quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

QUATRO DIMENSÕES DA FÉ




O ASPECTO MATERIAL

De acordo com os evangelhos, várias pessoas procuraram Jesus por motivos diversos. Certa vez, o Mestre multiplicou pães e peixes para a multidão, mas sendo procurado no dia seguinte, disse ao povo: 
“Vós me buscais, não pelos sinais que vistes, mas porque comestes do pão e vos saciastes” (João 6.26).  Aquelas pessoas criam que Jesus poderia lhes dar pão, mas esse nível de fé não salva. 
A necessidade material e física, muitas vezes urgente, nos faz sair em busca do suprimento. Além disso, existe o desejo. Depois de atendidos os requisitos da sobrevivência, almejamos também a supérflua satisfação da vaidade. Muitas vezes vemos em Cristo a possibilidade de resposta para todos esses anseios, que podem passar do razoável ao absurdo.
O que você espera do cristianismo? Emprego, empresa, dinheiro, carro, saúde física, casamento, casa, roupa e comida? Tudo bem. Jesus pode nos dar coisas deste mundo e resolver nossos problemas naturais, mas esta não é a essência do evangelho.
Se pedimos ao Senhor apenas as coisas que o ímpio já tem, existe algo muito errado com a nossa fé e a nossa doutrina. Limitados a este nível, estaríamos apenas colocando a fé a serviço do materialismo e do nosso bem-estar. 
A expectativa materialista pode ser frustrante quando Jesus diz “não”. “Desde então muitos dos seus discípulos tornaram para trás, e já não andavam com ele” (João 6.66).
Poucos estão prontos para a resposta que Paulo recebeu: “A minha graça te basta” (2Co.12.9).  Que Deus nos ajude a perceber o valor inefável da sua graça.

O ASPECTO ESPIRITUAL

Depois de decepcionar aos que buscavam o pão material, Jesus disse aos doze: “Quereis vós também retirar-vos? Respondeu-lhe, pois, Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna” (João 6.67-68).  Portanto, o apóstolo conseguiu vislumbrar a importância do alimento espiritual e seu efeito na eternidade. 
“Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Rm.14.17). 
O propósito do evangelho é essencialmente espiritual. As questões físicas são importantes, porém secundárias. Por isso Jesus, antes de curar o paralítico disse: “Teus pecados estão perdoados” (Mc.2.5). 
Mais importantes do que as coisas materiais são os valores espirituais: perdão, paz, alegria, misericórdia, unção, etc, mas é possível que os nossos elevados desejos espirituais ainda estejam contaminados pelo egoísmo. Pode ser que ainda estejamos atentos apenas às nossas necessidades e interesses: minha paz, minha alegria, minha salvação, etc. Estas são fases compreensíveis do nosso crescimento espiritual, mas podemos e precisamos avançar. 

INDO ALÉM DE MIM MESMO

Algumas pessoas procuraram o Senhor Jesus para pedirem a bênção a favor de outros (Mt.8.6; Mt.15.22; Mc.5.23; Lc.5.18). Este é o nível do intercessor e do evangelista, que saem de sua zona de conforto em busca do bem para o próximo.  “Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros” (Fp.2.4). Orar e agir em favor do próximo são atitudes mais importantes do que aquelas que visam o interesse próprio. Preocupar-se com a salvação das outras pessoas é extrapolar os limites do egoísmo. Esta é a fé que opera pelo amor (Gal.5.6).  

FOCO EM DEUS 

Tudo que até aqui foi dito tem o seu valor, mas o nosso alvo principal deve estar no próprio Deus, no desejo de conhecê-lo cada vez mais e viver eternamente com ele. Este é o nível do verdadeiro adorador. 
É necessário perguntar: Se o Senhor não nos der o que esperamos ou tirar o que temos, continuaremos fiéis a ele?  
O filho pródigo voltou para casa por causa do pão e não por amor ao pai. Que bom que voltou! O pai ficou feliz, mas sua motivação poderia ter sido melhor. 
Precisamos atingir um nível de espiritualidade acima do egoísmo e do altruísmo. Isso não significa, a priori, que deixaremos de lado nossas necessidades ou as do próximo, mas existe uma dimensão sobrenatural a ser alcançada. 
Deus não permitiu que Jeremias se casasse e tivesse filhos, mas nem por isso o profeta deixou de servi-lo (Jr.16.2). Deus disse que tiraria a esposa de Ezequiel, e tirou (Ez.24.15-18), mas nem por isso aquele servo deixou de ser fiel. Jó perdeu tudo, mas não desistiu da sua fé (Jó 1.20-22). Paulo chegou ao ponto de dizer que “morrer é lucro”, pois estaria com Deus (Fp.1.21). São exemplos de pessoas que alcançaram uma dimensão superior, e por isso tiveram capacidade de enfrentar situações que para muitos teriam sido insuportáveis. 
Teremos alcançado esse patamar quando formos capazes de dizer verdadeiramente: “Senhor, estou disposto a abrir mão de tudo neste mundo, inclusive da minha própria vida, para te servir, te conhecer, te amar e contemplar a tua face”.


