sexta-feira, 24 de julho de 2015

O ESPIRITISMO À LUZ DA BÍBLIA





A invenção do termo, da doutrina e da religião espírita são creditados a Allan Kardec, um francês que viveu entre os anos de 1804 e 1869. A essência do espiritismo é a suposta comunicação com os mortos. Sabendo, porém, que a bíblia já trata do assunto há milhares de anos, compreendemos que o francês não trouxe nenhuma novidade. No jardim do Éden ocorreu o primeiro caso de mediunidade, quando Satanás falou pela boca da serpente. Mais tarde, Moisés escreveu assim a respeito do tema:

"Quando entrares na terra que o Senhor teu Deus te der, não aprenderás a fazer conforme as abominações daquelas nações. Entre ti não se achará quem faça passar pelo fogo a seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro; Nem encantador, nem quem consulte a um espírito adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os mortos; Pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao Senhor; e por estas abominações o Senhor teu Deus os lança fora de diante de ti" (Dt.18.9-12).

A consulta aos mortos é, portanto, uma abominação que a bíblia proíbe e condena.

"Quando, pois, vos disserem: Consultai os que têm espíritos familiares e os adivinhos, que chilreiam e murmuram: Porventura não consultará o povo a seu Deus? A favor dos vivos consultar-se-á aos mortos"? (Is.8.19).

Os espíritas citam a bíblia quando lhes convém, tentando conseguir, na autoridade das Escrituras, algum respaldo para suas crenças. Contudo, usam apenas alguns textos isolados.

Gostam muito de lembrar a consulta do rei Saul à feiticeira de Endor (1Sm.28), afirmando que esse relato comprova e autoriza as sessões espíritas. Em primeiro lugar, é bom dizer que a já citada lei de Deuteronômio 18 estava em vigor na época do rei Saul. Portanto, o rei e a necromante estavam transgredindo a vontade de Deus. O texto se refere ao espírito ali presente como "Samuel". Seria o profeta? Temos várias razões para acreditar que não. Tendo Deus rejeitado Saul, de modo que não lhe falava mais pelos profetas nem por outro meio (1Sm.28.6), o Senhor não permitiria que o falecido profeta Samuel se manifestasse naquela sessão proibida.

O texto cita o nome de Samuel a partir da opinião de Saul. No início da manifestação, a mulher disse: "Vejo deuses que sobem da terra" (1Sm.28.13).  Depois, Saul "entendeu" que era Samuel (v.14). Se eram "deuses", como poderia ser Samuel? Se subiam, vinham do abismo e não do céu.  Além de qualquer tentativa de se justificar aquela sessão espírita, está a reprovação bíblica, colocando aquela consulta entre os motivos de condenação de Saul:

"Assim morreu Saul por causa da transgressão que cometeu contra o Senhor, por causa da palavra do Senhor, a qual não havia guardado; e também porque buscou a adivinhadora para a consultar" (1Crônicas 10.13).

A feiticeira era também chamada "pitonisa", palavra relacionada à serpente Píton. Coisa boa não devia ser.

Se a bíblia proíbe a consulta aos mortos, dizem os espíritas, é porque ela funciona. Digo que, se a bíblia proíbe, não devemos fazer.  Os mortos não respondem, mas sim os demônios. Muitas pessoas, que eram possuídas por espíritos, supostamente humanos, foram libertas nas igrejas evangélicas quando seus guias foram expulsos de seus corpos. Nas sessões espíritas e centros de macumba, eles se manifestam imitando a voz, a letra e mencionando fatos a respeito de pessoas falecidas, com o propósito de enganar a muitos que buscam conforto pela perda de seus entes queridos.

Um dos pilares do espiritismo é a doutrina da reencarnação. Há quem tente conciliar tal ensinamento com o evangelho, mas isto não é possível. Como está escrito: "Aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo" (Heb.9.27). As eventuais ressurreições citadas na bíblia são exceções à regra, bem como os casos de personagens que nunca morreram, como Enoque e Elias.  A doutrina da reencarnação, entretanto, é apresentada como regra pelos espíritas. Isto seria a negação absoluta do texto bíblico.

