quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

MALDIÇÕES HEREDITÁRIAS


Já faz muito tempo que o povo evangélico tem ouvido ensinamentos a respeito de maldições hereditárias e outros tipos. A bíblia fala sobre maldições, mas a questão é que alguns pregadores querem nos convencer de que, mesmo sendo convertido, o indivíduo ainda continua amaldiçoado. Outros, chegam ao extremo de afirmar que o cristão autêntico pode ficar possuído por demônios. Tais ensinos não encontram fundamento nas Sagradas Escrituras.
- As maldições constantes do Velho Testamento (Dt.28) estavam vinculadas aos termos da Antiga Aliança de Deus com Israel. Não podemos crer que somos atingidos pelos efeitos de um pacto do qual não participamos. - Ainda que admitamos que aquelas mesmas maldições estejam sobre os ímpios (o que não parece), não há como crer que elas permaneçam sobre os salvos. - O Novo Testamento é o padrão para a igreja. Seus autores jamais trataram os cristãos como amaldiçoados ou endemoninhados, mas sim como justos, santos e benditos de Deus (Col.1.2; Heb.3.1; Mt.25.34; At.3.26; Ef.1.3; Gál.3.9). - Não encontramos na bíblia nenhum processo pós-conversão para quebra de maldições hereditárias. Os apóstolos não passaram por isso, nem os demais irmãos da igreja primitiva. Paulo nunca ensinou coisa alguma sobre algum processo desse tipo. - Toda maldição na vida do cristão foi desfeita na cruz do Calvário (Gál.3.9-14), cujos efeitos se aplicam imediatamente no instante em que o indivíduo aceita Jesus como seu Senhor e Salvador. - A bíblia não fala a respeito de nenhum outro momento ou método de se quebrarem maldições. - Há quem ensine que cada maldição deve ser quebrada de modo específico, sendo detectada e declarada pelo amaldiçoado. A bíblia não ensina isso. A palavra maldição é usada indevidamente para designar uma série de males na vida das pessoas, inclusive de cristãos verdadeiros, fazendo-se uma confusão muito grande em torno da questão. Mágoas, traumas, resultados de escolhas pessoais, consequências de pecados, doenças hereditárias, a força do exemplo dos pais, provações, tribulações, dependência química, física ou psicológica, natureza pecaminosa e hábitos pecaminosos, são confundidos com maldição. Talvez isto seja até uma forma de se esquivar da responsabilidade que cada um tem sobre seus próprios erros. É mais cômodo colocar a culpa nos pais ou em outros antepassados. Após a conversão, precisamos passar por algum processo? É claro que sim, mas não se trata de “quebra de maldições”, senão de uma busca constante pelo conhecimento bíblico que nos proporcionará mudança de mente (Rm.12.2), crescimento espiritual e intimidade com Deus. O ex-viciado precisará de um acompanhamento, e talvez de uma internação, para desintoxicação e isolamento em relação ao contato com a droga, mas isso nada tem a ver com maldição. Se a divergência fosse apenas de ordem semântica, nada haveria de grave. Se chamamos determinado problema de “trauma” ou de “maldição”, talvez seja só uma questão do nome que se dá. Entretanto, quando alguém diz que o convertido está carregando maldições hereditárias, faz uma afirmação contrária à palavra de Deus. Onde fica o valor do que se lê em II Coríntios 5.17? “Se alguém está em Cristo, nova criatura é. As coisas velhas se passaram e eis que tudo se fez novo”? Se isso não se aplicar a uma libertação espiritual, que aplicabilidade terá? Para que se quebrem maldições, alguns líderes querem que façamos uma retrospectiva afim de confessarmos pecados cometidos antes da conversão. Contudo, a bíblia não estabelece tal exigência para ninguém. Se isto fosse necessário, imagino que uma pessoa que se converte aos 50 anos de idade, precisaria passar alguns anos confessando pecados. E mesmo assim, não existe garantia de que teria se lembrado de todos. O ladrão que morreu ao lado de Cristo não confessou cada um de seus pecados mas, ainda assim, foi purificado e salvo imediatamente. E mesmo que vivesse ainda