Pr. Anísio Renato de Andrade

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Palavra, Fé, Obras e Poder



“No princípio, era o verbo” (João 1.1). A palavra é o começo e o fundamento de tantas coisas na vida, mas, para ter alguma utilidade e efeito pessoal, ela precisa da fé. Se alguém gritar “fogo, fogo, fogo”, ninguém tomará atitude, a não ser que acredite no alerta.
Como está escrito: “Porque também a nós foram pregadas as boas novas, como a eles, mas a palavra da pregação nada lhes aproveitou, porquanto não estava misturada com a fé naqueles que a ouviram” (Hebreus 4.2).
O binômio “palavra e fé” está presente em todas as seitas e religiões. Todas têm sua doutrina, teoria, dogma e mensagem, sobre os quais se deposita a fé.
Se a nossa análise parar por aqui, teremos um equilíbrio aparente entre as religiões. Seria uma palavra melhor do que outra? Haveria uma fé superior às demais? Sabemos que sim, mas isso não é facilmente detectável.
Por isso, Tiago disse que “a fé sem obras é morta” (Tiago 2.20). Precisamos ir além das palavras e da fé. O conhecimento e a crença devem ser acompanhados pela prática. Eu sei, acredito e faço.
“Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos” (Tiago 1.22).
As religiões se diferenciam umas das outras neste quesito. Algumas são mais ativas tanto em seus rituais como nas obras a favor dos necessitados, mas a prática cristã vai além de tudo isso. O evangelho deve produzir em nós um modo de vida correto e não apenas liturgia e filantropia.
Ainda assim, os elementos até aqui mencionados, palavra, fé e obras, não determinam a verdade de qualquer segmento religioso, embora possam mostrar coerência, sinceridade e devoção.
Determinada palavra pode ser mentira; a fé pode ser mera ilusão e as obras podem ser espiritualmente mortas, a despeito do seu valor social. A pregação eloquente pode tocar as emoções, e isso pode ser confundido com espiritualidade. Podemos, inclusive, inventar uma divindade e uma religião nova que parecerá tão boa quanto as antigas, com grandes templos, aparatos artísticos e recursos audiovisuais impressionantes. Se o cristianismo for só isso, devemos abandoná-lo imediatamente.
Entretanto, Jesus não nos trouxe apenas palavra, fé e obras, mas poder. Ele disse: “Eis que vos dou poder para pisar serpentes, escorpiões e toda força do inimigo e nada vos fará dano algum” (Lucas 10.19).
“Mas recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo, e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até os confins da terra” (Atos 1.8).
Onde quer que o evangelho for pregado, sinais devem acontecer, como Jesus disse: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado. E estes sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas; pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão” (Marcos 16.15-18).
Pela graça de Deus, somos testemunhas de curas e libertações em nome de Jesus. Não precisamos pegar em serpentes nem beber veneno, mas estes são apenas alguns exemplos de desafios que, se necessário, seriam vencidos pelo poder de Deus. Acima de tudo está o nosso relacionamento com o Senhor, mas o seu poder precisa, em algum momento (ou sempre) manifestar-se em nossas vidas. Quem não tem experiências com o sobrenatural pode, algum dia, duvidar da própria fé.
Qualquer pessoa pode orar, mas, se servimos ao verdadeiro Deus, haveremos de receber respostas de oração. A vida cristã envolve palavra, fé, obras e poder. Não basta a palavra sem fé ou a fé sem o fundamento da palavra, a fé sem obras, as obras sem fé ou tudo isso sem poder. Não adianta acreditar na energia elétrica e saber tudo sobre ela, se a luz nunca se acender.
Não bastam as nossas palavras e ações. Precisamos ver o agir de Deus por nós e em nós. Precisamos do poder de Deus e não do poder econômico, por mais necessário que o dinheiro seja.
Com tudo isso, não significa que estejamos justificando toda e qualquer manifestação de poder espiritual, pois a bíblia nos adverte também a respeito do poder de Satanás (Atos 26.18). Portanto, fatos sobrenaturais precisam ser julgados à luz da palavra de Deus. Assim fechamos o ciclo dos elementos citados. Por exemplo, existem pessoas que praticam a caridade, mas fazem “trabalhos espirituais” para matar o seu semelhante. Desse modo, o poder, a fé e as obras de tais segmentos estão condenados sob o aspecto moral. Enfim, todo poder que contraria a palavra de Deus é maligno.
Sobretudo, precisamos estar conscientes de que a palavra de Deus e a fé cristã têm um propósito eterno, além das obras e dos milagres: a salvação eterna das almas (1Pedro 1.9).
Pr. Anísio Renato de Andrade

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

TABERNÁCULO, TEMPLO E SINAGOGA




Depois de tirar Israel do Egito, Deus ordenou que Moisés fizesse um Tabernáculo, uma grande tenda, que seria o local de culto no deserto. Além da ordem, Moisés recebeu instruções minuciosas sobre a obra, especificando desde a madeira da arca até os colchetes das cortinas. Ele não poderia fazer coisa alguma à sua própria maneira nem precisaria usar de criatividade. Todas as medidas, formas, cores e texturas estavam determinadas (Ex.25-27).
Alguns séculos mais tarde, o velho tabernáculo seria substituído pelo templo em Jerusalém. Embora sua construção tomasse por base a estrutura registrada por Moisés, o rei Salomão foi muito além, aumentando em tamanho, quantidade e valor diversos itens da construção.
O Tabernáculo tinha um pavimento, um altar de sacrifício, um altar de incenso, uma mesa, um candelabro e uma arca. O templo tinha 3 andares, incluindo alojamentos para os levitas e sacerdotes. Em lugar da pia original, havia 10 pias móveis sobre rodas e um grande reservatório de água sustentado por 12 bois esculpidos em bronze. No santuário havia 10 candelabros de ouro e 10 mesas para os pães da proposição. As antigas peles que formavam a tenda foram substituídas por paredes revestidas em ouro, com figuras de querubins, palmeiras e flores. Somente a arca da aliança era a mesma do tabernáculo anterior (2Cr.3-4).
Se lá estivéssemos, talvez reprovaríamos a obra do rei, acusando-o de ser megalomaníaco e de ter mudado o projeto que Deus deu a Moisés. Porém, o Senhor aprovou a obra.
“E os sacerdotes não podiam permanecer em pé, para ministrar, por causa da nuvem; porque a glória do Senhor encheu a casa de Deus” (2Cr.5.14).
Moisés havia feito o que Deus mandou. Salomão fez mais e não menos, mas o essencial foi mantido, pois não poderia ser abolido.
Passados mais alguns séculos, o templo foi destruído pelos babilônios e os judeus foram levados cativos. Depois de cativeiro, os judeus voltaram a Jerusalém, reconstruíram o templo e assim terminou o período do Antigo Testamento.
Quando lemos os Evangelhos, encontramos, além do templo, as sinagogas, ou seja, pequenos locais de reunião dos judeus para oração e ensino. Elas são citadas muitas vezes, mas sua origem não é explicada em parte alguma. Teólogos sugerem que as sinagogas tenham sido uma invenção dos judeus durante o cativeiro na Babilônia. Estando longe de Jerusalém e sem o templo, eles teriam criado esses novos locais para seus encontros religiosos.
Se pudéssemos viajar no tempo e visitar a Palestina nos dias de Jesus, é possível que nos tornássemos contrários às sinagogas, argumentando que Moisés e Salomão nunca conheceram tal coisa e que Deus nunca mandou que fossem construídas.
Entretanto, Jesus frequentava as sinagogas e ali curava e ensinava (Mt.4.23; 9.35). Isso não quer dizer que ele tenha aprovado tudo que o judaísmo criou, mas indica que o problema judaico não estava relacionado aos lugares, mas às pessoas, seu relacionamento com Deus e como se comportavam onde quer que estivessem. Errado era açoitar alguém na sinagoga ou matar no templo (Mt.10.17; 23.35), bem como em qualquer outro local.
Jesus priorizou o ser humano e combateu o pecado, não se preocupando em combater as sinagogas inventadas sem autorização de Moisés.
Se Jesus viesse fisicamente às nossas igrejas hoje, encontraria muitas invenções. Muitos cultos contam com guitarras, baterias, contrabaixos e teclados. Se dependêssemos de precedente mosaico, apenas o shofar seria aprovado, mas não dependemos.  Jesus ficaria incomodado com tudo isso? (Talvez, se o volume estivesse muito alto).  Mas sua prioridade continuaria sendo as pessoas. Ele falaria contra o pecado, ensinaria sobre o reino de Deus e realizaria muitos milagres.
Conheço pessoas que censuram até os seminários e a escola bíblica dominical sob o argumento de que tais coisas não se encontram na bíblia. Certamente, essas mesmas pessoas combateriam o templo de Salomão e as sinagogas judaicas, se lá estivessem.
Outros sentem-se muito incomodados com as luzes coloridas usadas em alguns cultos, mas aceitam os modernos instrumentos musicais e outros itens do aparato tecnológico. Cada um deve cultuar à sua maneira, sem contrariar as Escrituras, mas usando da liberdade cristã para ser criativo enquanto não estiver pecando.
O problema dos nossos dias não é luz colorida nem os instrumentos musicais, mas a prostituição, o adultério, o divórcio, o homossexualismo, a corrupção e a heresia. Não permitamos que a forma tire nossa atenção do conteúdo.  O que nos ameaça hoje não é a luz colorida, mas a possibilidade de uma vida nas trevas do pecado. Nossa adoração pode ser à capela ou acompanhada por uma orquestra, mas, se não for em espírito e em verdade, será inútil.
Muito do que existe hoje não existia nos dias de Jesus e, se existisse, não faria diferença alguma no mundo espiritual. Devemos estar atentos ao que Jesus considerava importante, conforme lemos nos evangelhos. O resto é secundário.
Se não combatermos o pecado e ficarmos perdendo tempo com discussões supérfluas, seremos como os fariseus: coando mosquitos e engolindo camelos.
Afinal, nós somos o templo do Espírito Santo. Somos habitação de Jesus e em nossas vidas a glória de Deus deve se manifestar. É assim que seremos aprovados por ele.