Por outro lado, se a reencarnação é o meio de purificação dos pecados, Jesus Cristo não precisaria ter vindo ao mundo morrer para nos salvar. Portanto, espiritismo e cristianismo são incompatíveis.

Se o sofrimento da vida presente é uma forma de pagar pelos pecados das supostas vidas passadas, os espíritas não deveriam fazer caridade, pois estão impedindo que as pessoas paguem pelos seus erros.

Afirmar que a condição de um aleijado de nascença  é consequência dos seus pecados é uma grave acusação sem provas, favorável à discriminação e ao preconceito.

Os espíritas acreditam em Jesus como um espírito evoluído e iluminado. Então, devem admitir que ele, quando curou as pessoas, agiu contra o suposto processo purificador das reencarnações e dos sofrimentos em suas vidas.

Se, de fato, os sofrimentos da vida presente são consequências dos pecados em vidas passadas, por que sofrem os animais? Eles também reencarnam? Neste ponto, os espíritas se dividem em suas opiniões.

Talvez o texto bíblico mais apreciado pelos espíritas seja aquele que cita as palavras de Jesus sobre João Batista, dizendo que ele é "o Elias que havia de vir" (Mt.11.14).

O próprio João Batista afirmou que ele não era Elias (João 1.21).  Evidentemente, Jesus não mentiu nem se enganou. Quando João é chamado de Elias, trata-se de uma forma figurada de se afirmar a semelhança entre os ministérios de ambos.  Vejamos o que o anjo disse ao pai de João Batista:

"E irá adiante dele no espírito e virtude de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos" (Lc.1.17).

Ademais, Elias não morreu, mas subiu ao céu vivo, no meio de um redemoinho (2Rs.2). Logo, de acordo com a doutrina da reencarnação, não poderia reencarnar, pois não desencarnou.

O uso figurado de nomes não nos deve fazer confundir as pessoas. Por exemplo, o fato de Jesus ter chamado Pedro de Satanás e Judas Iscariotes de Diabo nunca fez ninguém concluir que os discípulos eram duas versões do capiroto (Mt.16.23; João 6.70).

Paulo se referiu a Jesus como o "último Adão" (1Co.15.45). Isto significa que Jesus era reencarnação de Adão? Os espíritas negam isso, mas, paradoxalmente, continuam afirmando  que João era reencarnação de Elias.  O lendário Inri Cristo defende a tese de que Jesus seria Adão. Pelo jeito, ele entendeu e assimilou bem a doutrina espírita.

Se João Batista era Elias, quem deveria ter aparecido no monte das transfigurações era João, mas o Elias "original" apareceu lá (Mt.17).

A doutrina da reencarnação envolve uma série de contradições. Por exemplo, se os mortos reencarnam, como continuam baixando nos centros?

Os espíritas dizem que, em suas sessões, manifestam-se espíritos mais evoluídos para doutrinarem os atrasados. Se isso é verdade, porque eles não realizam essas aulas diretamente lá no mundo espiritual? Jesus nunca doutrinou demônios, mas expulsou todos eles. Assim fazemos nós também.

O racismo é característica intrínseca do espiritismo kardecista. Allan Kardec escreveu que os negros precisam reencarnar em corpos melhores.

