sábado, 16 de janeiro de 2016

NOMES E IDENTIDADES



Depois de criar cada coisa, a primeira iniciativa de Deus foi dar-lhes um nome. À luz, Deus chamou dia e às trevas, noite. Ao firmamento, Deus chamou céu; à porção seca, terra e às águas, mares (Gn.1.5-10).  Deus deu nome a Adão (Gn.5.2) que, por sua vez,  nomeou os animais (Gn.2.20) e também a sua esposa (Gn.3.20).  Até hoje, quando nasce uma criança, uma das primeiras providências é dar-lhe um nome de acordo com o que ela é, homem ou mulher. Identificação e identidade são importantes para não confundirmos as coisas ou as pessoas. A indefinição não é boa.
O próprio Deus tem vários nomes (Elohim, Javé, Adonai, El-Shaday, etc), os quais foram surgindo no relato bíblico, sempre relacionados à revelação progressiva da natureza divina.  Diante da sarça ardente, Moisés perguntou pelo nome do Senhor. A resposta foi “Eu Sou”, um nome que revela a autossuficiência de Deus.
No Novo Testamento, somos ensinados a chamar o Senhor de “Pai” e aprendemos também sobre o nome que está acima de todos os nomes: Jesus, pelo qual somos libertos, curados e salvos.
Como disse Salomão, “Melhor é o bom nome do que o precioso perfume” (Ec.7.1).  O nome carrega uma história, uma reputação, sendo motivo de orgulho ou vergonha. Pode representar direito e autoridade, abrir e fechar portas, tornando-se um patrimônio a ser preservado. Em nossa sociedade, temos o conceito do nome “limpo” ou “sujo”, que possibilita ou impede a obtenção de crédito.
Atualmente, os nomes também podem ser valiosas marcas comerciais, quando relacionados à excelência de produtos e serviços.  
Os nomes deveriam sempre estar vinculados à identidade, ao caráter e à natureza das coisas e pessoas, mas, infelizmente, nem sempre é assim.  Alguns são enganosos, como acontece com um cachorro chamado Tigre. Hoje em dia, encontramos homens com nome de mulher e vice-versa. Na Internet, existe a possiblidade de se utilizar um “nickname” ou apelido que esconde a identidade, funcionando como proteção ou disfarce.
Precisamos ser cautelosos, pois muitos rótulos bons podem ocultar um conteúdo ruim ou  até venenoso.  A bíblia contém exemplos desse tipo. “Babel” significa “porta de Deus”, mas era apenas um empreendimento humano.  O nome “Judas” é derivado de “Judá”, que significa “louvor”, mas o caráter do apóstolo traidor não correspondia ao seu bom nome. 
Em nossos dias, as nomenclaturas são mudadas com o intuito de enganar ou atenuar a gravidade de alguma coisa. Eufemismos pretendem tornar o pecado mais suave e aparentemente inofensivo. Um nome novo dribla bloqueios psicológicos e sociais relacionados ao antigo.  Assim,  a prostituta tornou-se “garota de programa”; adultério virou “caso”; roubo é “desvio de verba” e a pornografia chama-se agora “nudes”.  Podem trocar o rótulo da cachaça, mas a queda do bêbado continua igual.
“Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que fazem das trevas luz, e da luz trevas; e fazem do amargo doce, e do doce amargo” (Isaías 5.20).
Até mesmo uma religião ou seita pode ter um nome maravilhoso que esconde uma doutrina maligna.
Além do nosso nome pessoal, ganhamos ou incorporamos muitos títulos, adjetivos e substantivos, mas qual é a nossa natureza? Quem somos e o que fazemos?  Isto é o que, de fato, interessa.
Detalhe importante é que ninguém deve dar nome a si mesmo, mas recebê-lo de outrem após um procedimento natural de reconhecimento. Portanto, a primeira atitude diante de alguém que se auto-intitula deve ser de desconfiança seguida, talvez, por um pedido de comprovação. 
“Puseste à prova os que dizem ser apóstolos e não são, e tu os achaste mentirosos” (Ap.2.2).
“Mas tenho contra ti que toleras Jezabel, mulher que se diz profetisa, a ensinar e enganar os meus servos” (Ap.2.20).
Precisamos tomar cuidado com a ilusória satisfação que os bons títulos proporcionam. Eles podem ser úteis e necessários, mas não devem nos impressionar, sujeitando-nos a possíveis enganos. Respeite com cautela e observe. Jesus disse que a árvore boa produz frutos bons, mas a árvore má produz frutos maus (Mt. 7.15-23). Não sejamos como algumas árvores que precisam de placas identificadoras, mas tenhamos bons frutos que testifiquem a nosso respeito. 
Triste foi a situação do líder da igreja de Sardes, sobre o qual o Senhor Jesus disse: “Tens nome de que vives, mas estás morto” (Ap.3.1).
Contudo, a palavra de Deus nos traz esperança.
Diante de seu pai, Jacó disse “Eu sou Esaú”, mas, diante do anjo, precisou confessar “Eu sou Jacó”, que significa “suplantador”. Precisamos assumir diante do Senhor nossa natureza e nossos erros. Então, ele pode nos tocar e transformar. Naquele encontro transformador, o Senhor disse “Não te chamarás mais Jacó, mas Israel; pois como príncipe lutaste com Deus e com os homens, e prevaleceste” (Gn.32.28).
Da mesma forma, Deus mudou o nome de outros personagens bíblicos, como Abraão, Sara e Pedro, demonstrando a mudança realizada em suas vidas. 
O propósito do evangelho é nos transformar, de modo que nos tornemos cada vez mais parecidos com Jesus.  Quando este processo terminar, receberemos um novo nome, por ocasião da nossa entrada na glória celestial.
“Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao que vencer darei a comer do maná escondido, e dar-lhe-ei uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito, o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe” (Ap.2.17).
“A quem vencer, eu o farei coluna no templo do meu Deus, e dele nunca sairá; e escreverei sobre ele o nome do meu Deus, e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que desce do céu, do meu Deus, e também o meu novo nome” (Ap.3.12).