Pr. Anísio Renato de Andrade 

terça-feira, 16 de agosto de 2016

A POLÊMICA DOS POKÉMONS




Podemos encontrar no meio do povo de Deus diferentes conceitos de pecado e santidade. Embora nossa base seja bíblica (ou deveria ser), existem temas que extrapolam a bíblia, não em essência, mas na forma. Por exemplo, há alguns anos, o Papa João Paulo 2º declarou que emitir cheque sem fundos é pecado, mas esta é apenas uma variação do que se encontra no velho mandamento: “não furtarás”, incluído na máxima “amarás ao teu próximo como a ti mesmo”. (Agora surgiu uma dúvida: Será que é pecado citar o Papa em um texto dirigido aos meus amigos evangélicos?).
Algumas questões morais e éticas estão muito claras na bíblia, outras nem tanto. Por isso, o tema dos usos e costumes sempre foi um campo de batalhas. O princípio ensinado por Paulo aos romanos é este: “Seja o vosso propósito não colocar tropeço nem causar escândalo aos irmãos”, visto que alguns comem carne, mas outros são vegetarianos. De todo modo, recomenda o apóstolo, cada um esteja firme em suas convicções e aja de modo correspondente, respeitando sua própria consciência (Rm.14 e 15).
Devemos também respeitar uns aos outros, pois a nossa possível divisão, contenda e inimizade são piores do que os assuntos que muitas vezes discutimos. Que o nosso amor não seja prejudicado por um bife, um copo de refrigerante ou uma xícara de café (e tudo isso, pasmem, é objeto de disputas teológicas).
Bom, íamos falar de quê mesmo? Ah, dos pokémons. Existe alguma coisa censurável nesse jogo? Sim. O cristão que quiser se abster ou proibir os filhos de utilizá-lo, fique à vontade, pois terá razões para isso. Entretanto, em quase tudo neste mundo encontraremos alguma influência ruim e teremos razões para o afastamento e a rejeição, seja a TV, o rádio, as músicas, as artes em geral, a literatura, os esportes, a política, etc.
Por exemplo, a nota de 1 dólar contém símbolos de ocultismo, mas isso não impede os cristãos de recebê-la.
Existem contaminações evidentes, acima de qualquer discussão, e que não podemos aceitar, mas, se formos examinar minúcias, criaremos neuroses para nós e nossos filhos.
Por exemplo, é claro que precisamos de alimentos limpos e a lei de Moisés tratou deste assunto. Os fariseus foram além e regulamentaram o ato de lavar as mãos. Isso é bom, mas não deveria ter valor religioso. Além disso, ficavam vigiando pra conferir se as pessoas estavam cumprindo a tradição. Se quisermos, podemos ir além. Será que o sabonete que você usa está limpo? Então, quando lavar as mãos, lave o sabonete. Será que a água está limpa? Será que o cano está limpo? Vamos usar apenas água mineral engarrafada? Mas, será que essa água é pura?  Esse tipo de preocupação pode virar uma neurose.  Isso não significa que vamos beber água do esgoto, mas o extremismo é perigoso.
De igual modo, se vivermos preocupados com a absoluta assepsia espiritual, precisaremos, como disse Paulo, sair do mundo (1Co.5).  Foi assim que inventaram os mosteiros. Entretanto, até os homens que foram à lua (se é que foram), levaram consigo seus maus pensamentos. 
Em termos naturais, estamos cercados por contaminações, inclusive no ar. Embora os hábitos de higiene sejam imprescindíveis, o que garante a nossa saúde não é necessariamente a mania de limpeza, mas o nosso sistema imunológico. Os anticorpos que o nosso organismo produz combatem uma série infinita de agentes nocivos que nos atacam o tempo todo, mesmo sem percebermos. Assim também, devemos nos alimentar da palavra de Deus, aprendendo princípios que serão poderosos antídotos contra os ensinamentos malignos que nos vêm todos os dias por vários meios, inclusive religiosos. Devemos ensinar a palavra de Deus aos nossos filhos. Não podemos abrir mão disso.
Não devemos ser idólatras. Isso é ponto pacífico. Entretanto, vivemos cercados pela idolatria. Até os bairros da nossa cidade têm nomes de ídolos. Então, significa que não podemos ter igrejas nesses bairros nem morar neles? Acho que isso já seria um extremismo desnecessário. Afinal, como disse Paulo (e não São Paulo), o ídolo é nada.
O mesmo apóstolo citou autores mundanos e usou as olimpíadas para ilustrar ensinamentos espirituais (At.17; 1Co.9; Tt.1). Se fosse hoje, muitos o repreenderiam: “Paulo, você não sabe que as olimpíadas são feitas em homenagem aos deuses gregos”? Ele sabia.
Os pokémons podem ser prejudiciais? Sim. Qualquer coisa pode ser prejudicial, se não tivermos limites e nos deixarmos dominar por elas. Até a água limpa pode nos afogar. Cuidado.
Não tenho a postura do "nada a ver" e acho isso perigoso, mas o problema da nossa geração não é pokémon, mas a prostituição, o adultério, a pedofilia, o homossexualismo, o divórcio, as drogas, líderes mentirosos e exploradores, políticos corruptos e ladrões etc. Acho que temos coisas mais importantes para nos preocuparmos.
Algumas pessoas veem demônios em tudo. Conheci um líder que ensinava os irmãos a expulsar demônios dos bancos dos ônibus antes de assentarem e dos produtos de supermercado, assim que chegassem com eles em casa, mas esse mesmo líder, um dia, bateu na esposa. Isso é como coar mosquitos e engolir camelos.
Os pokémons vão passar, mas os pecados que sempre nos assediaram continuarão no mundo causando a desgraça e a perdição. É com isso que devemos nos preocupar.
E olha que eu nem sou caçador de pokémon (por enquanto).


