com a quarta, nunca dizem basta:  A sepultura, a madre estéril, a terra que não se farta de água e o fogo nunca dizem basta" (Pv. 30.15-16).

"Todo trabalho do homem é para a sua boca. Contudo, nunca satisfaz a sua cobiça" (Ec.6.7).

DESEJOS EGOÍSTAS

A correta avaliação dos nossos desejos pode ser uma boa forma de começar a dominá-los.  Nossa tendência é vivermos em função da auto-satisfação. Isso nada mais é do que um modo de vida pautado pelo egoísmo. Tudo que o homem carnal quer é para si mesmo.  A família, porém, torna-se fator de equilíbrio, pois nos ensina a compartilhar.
O texto de Eclesiastes 2 nos mostra quantas coisas o rei Salomão fez apenas para si.  No final, concluiu que tudo era "vaidade e correr atrás do vento" (Ec.2.1-11). 
Jesus disse: "Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me" (Lc.9.23). Portanto, o cristianismo não é um caminho para a satisfação dos nossos desejos egoístas. Negar a si mesmo é a contramão da cobiça.  Jesus nos ensina a olhar para o próximo e não apenas para os nossos próprios interesses.
A busca cega pela satisfação dos desejos pessoais causa repulsa ao sofrimento, mesmo quando ele é necessário. "Tomar a cruz" não satisfaz a carne, mas sim ao espírito.  Sem a cruz, o cristianismo se transformaria em hedonismo, que significa a colocação do prazer como único propósito na vida. Jesus nos ensinou a pedir "o pão nosso de cada dia" (Mt.6.11), mas nos instruiu também, no mesmo capítulo, sobre a abstinência temporária do pão, isto é, o jejum (Mt.6.16-18). Ganho e renúncia fazem parte do evangelho.

DESEJOS ILUSÓRIOS

O filho pródigo vivia na casa do pai, tinha tudo que precisava, mas estava insatisfeito. Talvez tenha ouvido acerca dos atrativos da cidade. Um dia, resolveu cair de cabeça naquele mundo de aventuras.
Quantos estão insatisfeitos na casa do Pai? Cuidado. As tentações atendem exatamente a esse tipo de sentimento.  O filho ficou iludido com a possibilidade de encontrar satisfação longe de casa. Não encontrou.
Ao contrário, na busca por grandes conquistas, sofreu grande perda. Suas realizações foram fúteis e fugazes. Um dia, achando-se no meio dos porcos, sentiu novamente uma grande insatisfação. Lembrou-se da casa do pai e decidiu voltar (Lc.15.11-32).
Não encontraremos felicidade longe dos caminhos do Senhor.  Judas Iscariotes pensou que ficaria satisfeito com 30 moedas de prata.  O resultado foi a decepção, o desespero e o suicídio (Mt.27.3-5).

ONDE ENTRA DEUS NESSA HISTÓRIA? 

Há quem pense que Deus tem a responsabilidade de satisfazer todos os nossos desejos e realizar todos os nossos sonhos. É o que talvez esperam do evangelho, mas estão enganados.  Alguns desejos são pecaminosos e alguns planos são errados.
Será que Jesus veio ao mundo e morreu na cruz para que tivéssemos todos os nossos desejos atendidos?  Ele não é o gênio da lâmpada. 
O que Jesus fazia pelas pessoas durante seu ministério terreno?  Ele acudiu a muitos que estavam em situação desesperadora, curando-os e libertando-os.  Depois, cada um deveria trabalhar para conseguir o que desejasse. Não vemos Jesus distribuindo dinheiro. 
Ele pode fazer tudo, mas não está a nosso serviço.  Certa vez, Jesus multiplicou pães e peixes e alimentou mais de cinco mil pessoas.  No dia seguinte, quando elas voltaram para comer pão de graça, ele lhes disse: "Eu sou o pão vivo que desceu do céu" (João 6).  Em outras palavras, o Mestre estava ensinando que as pessoas deveriam buscá-lo e não ao pão que ele poderia dar.  
Como podemos, então, entender o versículo que diz "Agrada-te do Senhor e ele fará o que deseja o teu coração"? (Salmo 37.4).   Quando você estiver satisfeito com o próprio Deus, então ele dará outras coisas que você deseja (o que não significa que sejam todas). Ele dá até riquezas materiais para alguns dos seus filhos. Só não podemos pensar que este seja o objetivo do evangelho. Deus enriquece e empobrece a quem ele quer (ISm.2.7), conforme seus soberanos desígnios.