Pr. Anísio Renato de Andrade

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

O TEMPO E AS EXPECTATIVAS





Depois da ressurreição de Cristo, os discípulos tiveram suas esperanças renovadas no sentido de verem Israel liberto de Roma. Então, perguntaram ao Mestre:
"Senhor, restaurarás tu neste tempo o reino a Israel? E ele lhes disse: Não vos compete saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder. Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e sereis minhas testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra" (At.1.6-8).
Quando se aproxima o final do ano, muitas pessoas intensificam suas orações, desejando que Deus as abençoe "ainda neste ano" por meio de uma realização de ordem material, sentimental ou profissional.  Querem um emprego novo, um namoro, um casamento ou um dinheiro extra.
Depois, quando começa o ano novo, esperam que aconteça tudo o que não aconteceu antes, como quem diz: "Tem que ser agora".  
O ano passa e algumas coisas acontecem, outras não, e a expectativa se concentra no ano seguinte.
É claro que Deus sempre pode nos abençoar, mas talvez estejamos esperando algo que não acontecerá, ou não de imediato.
O problema que envolve certas expectativas é a eventual decepção de alguém que colocou um prazo para ver o resultado da sua fé ou a realização dos seus sonhos. Acontece que Deus não segue o nosso calendário. Que diferença faz pra ele, se hoje é 8 de janeiro ou 15 de outubro?
Nossos alvos e metas devem ter prazos, mas não devemos pensar e agir como se pudéssemos “colocar Deus na parede”.  Nossa “pressão” deve ser sobre nós mesmos, para que a nossa parte seja feita dentro de parâmetros razoáveis.
Existe um tempo determinado para cada propósito (Ec.3) e, em muitos casos, não podemos antecipar ou queimar etapas.
A bíblia compara as ações e resultados da nossa vida às semeaduras e colheitas. Existe uma ocasião adequada para semear e outra para colher. Devemos respeitar a idade certa, aproveitar as oportunidades e evitar as armadilhas.
A época da colheita vai depender do quê estamos plantando. Quem deseja colher muito rápido, deve plantar alface. A espera será de poucos dias, mas o resultado não será muito valioso. Árvores frutíferas, porém, demoram anos para produzir. Mas, se o que se pretende é a extração de boa madeira, o plantio será feito por uma geração para que outra colha.
Portanto, tudo depende do tipo de resultado esperado. Por exemplo, nas questões de relacionamento, não se deve precipitar. Quem está com pressa pode comprometer a qualidade.
Tenha propósitos bons. Escolha bem as suas sementes, semeie, cuide e espere o tempo certo. Se o resultado não aparecer neste ano nem no próximo, continue fazendo o que deve ser feito, com paciência e perseverança. Na ocasião certa, o fruto aparecerá.
Deus pode fazer um milagre, de tal forma que uma árvore cresça e frutifique em um só dia, mas isto geralmente não acontece, pois foi ele mesmo quem estabeleceu as leis naturais e espirituais. Devemos respeita-las.
Acima de tudo, precisamos crer que Deus tem os seus propósitos para nós. No caso dos discípulos, Jesus tinha um plano que estava muito além das expectativas individuais. Dentro de poucos dias, eles seriam cheios do Espírito Santo, dando início a um movimento evangelístico rumo aos confins da terra. O plano de Deus é melhor.
Pr. Anísio Renato de Andrade