Pr. Anísio Renato de Andrade

terça-feira, 12 de julho de 2016

A POLÊMICA DA COBERTURA ESPIRITUAL




Existe cobertura espiritual de um líder sobre a igreja ou da igreja sobre os membros? A bíblia não diz isso. Certamente, existe certo nível de ajuda mútua, como ocorre na família, mas precisamos compreender os limites deste conceito. Por mais hábil e ungido que seja um líder, ele não poderá evitar que alguém colha o que plantou.  
Haveria algum tipo de proteção de um líder sobre os liderados contra as forças de Satanás? Não exatamente. Eu posso expulsar os demônios de uma pessoa, mas não posso impedir que eles voltem, pois isto se resolve pelas atitudes e decisões do indivíduo. Jesus disse que o espírito mau volta. Ele não desiste facilmente. Voltando, pode encontrar a casa vazia e adornada. Uma casa bonita, ou seja, uma vida reformada pelo evangelho, pode nos deixar satisfeitos, mas o risco espiritual será grande, se não nos enchermos da palavra de Deus (Col.3.16) e do seu Espírito (Ef.5.18; Mt.12.43-45). É a presença do Espírito Santo que impede a entrada dos espíritos imundos (1Sm.16.14).
Se Paulo temia que o Diabo enganasse a igreja, isso indica que ele não era a cobertura espiritual dos coríntios (2Co.11.3), a não ser que consideremos este alerta como desempenho do seu limitado papel protetor.
No capítulo que começa falando sobre os pastores e o rebanho, Pedro não se declarou “cobertura espiritual” da igreja, mas alertou: “Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar; Ao qual resisti firmes na fé, sabendo que as mesmas aflições se cumprem entre os vossos irmãos no mundo” (1Pd.5.8-9). No rebanho de Deus, os pastores cuidam, mas as ovelhas devem resistir ao leão. Tiago, da mesma forma, escreveu: “Sujeitai-vos, pois, a Deus, resisti ao Diabo e ele fugirá de vós” (Tg.4.7).
O que existe é a “armadura de Deus” (Ef.6.11-18) que são virtudes e atitudes que todo cristão deve ter para ficar firme contra as astutas ciladas do inimigo. Nenhum guarda-chuva substitui a armadura. Numa guerra, comandantes e soldados protegem-se uns aos outros na medida do possível, mas nada substitui o equipamento individual nem evita o confronto e o risco. 
A bíblia ensina sobre autoridade e submissão e não vamos abrir mão destes princípios, mas o papel do líder é ajudar o liderado a andar com Deus e não se colocar como uma espécie de guru e dominador sob o pretexto da proteção.
Se pudermos, figuradamente, falar sobre cobertura espiritual, que seja o sangue de Jesus sobre nós e não homens. Alguns líderes ensinam assim: "Se você sair desta congregação, o Capeta vai te pegar, porque você vai ficar sem cobertura espiritual". Devemos congregar, mas, se não vivermos em santificação, não tem liderança que nos livre das garras do mal.
Jó fazia sacrifícios pelos pecados dos filhos, mas veio Satanás e os matou. A intercessão existe, mas ela não é algum tipo de blindagem nem garante imunidade, mesmo porque a oração é dirigida a Deus e não ao Diabo. E se essa súplica for considerada "cobertura espiritual" não será atribuição exclusiva do líder, pois a bíblia nos manda orar uns pelos outros, inclusive pelos pastores. Certamente, todos nós precisamos de uma liderança que nos ajude e ensine, mas não podemos dar ao líder um status espiritual que a bíblia não lhe atribui.
O assunto da cobertura é importante no contexto da espiritualidade, mas precisamos tomar cuidado com as distorções que o mesmo pode sofrer. Voltemos ao princípio, ao Jardim do Éden. Por que a serpente teve acesso a Eva? Será que Adão falhou em sua missão de protegê-la? Não. Nem Eva teve essa "brilhante ideia" de acusar Adão. Ele não era o "sacerdote do lar", mesmo porque isso não existe. Eva tinha sua própria responsabilidade espiritual e deveria ter resistido à tentação.
Depois do pecado, o casal viu que estava nu. O homem sentiu-se exposto, desprotegido, vulnerável e envergonhado. Surgiu então a necessidade de uma cobertura. Coseram folhas de figueira e fizeram para si aventais. Depois, o próprio Deus lhes ofereceu uma proteção mais adequada: roupas de pele, que podemos comparar à cobertura espiritual que encontramos no Cordeiro de Deus. Adão jamais serviria como cobertura espiritual para Eva. Ele não poderia ser o salvador da sua família, pois somente a “semente da mulher” poderia esmagar a cabeça da serpente.
“Rejeitemos, pois, as obras das trevas, e vistamo-nos das armas da luz. Andemos honestamente, como de dia; não em glutonarias, nem em bebedeiras, nem em desonestidades, nem em dissoluções, nem em contendas e inveja. Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo, e não tenhais cuidado da carne em suas concupiscências” (Rm.13.12-14).
A humanidade sente os efeitos do pecado, inclusive a vergonha que ele traz, e procura coberturas para si. São máscaras, disfarces que não cobrem o pecado, mas encobrem parcialmente. Como se diz, “é tentar tapar o sol com a peneira”.
“O que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia” (Pv.28.13).
 “Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada, e cujo pecado é coberto” (Sal.32.1).
Outra situação que nos lembra a cobertura está em Êxodo 12. Havia uma terrível ameaça sobre o Egito: o anjo da morte mataria os primogênitos na noite do dia 14 de abibe. Os israelitas, porém, seriam protegidos pelo sangue do cordeiro passado sobre a porta. Ninguém poderia sair de casa naquela noite, mas a casa seria a “cobertura espiritual”? Não. Nem a casa, nem as paredes, nem a porta, nem o dono da casa, o pai de família, nem Moisés, nada disso. Os egípcios também possuíam casas. O que eles não tinham era o sangue do cordeiro.
Não posso negar que qualquer telhado seja uma cobertura, mas, ainda que fosse uma laje, não tomaria o lugar do sangue nem teria eficácia contra o anjo da morte. Creio que este ponto nos dá a visão equilibrada sobre o papel do líder.
No deserto, Israel foi coberto por uma nuvem que, à noite, se transformava numa coluna de fogo. Contudo, o pecado fez com que milhares deles fossem exterminados pelo destruidor (1Co.10.1-10).  
Se Moisés voltasse ao mundo hoje, seria mais valorizado do que o Papa, mas ele nunca foi a cobertura de Israel. Ninguém pode tomar para si a honra do Cordeiro de Deus. Ele é a nossa cobertura espiritual.
Certamente, o papel de Moisés foi fundamental no sentido de ensinar a Israel como se refugiar em Deus. Este é o papel dos líderes da igreja hoje também.
O salmista declarou ao Senhor: "Tu és o lugar em que me escondo; tu me preservas da angústia; tu me cinges de alegres cantos de livramento" (Salmo 32.7). 
"Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia" (Salmo 46.1).
"Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará"(Salmo 91.1).
"Mil cairão ao teu lado, dez mil à tua direita, mas tu não serás atingido" (Salmo 91.7).
"O Senhor é quem te guarda... Guardará a tua alma. Guardará a tua entrada e a tua saída, desde agora e para sempre" (Salmo 121).
Igreja não é seguradora para nos oferecer cobertura.
É tempo de desaprender o que a bíblia não diz.