DEVEMOS SATISFAZER AO SENHOR

Quando deveríamos nos contentar, queremos mais; quando deveríamos ficar insatisfeitos, pensamos que basta.  Em alguns momentos, Deus mandou ir além, mas paramos.   Se é para nós, queremos mais; Se é para Deus, o pouco já nos parece suficiente.  O nome desse tipo de satisfação é comodismo. É, mais uma vez, o engano da natureza pecaminosa.  (Ag. 1.1-4).
Vivemos concentrados em satisfazer os nossos desejos, mas deveríamos nos preocupar em agradar a Deus em primeiro lugar.  Esta é a atitude essencial do cristão. Somos servos. O servo faz tudo que o seu senhor quer. Depois, se der tempo, faz algo para si mesmo.
A respeito do Messias, o profeta Isaías escreveu: "Ele verá o fruto do trabalho da sua alma e ficará satisfeito" (Is.53.11).  Nosso propósito deve ser este: que Jesus fique satisfeito conosco.
Cristo perguntou a algumas pessoas: “O que queres que eu te faça”? Foi a oportunidade para a solução de muitos problemas (Mc.10.51, etc). Mas nós também precisamos perguntar a Jesus, como fez Saulo de Tarso: “Senhor, que queres que eu faça” (At.9.6).  Assim, assumiremos nossa posição de servos.

TIPOS DE NECESSIDADES

Além das necessidades físicas e psicológicas, temos necessidades espirituais.  Isso fica evidente, por exemplo, no diálogo de Jesus com a mulher samaritana (João 4). Além de bênçãos, precisamos do abençoador.  Precisamos da presença de Deus e da nossa comunhão com ele. Então, estaremos completos e eternamente satisfeitos.
A satisfação natural, material, pode mascarar uma necessidade espiritual grande e urgente. Foi o que aconteceu com Israel no tempo do profeta Amós.  O mesmo observamos no relato sobre o rico e o Lázaro e ainda na carta à igreja de Laodiceia.
A satisfação que o evangelho nos garante pode ser resumida em duas expressões de Cristo: o pão vivo e a água viva (João 6.51; 7.38), representando o próprio Jesus e o Espírito Santo. Recebendo a Cristo como Salvador e sendo cheios do Espírito Santo, teremos abundância do fruto do Espírito que é "amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio" (Gál.5.22).
Costumamos confundir felicidade com a satisfação dos nossos desejos, mas o que Deus nos oferece é muito mais. É a bem-aventurança daqueles que o conhecem e vivem eternamente na sua gloriosa presença.


Pr. Anísio Renato de Andrade

quinta-feira, 14 de maio de 2015

CONSELHOS E CONSEQUÊNCIAS



"Vem, pois, agora, e deixa-me dar-te um conselho, para que salves a tua vida, e a de Salomão teu filho" (1Rs.1.12).

Os reis e outros governantes costumam ter seus conselheiros, e isto desde os tempos mais antigos. É o que vemos na bíblia (Ed.7.14,15,28; ICr.13.1; Is.19.11; Lc.14.31).  Seus equivalentes hoje são os ministros de Estado.  O rei tem o poder, mas ele não é especialista em todas as áreas.  Uma pessoa tem autoridade, mas pode ser que a sabedoria esteja com outra, mesmo porque um príncipe poderia assumir o trono em tenra idade.  Os conselheiros vinham, muitas vezes, do monarca anterior, com toda a experiência administrativa e militar.

