quinta-feira, 25 de agosto de 2016

TABERNÁCULO, TEMPLO E SINAGOGA




Depois de tirar Israel do Egito, Deus ordenou que Moisés fizesse um Tabernáculo, uma grande tenda, que seria o local de culto no deserto. Além da ordem, Moisés recebeu instruções minuciosas sobre a obra, especificando desde a madeira da arca até os colchetes das cortinas. Ele não poderia fazer coisa alguma à sua própria maneira nem precisaria usar de criatividade. Todas as medidas, formas, cores e texturas estavam determinadas (Ex.25-27).
Alguns séculos mais tarde, o velho tabernáculo seria substituído pelo templo em Jerusalém. Embora sua construção tomasse por base a estrutura registrada por Moisés, o rei Salomão foi muito além, aumentando em tamanho, quantidade e valor diversos itens da construção.
O Tabernáculo tinha um pavimento, um altar de sacrifício, um altar de incenso, uma mesa, um candelabro e uma arca. O templo tinha 3 andares, incluindo alojamentos para os levitas e sacerdotes. Em lugar da pia original, havia 10 pias móveis sobre rodas e um grande reservatório de água sustentado por 12 bois esculpidos em bronze. No santuário havia 10 candelabros de ouro e 10 mesas para os pães da proposição. As antigas peles que formavam a tenda foram substituídas por paredes revestidas em ouro, com figuras de querubins, palmeiras e flores. Somente a arca da aliança era a mesma do tabernáculo anterior (2Cr.3-4).
Se lá estivéssemos, talvez reprovaríamos a obra do rei, acusando-o de ser megalomaníaco e de ter mudado o projeto que Deus deu a Moisés. Porém, o Senhor aprovou a obra.
“E os sacerdotes não podiam permanecer em pé, para ministrar, por causa da nuvem; porque a glória do Senhor encheu a casa de Deus” (2Cr.5.14).
Moisés havia feito o que Deus mandou. Salomão fez mais e não menos, mas o essencial foi mantido, pois não poderia ser abolido.
Passados mais alguns séculos, o templo foi destruído pelos babilônios e os judeus foram levados cativos. Depois de cativeiro, os judeus voltaram a Jerusalém, reconstruíram o templo e assim terminou o período do Antigo Testamento.
Quando lemos os Evangelhos, encontramos, além do templo, as sinagogas, ou seja, pequenos locais de reunião dos judeus para oração e ensino. Elas são citadas muitas vezes, mas sua origem não é explicada em parte alguma. Teólogos sugerem que as sinagogas tenham sido uma invenção dos judeus durante o cativeiro na Babilônia. Estando longe de Jerusalém e sem o templo, eles teriam criado esses novos locais para seus encontros religiosos.
Se pudéssemos viajar no tempo e visitar a Palestina nos dias de Jesus, é possível que nos tornássemos contrários às sinagogas, argumentando que Moisés e Salomão nunca conheceram tal coisa e que Deus nunca mandou que fossem construídas.
Entretanto, Jesus frequentava as sinagogas e ali curava e ensinava (Mt.4.23; 9.35). Isso não quer dizer que ele tenha aprovado tudo que o judaísmo criou, mas indica que o problema judaico não estava relacionado aos lugares, mas às pessoas, seu relacionamento com Deus e como se comportavam onde quer que estivessem. Errado era açoitar alguém na sinagoga ou matar no templo (Mt.10.17; 23.35), bem como em qualquer outro local.
Jesus priorizou o ser humano e combateu o pecado, não se preocupando em combater as sinagogas inventadas sem autorização de Moisés.
Se Jesus viesse fisicamente às nossas igrejas hoje, encontraria muitas invenções. Muitos cultos contam com guitarras, baterias, contrabaixos e teclados. Se dependêssemos de precedente mosaico, apenas o shofar seria aprovado, mas não dependemos.  Jesus ficaria incomodado com tudo isso? (Talvez, se o volume estivesse muito alto).  Mas sua prioridade continuaria sendo as pessoas. Ele falaria contra o pecado, ensinaria sobre o reino de Deus e realizaria muitos milagres.
Conheço pessoas que censuram até os seminários e a escola bíblica dominical sob o argumento de que tais coisas não se encontram na bíblia. Certamente, essas mesmas pessoas combateriam o templo de Salomão e as sinagogas judaicas, se lá estivessem.
Outros sentem-se muito incomodados com as luzes coloridas usadas em alguns cultos, mas aceitam os modernos instrumentos musicais e outros itens do aparato tecnológico. Cada um deve cultuar à sua maneira, sem contrariar as Escrituras, mas usando da liberdade cristã para ser criativo enquanto não estiver pecando.
O problema dos nossos dias não é luz colorida nem os instrumentos musicais, mas a prostituição, o adultério, o divórcio, o homossexualismo, a corrupção e a heresia. Não permitamos que a forma tire nossa atenção do conteúdo.  O que nos ameaça hoje não é a luz colorida, mas a possibilidade de uma vida nas trevas do pecado. Nossa adoração pode ser à capela ou acompanhada por uma orquestra, mas, se não for em espírito e em verdade, será inútil.
Muito do que existe hoje não existia nos dias de Jesus e, se existisse, não faria diferença alguma no mundo espiritual. Devemos estar atentos ao que Jesus considerava importante, conforme lemos nos evangelhos. O resto é secundário.
Se não combatermos o pecado e ficarmos perdendo tempo com discussões supérfluas, seremos como os fariseus: coando mosquitos e engolindo camelos.
Afinal, nós somos o templo do Espírito Santo. Somos habitação de Jesus e em nossas vidas a glória de Deus deve se manifestar. É assim que seremos aprovados por ele.