EMBALAGENS E CONTEÚDOS




Além dos propósitos originais de transporte e proteção dos produtos, as embalagens também servem para torná-los mais atraentes ou, se possível, irresistíveis.  O problema é que, muitas vezes, elas também são utilizadas para enganar o cliente, prometendo e anunciando muito mais do que a realidade pode oferecer.
Uma embalagem linda, colorida e de boa qualidade pode esconder um produto feio, ruim e inútil. Uma grande caixa opaca pode conter pequena quantidade de produto. Invólucros transparentes resolveriam esse tipo de problema, mas poderiam também reduzir as vendas. Tal seria o efeito da sinceridade extrema.
Pior ainda é a embalagem vazia ou contendo algo diferente do que foi encomendado e pago. É o que acontece com algumas compras virtuais. Recentemente, um consumidor pagou por um notebook e recebeu uma caixa com tijolos.
O ser humano é muito iludido pelo que vê. Certamente, não vamos desvalorizar a beleza, mas ela não deve ser o fator determinante para as nossas escolhas.
No caso das pessoas, aparência, educação, eloquência e riqueza funcionam como embalagens, e tudo isso tem o seu valor, mas o conteúdo, bom ou mau, está no caráter. 
Por isso, podem ocorrer enganos na escolha de amigos, namorados, representantes políticos, líderes espirituais etc.
A bíblia nos ensina o caminho da fé na busca do invisível, de modo que não sejamos dependentes de fatores externos que poderiam nos enganar. Por isso, está escrito: "Não farás para ti imagem de escultura" (Ex.20). A espiritualidade não deve ser influenciada ou definida pela beleza das artes.
Sobre o Messias, está escrito: "Olhando nós para ele, nenhuma beleza víamos para que o desejássemos" (Is.53). O propósito de Jesus não era uma conquista baseada em valores superficiais.
Ele mesmo disse: "O Reino de Deus não vem com visível aparência" (Mt.17.20). "Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores. Pelos seus frutos os conhecereis" (Mt.7.15-16). Não se precipite em suas conclusões. Espere que o fruto mostre a natureza da árvore.
É importante que não nos enganemos com as embalagens alheias, mas, sobretudo, não podemos nos enganar com as nossas próprias embalagens.
Como disse Tiago: "Sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos com falsos discursos... Se alguém entre vós cuida ser religioso, e não refreia a sua língua, antes engana o seu coração, a religião desse é vã" (Tg.1.22,26).
Quanto às mulheres, está escrito: "o enfeite delas não seja o exterior, no frisado dos cabelos, no uso de jóias de ouro, na compostura dos vestidos; mas no coração; no incorruptível traje de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus" (IPd.3.3-4).
O Tabernáculo de Moisés tinha um aspecto exterior belo, porém modesto, com madeira, tecidos e peles de animais. Entretanto, quem entrasse nele encontraria várias peças de ouro puro.   Nós também, como templos de Deus, precisamos investir mais nos valores interiores, sendo cheios da palavra de Deus e do Espírito Santo (Col.3.16; Ef.5.18).
Esta reflexão pode nos deixar em dúvida a respeito das pessoas, inclusive sobre nós mesmos. O que será que existe no meu coração? Estarei fingindo ser o que não sou?  Posso estar enganado acerca dos meus líderes, parentes e amigos?
Nem todas as pessoas são fingidas. Muitas assumem claramente o que são. Seu conteúdo está à mostra.  Para as que querem enganar, inclusive no caso do auto-engano, existe o dia da revelação, a hora de “desembrulhar o presente”. 
É o que acontece nas tentações, crises, conflitos, perseguições e perdas. O que está no coração vem à tona. As máscaras caem e cada um revela sua verdadeira identidade. Momentos assim são ideais para conhecermos bem as pessoas.
Nenhum de nós é totalmente puro e incapaz de pecar.  O próprio Davi, que estava aparentemente bem diante de Deus e dos homens, sucumbiu no dia da tentação.  Depois, arrependido, ele pediu a Deus: "Cria em mim um coração puro e um espírito reto" (Sl.51).  Ele sabia que precisava ser purificado profundamente, muito além das aparências. Nós também precisamos, pois o Senhor vê além dos rótulos e das embalagens. Além das ações e palavras, ele contempla nossos pensamentos, sentimentos e intenções. Oremos como o salmista que disse: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração. Prova-me e conhece os meus pensamentos. Vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno” (Salmo 139.23-24).


Pr. Anísio Renato de Andrade