Autoridade sem sabedoria pode causar grandes tragédias. Para governar bem,  o rei precisava ser humilde e ouvir outras opiniões, como Faraó ouviu José e fez tudo o que ele sugeriu (Gn.41).
Diz o ditado: "Se conselho fosse bom, ninguém dava, vendia".  De fato, os conselheiros reais eram funcionários bem remunerados.

Via de regra, eram pessoas mais velhas e experientes. A bíblia se refere a eles como sábios e anciãos. A fé no sobrenatural fez com que a lista dos conselheiros de muitos reinos incluísse os magos, adivinhos e profetas.  Diante de um enigma ou desafio, todos eram convocados para uma reunião com o soberano (Gn.41.8; Et.1.13; Dn.2.2; 4.7; 5.7; Mt.2.4).

Se até  os reis precisam de conselhos, quanto mais as pessoas comuns. Até  Salomão tinha seus conselheiros (IRs.12.6).  Ele mesmo escreveu: "Não havendo sábios conselhos, o povo cai, mas na multidão de conselheiros há sabedoria" (Pv.11.14).

Muitas pessoas se julgam totalmente livres, donas do próprio nariz, pensam que podem fazer o que bem entendem. Os reis também podiam, mas, ainda assim, ouviam seus auxiliares.
Contudo, precisamos escolher bem os nossos conselheiros.  Os pais são os primeiros a exercerem essa função.  Aos filhos mais novos, dão ordens; aos mais velhos, orientações.  Da mesma forma, a bíblia começa com leis e depois passa aos conselhos no livro de Provérbios.

Quem são os seus conselheiros?  A palavra de Deus adverte a respeito do "conselho dos ímpios". Feliz é o homem que não se orienta por eles (Salmo 1.1).  O conselho deve ser pedido a pessoas experientes e exemplares, que sejam servos de Deus.  Ainda que resolvamos questões técnicas com especialistas da área desejada, seja o médico, advogado ou psicólogo, os princípios cristãos devem sempre prevalecer. 

Triste foi a experiência de Absalão, filho de Davi.  Quando quis tomar o trono do pai, ele pediu orientação a um conselheiro do palácio, chamado Aitofel. Naquela situação, tudo estava errado: pessoas más, com intenções ruins e conselhos malignos. O resultado foi a morte de Absalão (2Sm.16.20-23). 

A juventude é um período de muitas dúvidas em relação às decisões da vida. O jovem deve  ser humilde e pedir conselhos, mas é bem provável que os colegas da mesma idade não sejam os mais indicados para a tarefa, pois, via de regra, falta-lhes a maturidade e experiência necessária. 
Quando Salomão morreu, seu filho Roboão herdou o trono.  Ao invés de ouvir os conselhos dos anciãos, preferiu a opinião dos seus jovens colegas. Eles lhe sugeriram que tratasse o povo com dureza. O rei fez assim e perdeu 10 tribos de Israel, que seguiram outro líder e formaram outro reino (IRs.12.1-16).

Aconselhe-se com a pessoa certa. A bíblia está repleta de conselhos, mas pode ser que uma situação especial requeira uma resposta específica. Por isto, Deus colocou líderes no lar e na igreja.  Eles existem para ajudar os liderados a encontrarem a direção certa.  Se você é adulto,  pode e deve pedir conselhos, mas a decisão final é sua.  O líder espiritual deve aconselhar, mas não manipular. 
A decisão é sua e a consequência também. Cuidado. Escolher o mal pode ser gostoso e divertido. Depois, você poderá lutar com as consequências pelo resto da vida.  Quantas pessoas estão buscando libertação porque não pediram ou não seguiram preciosos conselhos no tempo certo.
O evangelho tem poder preventivo e corretivo. Todos sabemos que é melhor prevenir. Inclusive, é mais barato.  Prefira usar o evangelho como vacina e não como remédio. 
Seja humilde e pronto para ouvir bons ensinamentos. Um conselho pode salvar a sua vida.