Pr. Anísio Renato de Andrade 

terça-feira, 16 de agosto de 2016

A POLÊMICA DOS POKÉMONS




Podemos encontrar no meio do povo de Deus diferentes conceitos de pecado e santidade. Embora nossa base seja bíblica (ou deveria ser), existem temas que extrapolam a bíblia, não em essência, mas na forma. Por exemplo, há alguns anos, o Papa João Paulo 2º declarou que emitir cheque sem fundos é pecado, mas esta é apenas uma variação do que se encontra no velho mandamento: “não furtarás”, incluído na máxima “amarás ao teu próximo como a ti mesmo”. (Agora surgiu uma dúvida: Será que é pecado citar o Papa em um texto dirigido aos meus amigos evangélicos?).
Algumas questões morais e éticas estão muito claras na bíblia, outras nem tanto. Por isso, o tema dos usos e costumes sempre foi um campo de batalhas. O princípio ensinado por Paulo aos romanos é este: “Seja o vosso propósito não colocar tropeço nem causar escândalo aos irmãos”, visto que alguns comem carne, mas outros são vegetarianos. De todo modo, recomenda o apóstolo, cada um esteja firme em suas convicções e aja de modo correspondente, respeitando sua própria consciência (Rm.14 e 15).
Devemos também respeitar uns aos outros, pois a nossa possível divisão, contenda e inimizade são piores do que os assuntos que muitas vezes discutimos. Que o nosso amor não seja prejudicado por um bife, um copo de refrigerante ou uma xícara de café (e tudo isso, pasmem, é objeto de disputas teológicas).
Bom, íamos falar de quê mesmo? Ah, dos pokémons. Existe alguma coisa censurável nesse jogo? Sim. O cristão que quiser se abster ou proibir os filhos de utilizá-lo, fique à vontade, pois terá razões para isso. Entretanto, em quase tudo neste mundo encontraremos alguma influência ruim e teremos razões para o afastamento e a rejeição, seja a TV, o rádio, as músicas, as artes em geral, a literatura, os esportes, a política, etc.
Por exemplo, a nota de 1 dólar contém símbolos de ocultismo, mas isso não impede os cristãos de recebê-la.
Existem contaminações evidentes, acima de qualquer discussão, e que não podemos aceitar, mas, se formos examinar minúcias, criaremos neuroses para nós e nossos filhos.
Por exemplo, é claro que precisamos de alimentos limpos e a lei de Moisés tratou deste assunto. Os fariseus foram além e regulamentaram o ato de lavar as mãos. Isso é bom, mas não deveria ter valor religioso. Além disso, ficavam vigiando pra conferir se as pessoas estavam cumprindo a tradição. Se quisermos, podemos ir além. Será que o sabonete que você usa está limpo? Então, quando lavar as mãos, lave o sabonete. Será que a água está limpa? Será que o cano está limpo? Vamos usar apenas água mineral engarrafada? Mas, será que essa água é pura?  Esse tipo de preocupação pode virar uma neurose.  Isso não significa que vamos beber água do esgoto, mas o extremismo é perigoso.