Pr. Anísio Renato de Andrade

quarta-feira, 6 de julho de 2016

BETEL E PENIEL – DOIS ENCONTROS COM DEUS




Estes nomes bíblicos, em seu contexto original, não se referem a igrejas, mas eram cidades de Israel, localizadas onde Jacó teve encontros marcantes com o Senhor (Gn.28.10-22; Gn.32.22-30).
Apesar das semelhanças, é grande o contraste entre aquelas experiências. Betel significa “casa de Deus”. Peniel significa “face de Deus”. Estes dois sentidos nos mostram o maior impacto do segundo encontro, apesar da importância indiscutível do primeiro.
O encontro em Betel ocorreu quando Jacó fugia de Esaú, indo para Harã. Naquela noite, Jacó dormiu, tendo uma pedra por travesseiro, e sonhou com uma escada entre o céu e a terra, por onde os anjos subiam e desciam. Acima dela, estava Deus.
O encontro em Peniel aconteceu quando Jacó voltava para encontrar-se com Esaú. A expectativa era de um acerto de contas, com grave risco à vida de suas mulheres e seus filhos. O desafio era tão grande, que Jacó não conseguiu dormir naquela noite, mas lutou com um homem que, de acordo com o texto, era o próprio Deus em manifestação visível (teofania) (Gn.32.30). A situação era de máxima urgência. O perigo iminente não permitiria um agendamento futuro para a busca ao Senhor.
Em Betel, o encontro aconteceu por iniciativa de Deus que, por amor a Jacó, manifestou-se a ele. Naquele tempo, o jovem Jacó não possuía coisa alguma, mas queria ganhar.
No segundo encontro, Jacó tomou a iniciativa de agarrar o “anjo”. Agora, tendo numerosa família e servas e bens, estava apavorado diante da possibilidade de perder tudo.
Na primeira experiência, Jacó queria coisas naturais, principalmente pão, roupa e segurança na viagem.
Na segunda, queria uma bênção superior, bem expressa na frase “tenho visto a Deus face a face e a minha alma foi salva”.
Em Betel, Jacó era um expectador da atividade angelical, como ocorreu também em Maanaim (Gn.32.1-2), mas, em Peniel, ele se torna um protagonista da cena, segurando com determinação aquele varão misterioso.
Betel é sonho. Peniel é luta.
Betel é o contato indireto, distante, uma apresentação inicial do “Deus de Abraão e de Isaque”.
Peniel é a “colisão transformadora” entre Jacó e Deus. Jacó torna-se Israel, o “príncipe de Deus”. Além disso, o Senhor passou a se apresentar como o “Deus de Jacó” (Ex.3.6).
Entre os dois encontros, houve um intervalo de 20 anos (Gn.31.38). Naquele tempo, Jacó dedicou-se ao trabalho e à família, mas não ao Senhor. Contudo, Deus permite desafios que despertam o homem. Jacó precisava voltar a Canaã e encarar Esaú. Quando se aproximava, recebeu a notícia assustadora de que o irmão vinha ao seu encontro com 400 homens. Em todo o tempo, Deus havia cuidado de Jacó. O Senhor tinha um plano para ele e não havia desistido daquele que seria um dos principais patriarcas de Israel.
Contudo, Jacó precisava de uma experiência sobrenatural com Deus. Ele havia recebido a bênção de Isaque, mas carecia de receber a bênção diretamente de Deus. Para tanto, mandou a família prosseguir viagem diante dele e ficou sozinho para buscar ao Senhor. Todos nós precisamos de uma busca espiritual pessoal, particular e intensa (Mt.6.6). Nosso relacionamento com Deus não é um show. No fim das contas, o desafio é entre você e Deus. Apesar de podermos orar uns pelos outros, não é possível terceirizar nossa espiritualidade. Jacó precisou lutar pessoalmente com Deus.
Além de sua própria vida correr risco naquele momento, muitas pessoas dependiam dele. Viajando um pouco à frente estavam suas mulheres e seus filhos. Não era uma família qualquer. Ali estavam 11 futuros patriarcas de Israel, embora ainda não soubessem disso. Dentre os 20 anos passados na casa de Labão, 7 foram de serviço anterior ao casamento. Nos 13 anos seguintes, Jacó teve 11 filhos com suas 4 mulheres, que competiam entre si para ver quem lhe dava mais descendentes. Portanto, naquele dia em Peniel, os filhos de Jacó eram crianças, estando o mais velho com 12 ou 13 anos. Isso nos permite perceber um pouco o peso da responsabilidade e a angústia daquele pai, mas não era só isso.
Ali estavam Rúben, Simeão, Gade, Aser, Zebulom, Naftali, Dã, Issacar, Levi, José e Judá. Jacó não morreria naquele caminho. Esaú não poderia matá-lo, pois o plano de Deus ainda não estava concluído. Benjamim ainda não havia nascido.
A muitos de nós, a Palavra está dizendo: O plano de Deus ainda não se concretizou. Faremos muito mais do que imaginamos.
Jacó não morreria enquanto Benjamim não nascesse. Os 11 filhos ainda não haviam crescido, mas eles haveriam de ter filhos que o próprio Jacó conheceria.
A situação pode ser terrível, mas, para quem tem promessas de Deus, ainda não é o fim. O futuro será bem maior e melhor do que o passado, por mais importante que tenha sido, mas precisamos tomar atitudes certas no tempo certo.
A responsabilidade de Jacó era imensa. Por exemplo, entre as crianças daquela família estava Levi, de cuja descendência viriam os sacerdotes de Israel. Ali estava “Zezinho do Egito”, o mais novo, talvez ainda no colo, mas que seria responsável pela preservação da vida de milhares de pessoas no tempo da fome. Ali estava o garoto Judá, de cuja linhagem viriam os reis de Israel e principalmente o Rei dos reis, Jesus Cristo.
Hoje sabemos muitas coisas que Jacó não sabia, mas o certo é que a sua responsabilidade era muito grande. Jacó não podia desanimar, desistir nem fracassar. Precisava lutar. Dele dependiam muitas pessoas, inclusive nós, que um dia seríamos alcançados pelo evangelho. Como Deus disse em Betel: “Em ti e na tua descendência serão benditas todas as famílias da terra” (Gn.28.14).
Todo servo de Deus deve investir em sua vida espiritual, sabendo que dela dependem muitos outros.
No primeiro encontro com Deus, Jacó ficou tão impressionado, que mudou o nome da cidade, que se chamava “Luz”, palavra hebraica que significa “amendoeira” e não tem relação alguma com a “luz” do nosso idioma. Como se diz, “qualquer semelhança é mera coincidência” e não deve ser usada como pretexto para divagações relacionadas a uma pretensa “iluminação”.
Naquela ocasião, Jacó mudou o nome do lugar para Betel, mas ele mesmo não foi mudado. Gostamos de fazer mudanças no ambiente, alterações exteriores, mudar placas e rótulos, trocar o nome das coisas, inclusive dos pecados, mas o que Deus quer é uma mudança do nosso caráter.
A experiência de Betel foi maravilhosa, mas insuficiente. Será que vivemos satisfeitos com nossas antigas experiências com Deus? Elas são importantes, mas precisamos avançar. O Senhor tem muito mais para nós. Não sejamos vencidos pelo comodismo nem pela inércia.
Muitos anos antes, quando Jacó apresentou-se a Isaque para receber a bênção da primogenitura, disse ao pai: “Eu sou Esaú”, mas, em Peniel precisou confessar “Eu sou Jacó”, nome que significa “enganador”. Precisamos clamar ao Senhor por uma nova experiência com ele, uma renovação da nossa fé e compromisso, mas a confissão é uma parte importante desse processo. Confessemos a Deus os nossos pecados e as falhas do nosso caráter, clamando ao Senhor que nos transforme.
Então, disse Deus: “Não chamarás mais Jacó, mas Israel, porque como príncipe lutaste com Deus e com os homens e prevaleceste” (Gn.32.28).
A mudança do nome de Jacó simboliza a transformação do seu caráter. Encontros com Deus envolvem mudanças necessárias, profundas e definitivas. Em Betel, Jacó foi abençoado, mas em Peniel, ele foi transformado.
É tempo de buscar ao Senhor como Jacó, que passou toda a noite em luta com Deus, dizendo “Não te deixarei, enquanto não me abençoares”. Orações rotineiras e rápidas não constituem grande investimento espiritual. Enquanto nossa busca não for uma luta, não teremos maiores resultados.
“Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós. Alimpai as mãos, pecadores; e vós de duplo ânimo purificai os corações. Senti as vossas misérias, e lamentai e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo em tristeza. Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará” (Tg.4.8-10).
Jacó tinha muitos bens e uma família numerosa, mas buscava uma bênção superior. Ele não precisava receber coisas, mas um toque de Deus. Naquela noite, ele foi tocado e marcado pelo Senhor. Jacó foi mudado e nunca mais enganou alguém. Pelo contrário, tornou-se um profeta de Deus, sendo dele a primeira profecia sobre o leão da tribo de Judá (Gn.49.9).
Pr. Anísio Renato de Andrade