Pr. Anísio Renato de Andrade

RESUMO DA BÍBLIA




"No princípio, Deus criou os céus e a terra" (Gn.1.1). O livro sagrado começa relatando a criação de todas as coisas, exceto do Criador, pois ele não tem início nem fim. O ser humano foi a obra prima de Deus, feito à sua imagem e semelhança, mas logo se corrompeu, dando ouvidos a Satanás e comendo o fruto proibido.
Depois do pecado, Adão e Eva foram expulsos do paraíso, tiveram filhos e filhas, e a humanidade se multiplicou. Aumentou também o pecado e Deus resolveu "lavar o mundo" com as águas do dilúvio. Noé fez uma arca para sua salvação, junto com sua família e muitos casais de animais. Depois da destruição, veio o recomeço. A partir do capítulo 12 de GÊNESIS, a história da humanidade dá lugar à história de Israel, que ocupa todo o restante do Antigo Testamento. Começando com Abraão, Isaque, Jacó e seus doze filhos, o relato nos mostra a origem do povo de Deus, cuja missão seria trazer bênção e salvação para o mundo todo. De Israel viria o Salvador.
(Concordam os eruditos que o livro de JÓ seja de uma época muito antiga, talvez próxima aos fatos narrados em Gênesis).
Por causa da fome, os descendentes de Abraão foram morar no Egito, onde se tornaram escravos. Depois de 430 anos, os israelitas foram libertos por Moisés, que os conduziu na travessia do deserto rumo à terra prometida: Canaã.  Logo após a libertação, Deus lhes deu a lei para regulamentar o culto e a vida diária, criando uma nova cultura, de acordo com valores morais e espirituais.
Em ÊXODO, LEVÍTICO, NÚMEROS E DEUTERONÔMIO, encontramos a história daquele período e todas as leis de Israel, incluindo aquelas que controlavam o trabalho dos levitas e sacerdotes no Tabernáculo, que foi o primeiro local de culto judaico oficial.  Após a morte de Moisés, JOSUÉ liderou o povo na conquista de Canaã, mas nem todos os inimigos foram vencidos. Os sobreviventes se fortaleceram e oprimiram Israel durante a época dos JUÍZES, quando os israelitas viviam sem uma liderança nacional definida. Nesse tempo conturbado viveu RUTE, cuja história se encontra na bíblia para mostrar a origem familiar de Davi.
Depois de livramentos miraculosos realizados por Deus através de Gideão, Sansão e outros juízes, chegou o tempo de se buscar mais união entre as doze tribos de Israel, de modo que pudessem resistir aos ataques estrangeiros. Assim começava a monarquia, conforme relato do profeta SAMUEL, que foi o grande personagem da transição entre os juízes e os reis. Ele ungiu o primeiro rei, Saul, e depois Davi, que conquistou o território de muitos adversários, inaugurando uma era de grande prosperidade. O monarca era também músico e poeta, sendo o autor de quase todos os SALMOS. Seu filho, Salomão, herdou um grande reino, transformou Israel numa potência do Oriente Médio e viveu muitos anos de paz, tempo suficiente para construir o grande templo judaico em Jerusalém. Sua marca foi a sabedoria dada por Deus, que pode ser observada em seus livros: PROVÉRBIOS, ECLESIASTES e CANTARES. Contudo, o auge do grande reino de Israel se aproximava do fim.