De igual modo, se vivermos preocupados com a absoluta assepsia espiritual, precisaremos, como disse Paulo, sair do mundo (1Co.5).  Foi assim que inventaram os mosteiros. Entretanto, até os homens que foram à lua (se é que foram), levaram consigo seus maus pensamentos. 
Em termos naturais, estamos cercados por contaminações, inclusive no ar. Embora os hábitos de higiene sejam imprescindíveis, o que garante a nossa saúde não é necessariamente a mania de limpeza, mas o nosso sistema imunológico. Os anticorpos que o nosso organismo produz combatem uma série infinita de agentes nocivos que nos atacam o tempo todo, mesmo sem percebermos. Assim também, devemos nos alimentar da palavra de Deus, aprendendo princípios que serão poderosos antídotos contra os ensinamentos malignos que nos vêm todos os dias por vários meios, inclusive religiosos. Devemos ensinar a palavra de Deus aos nossos filhos. Não podemos abrir mão disso.
Não devemos ser idólatras. Isso é ponto pacífico. Entretanto, vivemos cercados pela idolatria. Até os bairros da nossa cidade têm nomes de ídolos. Então, significa que não podemos ter igrejas nesses bairros nem morar neles? Acho que isso já seria um extremismo desnecessário. Afinal, como disse Paulo (e não São Paulo), o ídolo é nada.
O mesmo apóstolo citou autores mundanos e usou as olimpíadas para ilustrar ensinamentos espirituais (At.17; 1Co.9; Tt.1). Se fosse hoje, muitos o repreenderiam: “Paulo, você não sabe que as olimpíadas são feitas em homenagem aos deuses gregos”? Ele sabia.
Os pokémons podem ser prejudiciais? Sim. Qualquer coisa pode ser prejudicial, se não tivermos limites e nos deixarmos dominar por elas. Até a água limpa pode nos afogar. Cuidado.
Não tenho a postura do "nada a ver" e acho isso perigoso, mas o problema da nossa geração não é pokémon, mas a prostituição, o adultério, a pedofilia, o homossexualismo, o divórcio, as drogas, líderes mentirosos e exploradores, políticos corruptos e ladrões etc. Acho que temos coisas mais importantes para nos preocuparmos.
Algumas pessoas veem demônios em tudo. Conheci um líder que ensinava os irmãos a expulsar demônios dos bancos dos ônibus antes de assentarem e dos produtos de supermercado, assim que chegassem com eles em casa, mas esse mesmo líder, um dia, bateu na esposa. Isso é como coar mosquitos e engolir camelos.
Os pokémons vão passar, mas os pecados que sempre nos assediaram continuarão no mundo causando a desgraça e a perdição. É com isso que devemos nos preocupar.
E olha que eu nem sou caçador de pokémon (por enquanto).


Pr. Anísio Renato de Andrade