muitos anos, não precisaria fazer tal confissão, pois isso nunca foi exigido de nenhum daqueles que se converteram no período do Novo Testamento. Se fizermos tal coisa, estaremos negando ou menosprezando a obra que Jesus fez em nós no momento em que nos entregamos a ele. Se pecarmos depois de convertidos, vamos confessar cada pecado (I Jo.2.9), mesmo porque não vamos esperar que os pecados se acumulem para fazermos uma confissão “no atacado”. Algumas pessoas, depois de passarem por processos de “quebra de maldição”, verificam que os problemas identificados continuam. Ficam frustradas e desanimadas. A causa está no falho diagnóstico e no falso remédio. Certas situações físicas, naturais, econômicas, sociais, etc, continuam inalteradas após a conversão, mas isso não significa maldição. Se tudo mudasse, as pessoas convertidas ficariam irreconhecíveis. Afinal, elas continuam tendo uma história e elementos presentes que são resultados de suas escolhas passadas. Por exemplo, o pobre continua pobre. Isso não é maldição. Trata-se de uma condição social que pode ser mudada, mas não obrigatoriamente em virtude da conversão. O Novo Testamento fala sobre escravos que se converteram ao cristianismo. É claro que se tratava de uma situação inadequada e indesejável. Quem pudesse se libertar não deveria perder a oportunidade, mas a continuidade da escravidão não era tratada como maldição (Fm.10-14; I Cor.7.21). O que seria então uma maldição? A palavra é formada por duas outras: “mal” + “dicção”. Etimologicamente, podemos traduzi-la como “falar mal”. Maldição é uma praga profetizada contra alguém. Na bíblia encontramos maldições proferidas por Deus contra os que transgridem seus mandamentos (Dt.28). Também existem casos em que o pai amaldiçou seus filhos (Gn.9.24-25; Gn.49.5-7; Heb.11.21). Num episódio excepcional, Cristo amaldiçoou uma figueira (Mc.11.21). Não encontramos maldições vindas de Satanás, como parecem crer algumas pessoas, embora ele possa participar da concretização das mesmas. A maldição vem, geralmente, de uma autoridade que tenha também poder para abençoar. Por outro lado, não basta que a maldição seja proferida. Para que se realize, ela precisa também ter uma razão concreta. “A maldição sem causa não virá” (Pv.26.2). Se um pai amaldiçoa um filho, isso não se concretizará se o filho não for merecedor daquele mal, ou seja, se ele estiver inocente naquela situação ou se for um cristão. E mesmo com este fundamento bíblico que mostra a existência de maldições, cremos que todas elas são quebradas no momento da conversão. E depois de convertidos, será que podemos atrair novas maldições sobre nós? Creio que isso pode acontecer, caso nos desviemos do evangelho, escolhendo uma vida de pecado (Heb.6.7-8; II Pd.2.14-15). Mas, ainda assim, não há que se falar em maldições hereditárias. Os apóstatas podem ficar possessos (I Sm.16.14), mas não os cristãos fiéis e perseverantes no caminho do Senhor. Aquele que se desvia pode ter de volta o demônio que antes o dominava, acompanhado de outros sete piores do que ele (Mt.12.45). Todo convertido precisa se encher do conhecimento da palavra de Deus. Assim, conhecerá e assumirá sua posição espiritual, deixando situações que, em virtude da ignorância, continuariam em sua vida, podendo vir a ser confundidas com maldições. Nessa linha de raciocínio incluímos os traumas, mágoas, etc. O perdão é um remédio eficaz para as feridas da alma, que não devem ser confundidas com maldições. A vida cristã não nos oferece imunidade contra o sofrimento. Podemos ser acometidos por provações, tribulações e até aflições (João 16.33). Não venhamos dizer que são maldições hereditárias. A bênção e a maldição não podem estar sobre a mesma pessoa. Os filhos de Deus não são malditos nem podem ser. Somos bem-aventurados porque Jesus nos salvou e nos libertou. Não temos demônios nem podemos tê-los, porque somos o templo do Espírito Santo que habita em nós (I Cor.3.16). Pr. Anísio Renato de Andrade