Davi tinha sido um conquistador pelas armas, mas Salomão fez muitas alianças internacionais, que incluíam casamentos com mulheres ímpias e idólatras. Com isso, engrandeceu seu harém, mas fracassou em sua espiritualidade. Por esta causa, Deus determinou a divisão de Israel. Logo após a morte de Salomão, dez tribos se rebelaram, formando o reino do norte, conservando o nome de Israel e tendo Samaria como capital. As duas tribos do sul formaram o reino de Judá, com sede em Jerusalém.
A divisão do povo de Deus facilitou a ação dos inimigos. Nos séculos seguintes, muitos monarcas governaram Israel e Judá, conforme lemos nos livros dos REIS e das CRÔNICAS. Alguns daqueles líderes eram justos e bons; outros eram ímpios e maus.  Assim também variava o comportamento do povo, mas os tempos de justiça e comunhão com Deus foram se tornando cada vez mais raros. O pecado crescia e se agravava, principalmente a idolatria, ofendendo a santidade do Senhor. Então, Deus enviou seus profetas, repreendendo o povo, alertando para o castigo iminente e prometendo restauração em caso de conserto. Nessa missão se ocuparam: Elias, Eliseu, ISAÍAS, OSÉIAS e AMÓS, profetizando para o reino do Norte (Israel). JEREMIAS, EZEQUIEL, HABACUQUE, MIQUÉIAS, SOFONIAS e JOEL profetizaram para o reino do Sul (Judá).  Outros profetas falaram a outros povos: JONAS e NAUM profetizaram contra a cidade de Nínive, capital da Assíria; OBADIAS falou contra Edom, povo descendente de Esaú.  
Como não houve arrependimento em Israel, Deus os entregou nas mãos dos inimigos. Os assírios invadiram o reino do norte e levaram grande parte do povo para o cativeiro. Depois foi a vez da Babilônia invadir Judá. Os judeus foram levados cativos, inclusive DANIEL e Ezequiel.  A cidade de Jerusalém foi destruída, restando apenas tristeza e dor, conforme se lê nas LAMENTAÇÕES DE JEREMIAS.
Depois de 70 anos do cativeiro babilônico, aconteceu o retorno dos judeus à Palestina, sob a liderança de ESDRAS e NEEMIAS, que também foram responsáveis pela restauração de Jerusalém, incluindo a reconstrução do templo, dos muros e o restabelecimento do culto judaico. AGEU e ZACARIAS profetizaram nessa época, estimulando o trabalho de restauração. 
Israel voltou à sua terra, como havia sido profetizado, mas ainda não era uma nação independente.  Era o período do Império Persa, a quem os israelitas pagavam tributos.
Embora tivesse terminado o cativeiro, nem todos os judeus voltaram para a Palestina. Entre os que ficaram nos domínios da Pérsia, ocorreram os fatos narrados no livro de ESTER, que mostra a conspiração contra os judeus e o livramento que Deus realizou.
Nessa época, o povo de Deus tinha liberdade religiosa, mas não política. Restava-lhes a esperança de que Deus ainda levantaria, dentre os descendentes de Davi, o Messias, um rei para restaurar a glória de Israel. Sua chegada seria anunciada por um profeta semelhante a Elias. Dizendo isso, MALAQUIAS, o último escritor do Antigo Testamento, previu o ministério de João Batista.  Depois dessa profecia, vieram quatro séculos de silêncio, nos quais Deus se calou para com o seu povo.