A ORAÇÃO, SUA EFICÁCIA E SEUS LIMITES




Um dos momentos mais marcantes da infância é quando a criança começa a falar. As primeiras palavras são celebradas pelos pais, mesmo que não sejam pronunciadas com perfeição. A capacidade de se comunicar é o que importa. A partir daí, o vocabulário aumenta rapidamente e chega um dia em que a criança fala até dormindo. Com poucos anos de vida, já é preciso controlar os pequenos falantes: “Não fale de boca cheia”; “Não converse com estranhos”; “Desligue esse telefone”.  Depois de aprender a falar, a criança precisa aprender a evitar determinadas palavras; aprender o modo de falar, a hora certa, o tom de voz e o momento de calar. Bem, são objetivos para a vida toda.

Da mesma forma, os filhos de Deus precisam aprender a falar com o Pai por meio da oração. A bíblia nos mandar orar sem cessar (1Tss.5.17), mas a oração deve ser pautada por uma série de parâmetros que a tornam boa e eficaz. Além de orar, precisamos saber a quem orar, por quem, por quê, para quê, como, quando e onde.

Ore todos os dias. Fale com Deus e não com os ídolos, santos, guias, espíritos, demônios, anjos, fadas ou duendes. A oração bíblica tem um alvo certo: o Pai celestial (Mt.6.9).
Certa vez, os discípulos disseram a Jesus: “Ensina-nos a orar” (Lc.11.1).  Logo, a oração deve ser aprendida. Não me refiro a aprender uma oração que alguém compôs, mas à necessidade de cada pessoa aprender a formular suas próprias orações. Petições erradas são indeferidas. “Pedis e não recebeis porque pedis mal” (Tg.4.3). Aprenda a orar. A oração não pode ser um falatório vão, uma espécie de verborragia inútil.

Antes de falar, o bebê passa meses ouvindo. Quem não ouve não fala. Quem ouve mal fala mal. Nosso trato com a bíblia, a palavra de Deus, definirá a qualidade das nossas orações.
“O que desvia os ouvidos de ouvir a lei, até a sua oração será abominável" (Pv.28:9).

Podemos aprender com tantas preces registradas nas Escrituras, especialmente nos Salmos, mas, além disso, todo o conteúdo bíblico servirá como base das nossas orações, inclusive mostrando o que não devemos dizer perante Deus: murmurações, acusações, votos impensados e “determinações” (como se pudéssemos ordenar a ação divina), etc.

Tudo começa pela motivação correta. Não sejamos como os fariseus, que faziam da oração uma forma de exibição de sua pretensa espiritualidade (Mt.6.5-13). Não seria de se esperar que obtivessem alguma resposta do céu.

Precisamos saber que a oração é um ingrediente, um componente importante em nossa espiritualidade, mas não o único. É como uma engrenagem que, sozinha, não constitui um motor.  Está escrito:

“E se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra” (2Cr.7.14).

A oração é importante, mas não é tudo, assim como um relacionamento é mais do que a comunicação. Devemos observar no versículo citado as seis ocorrências da conjunção aditiva “e” que indica a “soma” dos vários elementos da frase para se chegar a um resultado. O povo de Deus precisa “se humilhar e orar e buscar e se converter”. Temos a tendência de colocar o foco em uma coisa e desprezar as outras, mas, nesse contexto, todas são importantes.
Em alguns momentos, a auto-humilhação tem o seu lugar, por exemplo, quando precisamos reconhecer nossos pecados, confessar e pedir perdão. Sem isso, não avançaremos em nossa espiritualidade. A oração sem humildade é apenas um discurso arrogante e inútil (Lc.18.10-14).

Precisamos orar e buscar a face de Deus. Orar e buscar não são sinônimos. A busca inclui a oração, mas é uma palavra que envolve muito mais, pressupondo necessidade, importância, objetivo, esforço, persistência e a expectativa do encontro (Lc.15.4,8). Existe ainda a intensidade da busca: “Buscar-me-eis e me achareis, quando me buscardes de todo o vosso coração” (Jr.29.13).  Quem busca ora, jejua, levanta pelas madrugadas, renuncia o pecado, lê a bíblia, frequenta os cultos, pede perdão, ora no templo, no monte, em casa, insiste e persiste até obter a resposta.

Orar é imprescindível, mas existem muitas outras coisas que precisamos fazer. Se a oração bastasse, Jesus não diria “Ide e pregai o evangelho a toda criatura” (Mc.16.15).

A oração não é um fim em si mesma, mas visa respostas e resultados mediante as ações divinas em nosso favor. Orações não são palavras mágicas. Sua eficácia não está no uso das palavras corretas (embora devamos evitar as erradas), mas na qualidade do nosso relacionamento com Deus.  É importante falar com o Senhor, mas Caim também falou e nem por isso foi perdoado e salvo. Afinal, ele não pediu perdão. Orou errado (Gn.4.13-14).