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

O PREÇO DO PECADO




Quase tudo na vida tem um preço. Procure conhecê-lo antes de adquirir ou realizar o que quer que seja. Calcule o custo e verifique se você tem condições de pagar (Lc.14.28). Depois, pode ser tarde demais.

Cuidado! Muitas vezes, o valor está escondido. Mercadorias em exposição são geralmente bem organizadas para atrair e convencer, mas o seu preço pode não estar visível. No Brasil, existe uma lei que obriga os comerciantes a colocarem a plaquinha com o valor, mas o seu desejo seria escondê-lo, pois o preço pode assustar e afugentar os interessados, inviabilizando a venda.

Se nos dispomos a assistir uma apresentação sobre qualquer produto ou serviço, a informação mais difícil de se obter é o preço. É um mistério, um segredo, como se fosse uma ofensa a ser evitada. Para amenizar o impacto, os marketeiros trocaram o nome do “pagamento” por “investimento”, o que, em alguns casos, faz sentido. Nós, brasileiros, já estamos acostumados às propagandas enganosas, falsas promoções, falsos descontos, impostos abusivos, juros embutidos, cobranças com multas e correções monetárias de proporções astronômicas.

De modo paralelo a tudo isso, existem também as negociações espirituais. Satanás faz o seu comércio (Ez.28.16-18).  Sua mercadoria é o pecado. Sua propaganda é sedutora, com anúncio de vantagens, ocultação de desvantagens e absoluto silêncio quanto ao preço final (Gn.3). Os aparentes e imediatos benefícios da iniquidade são propagados aos quatro ventos a todo tempo, mas seus efeitos colaterais são omitidos. Não se deixe enganar. Agora, o prazer; depois, o tormento. O pecado pode parecer barato ou até gratuito, mas é muito caro e a cobrança vem com todo tipo de acréscimo. A despesa não é apenas material ou financeira, mas moral e espiritual. O pecado custa a paz do ser humano, sua alegria, felicidade e razão de viver. Pode incluir a perda dos bens, dos entes queridos, da saúde, da vida, mas o maior interesse do inimigo é pela posse eterna da alma humana. Pode-se ganhar muito dinheiro com o pecado, ou não, mas ele sempre traz grande dívida espiritual.

A proposta do maligno parece uma dádiva, mas a contrapartida é absurda: “Tudo isso te darei, se prostrado me adorares” (Mt.4).

Mas, “de que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma”? (Mc.8.36).

O pecado é caro. O prazo de pagamento é a eternidade. O fruto proibido não foi cobrado imediatamente, embora seus efeitos já tivessem começado.  O pecado parece gratuito. O texto de Gênesis não diz que Adão e Eva desembolsaram alguma quantia, mas a lista de prestações foi longa: vergonha, medo, culpa, perda da comunhão com Deus, expulsão do paraíso, bloqueio do acesso à árvore da vida, morte de Abel e, finalmente, a morte do primeiro casal, sem contar com a eternidade no lago de fogo, caso não tenham sido perdoados. 

O pecado parece gratuito. Esaú comeu as lentilhas e saiu. Tudo parecia normal, mas a cobrança viria.
Sansão se prostituiu diversas vezes. Ele se levantava e saía como se nada tivesse acontecido, mas a cobrança veio.
“Este é o caminho da adúltera: Ela come e limpa a boca, e diz: Não fiz nada de errado” (Pv.30.20), mas a cobrança vem.

Como saber o preço do pecado? O diabo não dirá, mas podemos saber através da bíblia ou observando o pagamento que outros fizeram.

Veja o preço que Abraão pagou pelo relacionamento com a escrava ou quanto custou o adultério de Davi com Batseba.

O pecado parece gratuito, mas é caríssimo. A prostituição, por exemplo, custa muito mais que dinheiro. É grande engano pensar que só o cliente paga e a prostituta apenas recebe.  Ambos pagam. Satanás recebe. É assim que o pecado funciona.

O pecado parece gratuito, mas a conta chegará. O cobrador é implacável.  O pecador não conseguirá esconder-se dos verdugos (Mt.18.34). Ninguém conseguirá enganar o Diabo.

O preço da droga não é cinco, dez ou cem reais. É a sua saúde, sua vida e seus bens.
O preço do álcool é sua honra, seu emprego e sua família.
Tudo isso é mais caro do que você imagina.

Tudo que até aqui foi dito é importante para que tenhamos uma visão razoável do custo do pecado, mas a bíblia nos ensina também sobre a possibilidade do perdão. Isso não é impunidade, mas significa que alguém pagou a conta em nosso lugar: Jesus Cristo.

O sangue derramado na cruz do Calvário é suficiente para quitar a nossa dívida, mas precisamos saber, reconhecer e aceitar aquele sacrifício.

“Tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz” (Col.2.14).

Jesus pagou o preço do pecado em nosso lugar. Quem suplica o seu perdão encontra a paz e a comunhão com Deus. Contudo, não podemos considerar sua morte como uma espécie de cartão pré-pago que nos autoriza a uma vida imunda. Ainda que o sangue de Jesus nos purifique diante de Deus e nos livre do inferno, as consequências terrenas do pecado geralmente continuam. O adultério pode ser perdoado, mas a destruição do casamento pode ser um efeito permanente. Portanto, a vigilância precisa ser constante.

O desejo de Deus é que, tendo sido perdoados, tenhamos a santificação como novo modo de vida.  “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm.6.23).


Pr. Anísio Renato de Andrade