Nesse tempo, passaram os impérios da Pérsia, da Grécia, e começou o domínio romano sobre o mundo. Na época do Imperador Tibério César, nasceu Jesus em Belém da Judéia.  Pouco se sabe sobre sua infância. Somente aos trinta anos, ele começou seu ministério público. Depois de chamar doze homens para serem seus discípulos, Cristo percorreu a Palestina, em 3 anos, ensinando o arrependimento, a justiça e o amor, realizando milagres e anunciando o Reino de Deus.  Jesus era cheio do Espírito Santo e demonstrava grande poder e autoridade perante o povo. Isto provocou ciúmes e inveja nos líderes religiosos, que decidiram matá-lo. Judas Iscariotes, um dos seus discípulos, o entregou às autoridades judaicas que, por sua vez, o entregaram aos romanos. A acusação era de traição contra o Imperador, pois não poderia haver um "rei dos judeus" nos domínios de Roma. Jesus foi condenado e crucificado. Os quatro evangelhos contam essa história, apresentando Jesus como rei, servo, homem e Deus, conforme as perspectivas de MATEUS, MARCOS, LUCAS e JOÃO.  
O fato principal da biografia de Cristo foi a sua ressurreição, testificada por cerca de quinhentas pessoas.  Esse testemunho dá a tônica do livro de ATOS, cuja narrativa apresenta o início da história da igreja, ou seja, daquele povo que, movido pelo poder do Espírito Santo, anunciou a ressurreição de Cristo, desde Jerusalém até os confins da terra. A mensagem de Deus, que teve os judeus como primeiros destinatários, agora deveria ser propagada em todo o mundo. A palavra dos primeiros cristãos incluía a repreensão contra o pecado e a exortação ao arrependimento, antes que o mesmo Jesus voltasse para julgar os vivos e os mortos. 
O movimento de evangelização mundial recebeu grande impulso após a miraculosa conversão do perseguidor Saulo, tornando-se o grande apóstolo Paulo. Além de viajar por muitos lugares fundando igrejas, Paulo escrevia cartas de orientação doutrinária e prática para as comunidades cristãs. De sua autoria são quase todas as epístolas do Novo Testamento. Ele escreveu aos ROMANOS, CORÍNTIOS, GÁLATAS, EFÉSIOS, FILIPENSES, COLOSSENSES, TESSALONICENSES, aos pastores TIMÓTEO e TITO, e ao amigo FILEMOM. Merece grande destaque a Carta aos Romanos, na qual se encontra a explicação do evangelho de Jesus Cristo e o significado espiritual da sua morte na cruz. PEDRO, TIAGO, JOÃO E JUDAS (irmão de Jesus) também escreveram cartas para as igrejas. De autoria desconhecida é uma carta escrita aos cristãos HEBREUS, ou seja, aos israelitas convertidos.
Enquanto o evangelho se propagava, crescia também a perseguição contra os cristãos, a exemplo do que o próprio Mestre tinha vivido. Quase todos os apóstolos foram  martirizados por sua fé.  O último sobrevivente foi João que, encarcerado na ilha de Patmos, escreveu o APOCALIPSE, contendo a visão dos últimos fatos da história da humanidade neste mundo, incluindo a volta de Cristo e o estabelecimento visível do seu reino.  As questões apresentadas em Gênesis são resolvidas no Apocalipse. Desse modo, a bíblia encerra sua história de redenção, na qual Jesus Cristo é o personagem principal.