A qualidade da oração não está na quantidade, nas repetições, nos gritos, nas palavras bonitas, em se fazer um discurso ou relatório para Deus, trazendo explicações, como se ele precisasse delas.

É importante saber que a eficácia da oração tem limites. A oração do justo pode muito (Tg.5.16), mas não pode tudo. Devemos orar, mas algumas coisas não se resolvem pela oração. Precisamos agir, quando for o caso e estiver ao nosso alcance. Deus não costuma fazer o que é da nossa responsabilidade.

“Então disse o Senhor a Moisés: Por que clamas a mim? Dize aos filhos de Israel que marchem” (Ex.14.15).

A oração em favor de outra pessoa chama-se intercessão, mas não devemos descansar nessa possibilidade como se pudéssemos terceirizar nosso relacionamento com Deus.
Jó demonstrou grande zelo oferecendo ao Senhor o sacrifício em favor dos filhos, mas Satanás veio e os matou (Jó 1.5,18,19). O que deduzimos disso? Os filhos de Jó não eram filhos de Deus e não foram preservados pela intercessão paterna.

Quando a mulher está grávida, ela “come por dois”, como se costuma dizer, mas, depois do nascimento, o filho tem que se alimentar, ainda que seja auxiliado nos primeiros meses. Assim acontece no crescimento espiritual. Eu não posso comer, beber, dormir, respirar ou tomar remédio por você. Assim, todo cristão precisa e deve ler a bíblia, orar, etc.
Jesus orava pelos discípulos (João 17), mas um dia, ele lhes disse: “Vós orareis...” (Mt.6.9). A intercessão de Cristo e do Espírito Santo são fundamentais (Is.53.12; Heb.7.25; Rm.8.26), mas não substituem nossas próprias orações. O advogado fala em defesa do réu, mas a confissão é pessoal (1Jo.2.1; 1Jo.1.9). 

Precisamos saber que algumas orações, por melhores que sejam, podem ser inúteis em virtude da liberdade de escolha que as pessoas têm, por exemplo, no que diz respeito ao casamento e à conversão.
Minha oração pode não evitar o pecado de outra pessoa nem garantirá sua salvação, mas pode ajudar a evitar o meu próprio pecado. Jesus disse que os escândalos viriam. Não adianta orar contra eles. O que posso fazer é cuidar para que eu mesmo não os provoque.

Outra questão importante é lembrar que o plano de Deus é superior. Jesus orou, dizendo:

“Meu Pai, se possível, afasta de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres” (Mt.26.39).

O cálice não foi afastado. Jesus mostrou que podemos apresentar nossas angústias e desejos ao Pai. Você não está impedido de pedir o que quiser, mas não significa que será sempre atendido.
Os propósitos de Deus não podem ser impedidos, a não ser naqueles casos em que ele mesmo deixou a possibilidade de mudança pelo arrependimento, como ocorreu em Nínive.
Nenhuma oração impedirá o Apocalipse, nem converterá o diabo nem mudará o passado. Depois do adultério com Bateseba, Davi orou muito para que o filho não morresse, mas a consequência do pecado não seria aplacada pela oração. Deus não está limitado neste assunto, mas os efeitos dos nossos erros geralmente permanecem.

Portanto, vigie para que o mal não aconteça, quando for de sua competência evitá-lo. A oração não impedirá que colhamos o que foi semeado.
A vigilância é um importante complemento da oração. A falta de vigilância inutiliza as melhores armas.

Muitas orações são rejeitadas por Deus, quando associadas à desobediência (Pv.28:9). A oração do justo é eficaz (Tg.5.16), mas o pecado bloqueia a comunicação com Deus, que somente será recuperada mediante a confissão e o pedido de perdão. Não é assim também entre os homens, quando uma ofensa os separa?

Se alguém não quer se reconciliar com Deus, sua oração torna-se pecado (Salmo 109.7).

“Por isso, quando estendeis as vossas mãos, escondo de vós os meus olhos; e ainda que multipliqueis as vossas orações, não as ouvirei, porque as vossas mãos estão cheias de sangue. Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos meus olhos; cessai de fazer o mal” (Is.1.15-16).

Em situações assim, até a intercessão pode ser rejeitada. É o caso da oração proibida:

“Jeremias, não ore por este povo nem faça súplicas ou pedidos em favor dele, nem interceda por ele junto a mim, pois eu não o ouvirei” (Jr.7.16).

“Se alguém vir pecar seu irmão, pecado que não é para morte, orará, e Deus dará a vida àqueles que não pecarem para morte. Há pecado para morte, e por esse não digo que ore” (1João 5.16).

O propósito deste estudo não é nos tirar a motivação para orar, mas, ao contrário, nos estimular a uma vida de oração intensa, correta e eficaz.

“E esta é a confiança que temos nele, que, se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve. E, se sabemos que nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que alcançamos as petições que lhe fizemos” (1 João 5.14-15).


Pr. Anísio Renato de Andrade

terça-feira, 17 de maio de 2016

O SEMEADOR, A SEMENTE E O SOLO




Disse Jesus: "O semeador saiu a semear" (Mateus 13.3). Não se espera que ele semeie dentro de casa. É preciso deixar a zona de conforto para fazer o trabalho. O comodismo impede grandes realizações.
Em primeiro lugar, a parábola refere-se ao próprio Jesus, que deixou a sua glória e veio à terra trazer as boas novas de salvação. Os primeiros versículos do mesmo capítulo dizem que ele saiu de casa naquele dia e começou a pregar.
A parábola ainda nos diz que uma parte da semente caiu à beira do caminho e foi comida pelas aves; outra caiu entre as pedras e brotou, mas a planta foi queimada pelo sol; outra parte caiu entre os espinhos, que a sufocaram, mas algumas sementes caíram em boa terra e produziram com abundância.
Será que o semeador não conhecia o terreno? Sim, ele conhecia. Jesus não estaria falando de um profissional desqualificado, distraído ou irresponsável. Nós, na qualidade de pregadores do evangelho, podemos não conhecer os nossos ouvintes, mas Jesus é o semeador que conhece bem o solo do coração humano. Se ele podia lançar todas as suas sementes em boa terra, por que não o fez? Para dar oportunidade a todos. Por isso ele disse: "Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura" (Mc.16.15).
Se a semente não brotou, se os resultados não vieram, ninguém pode culpar o semeador ou a semente. O semeador é bom. A palavra de Deus é a boa semente, mas que tipo de solo nós somos? Cada um deve examinar a si mesmo e não transferir a culpa para outra pessoa. O erro de muitos é esperar um fruto que não corresponde à natureza da semente. É o caso de quem tem uma visão materialista do evangelho.
O solo pedregoso se caracteriza pela superficialidade. A semente não penetra. É o coração duro, apesar da aparente receptividade.
O solo espinhoso já está ocupado por uma planta. Jesus disse que os espinhos representam os cuidados desta vida e sedução das riquezas. Não existe espaço para a divina semente.
O solo à beira do caminho representa aqueles que não entendem a mensagem e isto se torna oportunidade para a ação de Satanás (Mt.13.19).
Naturalmente, todos se consideram boa terra. Difícil é alguém reconhecer suas pedras, espinhos ou falta de compreensão.
Diante desses fatos, surge a incômoda pergunta O solo pode mudar? Se isto não fosse possível, estaríamos anulando a esperança que o evangelho anuncia.
Se na agricultura humana existem tratamentos para melhorar o solo, certamente o agricultor celestial, que é também nosso Pai, tem seus meios para nos transformar (João 15.1), mas o tratamento pode ser árduo e significar perdas. Permitir que Deus arranque pedras e espinhos é a difícil decisão de quem deseja ser uma boa terra. Este processo envolve a disposição para ouvir a repreensão e abrir mão de coisas, relacionamentos e hábitos condenados pelas Escrituras. Muitos rejeitarão tamanha intervenção em suas vidas. Foi o caso do jovem rico que precisava renunciar à sua riqueza para seguir o Mestre. Aquele episódio mostrou que a mudança do solo é possível, porém difícil.
Aos que aceitarem o tratamento e a boa semente o Senhor garante uma grande colheita.
Pr. Anísio Renato de Andrade