Pr. Anísio Renato de Andrade

terça-feira, 12 de maio de 2015

NÃO CONFUNDA OTIMISMO COM A FÉ EM DEUS



Estas expressões indicam atitudes semelhantes, porém distintas. Vamos combinar que o pessimismo não é característica do cristão. O pessimista cria um clima ruim que contribui para o fracasso e acaba afastando as pessoas. Entretanto, o otimismo também não representa a essência do evangelho. Muitos ímpios e ateus também são otimistas.
O otimismo é uma atitude positiva diante da vida, até desejável, mas sem fundamento. O otimismo é vago. É a crença no acaso e na probabilidade de acontecer algo bom.
A fé cristã, por sua vez, é a crença em Deus e em Cristo, fundamentada na sua palavra e em nosso compromisso com ele.  "Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que não se vêem" (Heb.11.1).
Por exemplo, um menino de rua pode ser otimista e pensar que alguém vai ajudá-lo, mas o filho, que tem um pai responsável e provedor, não precisa ser otimista. Ele tem certeza de que o pai cuidará de tudo (inclusive da sua correção, que pode não parecer tão ótima). 
Há quem misture fé e otimismo, produzindo uma espécie de triunfalismo, acreditando que tudo dará sempre certo e da melhor maneira possível, pois, supostamente, Deus garantiria isso.  Costumam usar o texto de Filipenses 4.13, que diz: "Tudo posso naquele que me fortalece". Talvez não saibam que Paulo, quando escreveu aquela frase, estava na prisão, sofrendo por causa do evangelho. Ao escrever "tudo posso", o apóstolo afirmava que estava pronto para enfrentar todas as situações da vida e do ministério, fossem boas ou ruins, conforme se lê no versículo 12.
A fé cristã verdadeira é a crença no cumprimento da vontade de Deus em nós, ainda que, em alguns aspectos, não seja exatamente o que gostaríamos.
O otimismo pode criar uma expectativa ilusória, até mesmo diante do perigo iminente, impedindo ou atrasando uma reação forte e necessária. O otimismo poderia impedir Noé de construir a arca, mas a fé o conduziu à ação em tempo hábil.
Abraão mandou que Eliezer buscasse na Mesopotâmia uma esposa para Isaque (Gn.24). O patriarca não teve uma atitude otimista no sentido de aceitar uma nora cananeia, na falsa esperança de que o relacionamento desse certo e fosse abençoado por Deus.
Quando Herodes quis matar o menino Jesus, Maria e José fugiram com ele para o Egito. Não havia espaço nem tempo para uma atitude otimista, disfarçada de fé.  Não seja apenas otimista. Vigie, ore e tome atitudes certas.
Lendo o livro de Jeremias, encontramos, no reino de Judá, um povo otimista. Apesar de viverem na prática do pecado, acreditavam que tudo daria certo pelo fato de cumprirem suas obrigações religiosas. O profeta disse que não seria assim (Jr.7.1-15). O pecado abre as portas para o inimigo. Então, a Babilônia invadiu Judá e levou o povo cativo. Mesmo sendo prisioneiros em terra estranha, aqueles judeus ainda acreditavam que voltariam em breve para a sua terra. O profeta disse que não, pois Deus havia determinado um cativeiro de 70 anos (Jr.29.8-10). Vemos, portanto, que o otimismo pode ser uma crença ingênua e irresponsável, que desconsidera os princípios divinos, seus planos e seu caráter. Não podemos associar o pecado ao otimismo, pensando que tudo dará certo pois, afinal de contas, "Deus é amor". Não nos esqueçamos de que ele também é justiça.
Certa vez, Cristo disse aos discípulos que ele seria entregue nas mãos dos pecadores e seria morto na cruz, mas ressuscitaria ao terceiro dia. Pedro, otimista, disse: "De modo algum te acontecerá isso" (Mt.16.21-22).  Entretanto, aconteceu, pois era o plano de Deus. 
Da mesma forma, Jesus disse: "Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz e siga-me" (Lc.9.23).  "No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo" (João 16.33).  Sejamos realistas: o caminho do cristão passa, necessariamente, pela cruz. O que nos conforta e anima é a certeza de que o plano divino não termina na morte, mas continua na ressurreição e na eternidade. 
O otimismo pode ser útil e bom, mas só a fé ultrapassa os limites da morte e alcança o terceiro dia.
Quem decidiu seguir a Cristo não vive ao sabor do acaso, mas de acordo com o propósito de Deus.  O conhecimento desse propósito vem através das Sagradas Escrituras e da nossa comunhão com o Pai.  O otimismo não depende do conhecimento. Aliás, a própria ignorância lhe é favorável, mas a verdadeira fé depende da Palavra de Deus (Rm.10.17).  Portanto, leia a bíblia.
O evangelho não nos ensina a força do pensamento positivo, mas o poder de  Deus. A palavra de Cristo para os apóstolos não era um alimento para o otimismo, mas para a fé. Eles foram alertados para os percalços da vida cristã e do ministério. Contudo, foram também ensinados a respeito de uma recompensa eterna que "o olho não viu, o ouvido não ouviu, nem subiu ao coração humano, mas que Deus tem preparado para aqueles que o amam" (2Co.2.9).

Pr. Anísio Renato de Andrade