sábado, 16 de janeiro de 2016

NOMES E IDENTIDADES



Depois de criar cada coisa, a primeira iniciativa de Deus foi dar-lhes um nome. À luz, Deus chamou dia e às trevas, noite. Ao firmamento, Deus chamou céu; à porção seca, terra e às águas, mares (Gn.1.5-10).  Deus deu nome a Adão (Gn.5.2) que, por sua vez,  nomeou os animais (Gn.2.20) e também a sua esposa (Gn.3.20).  Até hoje, quando nasce uma criança, uma das primeiras providências é dar-lhe um nome de acordo com o que ela é, homem ou mulher. Identificação e identidade são importantes para não confundirmos as coisas ou as pessoas. A indefinição não é boa.
O próprio Deus tem vários nomes (Elohim, Javé, Adonai, El-Shaday, etc), os quais foram surgindo no relato bíblico, sempre relacionados à revelação progressiva da natureza divina.  Diante da sarça ardente, Moisés perguntou pelo nome do Senhor. A resposta foi “Eu Sou”, um nome que revela a autossuficiência de Deus.
No Novo Testamento, somos ensinados a chamar o Senhor de “Pai” e aprendemos também sobre o nome que está acima de todos os nomes: Jesus, pelo qual somos libertos, curados e salvos.
Como disse Salomão, “Melhor é o bom nome do que o precioso perfume” (Ec.7.1).  O nome carrega uma história, uma reputação, sendo motivo de orgulho ou vergonha. Pode representar direito e autoridade, abrir e fechar portas, tornando-se um patrimônio a ser preservado. Em nossa sociedade, temos o conceito do nome “limpo” ou “sujo”, que possibilita ou impede a obtenção de crédito.
Atualmente, os nomes também podem ser valiosas marcas comerciais, quando relacionados à excelência de produtos e serviços.  
Os nomes deveriam sempre estar vinculados à identidade, ao caráter e à natureza das coisas e pessoas, mas, infelizmente, nem sempre é assim.  Alguns são enganosos, como acontece com um cachorro chamado Tigre. Hoje em dia, encontramos homens com nome de mulher e vice-versa. Na Internet, existe a possiblidade de se utilizar um “nickname” ou apelido que esconde a identidade, funcionando como proteção ou disfarce.
Precisamos ser cautelosos, pois muitos rótulos bons podem ocultar um conteúdo ruim ou  até venenoso.  A bíblia contém exemplos desse tipo. “Babel” significa “porta de Deus”, mas era apenas um empreendimento humano.  O nome “Judas” é derivado de “Judá”, que significa “louvor”, mas o caráter do apóstolo traidor não correspondia ao seu bom nome. 
Em nossos dias, as nomenclaturas são mudadas com o intuito de enganar ou atenuar a gravidade de alguma coisa. Eufemismos pretendem tornar o pecado mais suave e aparentemente inofensivo. Um nome novo dribla bloqueios psicológicos e sociais relacionados ao antigo.  Assim,  a prostituta tornou-se “garota de programa”; adultério virou “caso”; roubo é “desvio de verba” e a pornografia chama-se agora “nudes”.  Podem trocar o rótulo da cachaça, mas a queda do bêbado continua igual.
“Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que fazem das trevas luz, e da luz trevas; e fazem do amargo doce, e do doce amargo” (Isaías 5.20).
Até mesmo uma religião ou seita pode ter um nome maravilhoso que esconde uma doutrina maligna.
Além do nosso nome pessoal, ganhamos ou incorporamos muitos títulos, adjetivos e substantivos, mas qual é a nossa natureza? Quem somos e o que fazemos?  Isto é o que, de fato, interessa.
Detalhe importante é que ninguém deve dar nome a si mesmo, mas recebê-lo de outrem após um procedimento natural de reconhecimento. Portanto, a primeira atitude diante de alguém que se auto-intitula deve ser de desconfiança seguida, talvez, por um pedido de comprovação. 
“Puseste à prova os que dizem ser apóstolos e não são, e tu os achaste mentirosos” (Ap.2.2).
“Mas tenho contra ti que toleras Jezabel, mulher que se diz profetisa, a ensinar e enganar os meus servos” (Ap.2.20).
Precisamos tomar cuidado com a ilusória satisfação que os bons títulos proporcionam. Eles podem ser úteis e necessários, mas não devem nos impressionar, sujeitando-nos a possíveis enganos. Respeite com cautela e observe. Jesus disse que a árvore boa produz frutos bons, mas a árvore má produz frutos maus (Mt. 7.15-23). Não sejamos como algumas árvores que precisam de placas identificadoras, mas tenhamos bons frutos que testifiquem a nosso respeito. 
Triste foi a situação do líder da igreja de Sardes, sobre o qual o Senhor Jesus disse: “Tens nome de que vives, mas estás morto” (Ap.3.1).
Contudo, a palavra de Deus nos traz esperança.
Diante de seu pai, Jacó disse “Eu sou Esaú”, mas, diante do anjo, precisou confessar “Eu sou Jacó”, que significa “suplantador”. Precisamos assumir diante do Senhor nossa natureza e nossos erros. Então, ele pode nos tocar e transformar. Naquele encontro transformador, o Senhor disse “Não te chamarás mais Jacó, mas Israel; pois como príncipe lutaste com Deus e com os homens, e prevaleceste” (Gn.32.28).
Da mesma forma, Deus mudou o nome de outros personagens bíblicos, como Abraão, Sara e Pedro, demonstrando a mudança realizada em suas vidas. 
O propósito do evangelho é nos transformar, de modo que nos tornemos cada vez mais parecidos com Jesus.  Quando este processo terminar, receberemos um novo nome, por ocasião da nossa entrada na glória celestial.
“Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao que vencer darei a comer do maná escondido, e dar-lhe-ei uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito, o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe” (Ap.2.17).
“A quem vencer, eu o farei coluna no templo do meu Deus, e dele nunca sairá; e escreverei sobre ele o nome do meu Deus, e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que desce do céu, do meu Deus, e também o meu novo nome” (Ap.3.12).


Pr. Anísio Renato de Andrade