Reproduzo aqui suas palavras:

"Os negros, pois, como organização física, serão sempre os mesmos; como Espíritos, sem dúvida, são uma raça inferior, quer dizer, primitiva; são verdadeiras crianças às quais pode-se ensinar muito pouco; mas, por cuidados inteligentes, pode-se sempre modificar certos hábitos, certas tendências, e já é um progresso que levarão numa outra existência, e que lhes permitirá, mais tarde, tomar um envoltório em melhores condições."
(Envoltório = corpo)
(Allan Kardec - Revista Espírita, abril de 1862)

"O progresso não foi, pois, uniforme em toda a espécie humana; as raças mais inteligentes naturalmente progrediram mais que as outras, sem contar que os Espíritos, recentemente nascidos na vida espiritual, vindo a se encarnar sobre a Terra desde que chegaram em primeiro lugar, tornam mais sensíveis a diferença do progresso. Com efeito, seria impossível atribuir a mesma antiguidade de criação aos selvagens que mal se distinguem dos macacos, que aos chineses, e ainda menos aos europeus civilizados"
(Allan Kardec, A Gênese, pág. 187)."

"Em relação à sexta questão, dir-se-á, sem dúvida, que o Hotentote é de uma raça inferior; então, perguntaremos se o Hotentote é um homem ou não. Se é um homem, por que Deus o fez, e à sua raça, deserdado dos privilégios concedidos à raça caucásica? Se não é um homem, porque procurar fazê-lo cristão?"
(Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, cap. V, p. 127).

"O negro pode ser belo para o negro, como um gato é belo para um gato; mas não é belo no sentido absoluto, porque os seus traços grosseiros, seus lábios espessos acusam a materialidade dos instintos; podem bem exprimir as paixões violentas, mas não saberiam se prestar às nuanças delicadas dos sentimentos e às modulações de um espírito fino.
Eis porque podemos, sem fatuidade, eu creio, nos dizer mais belos do que os negros e os Hotentotes; mas talvez também seremos, para as gerações futuras, o que os Hotentotes são em relação a nós; e quem sabe se, quando encontrarem os nossos fósseis, não os tomarão pelos de alguma variedade de animais".
(Allan Kardec, Teoria da Beleza, in Obras Póstumas, p.131)

"A raça negra é perfectível? Segundo algumas pessoas, essa questão está julgada e resolvida negativamente. Se assim é, e se essa raça está votada por Deus a uma eterna inferioridade, a consequência é que é inútil se preocupar com ela, e que é preciso se limitar a fazer do negro uma espécie de animal doméstico adestrado para a cultura do açúcar e do algodão ".
(Allan Kardec - Revista Espírita, abril de 1862)

Uma pessoa pode passar a vida inteira dentro de um centro espírita e nunca ouvir falar sobre estes textos que estão nos livros de Kardec e na Internet à disposição de todos.

O racismo kardecista fez surgir a umbanda pois, nas sessões espíritas dos brancos, não se manifestavam os espíritos dos "ancestrais" negros.  

O espiritismo tem enganado a muitos com seus atos de caridade. Contudo, sua essência é demoníaca.

Somos contra a doutrina espírita, mas não contra os seus adeptos que, como nós, são amados por Deus e precisam de Cristo para serem salvos.

Pr. Anísio Renato de Andrade

QUEM É JESUS E QUEM SOU EU?





Quando alguém bate à porta, a pergunta que normalmente se faz é esta: "Quem é"?  O mesmo acontece nos contatos telefônicos etc. A identificação é muito importante porque está relacionada ao caráter e à expectativa que se pode ter. O que a pessoa fala, faz, possui ou oferece é secundário. Precisamos saber quem ela é.

Vemos esse tipo de cuidado na bíblia:  "Quando eu for aos filhos de Israel, e lhes disser: O Deus de vossos pais me enviou a vós; e eles me disserem: Qual é o seu nome? Que lhes direi?  ...Assim dirás aos filhos de Israel: Eu Sou me enviou a vós... O Senhor, Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó, me enviou a vós" (Ex.3.13-15).

A preocupação de Moisés era pertinente. Não podemos ter uma ideia vaga ou indefinida sobre Deus. Não servimos a um "deus" qualquer, mas ao único criador de todas as coisas.

Quando Jesus se manifestou, seus milagres chamaram a atenção de muita gente e a pergunta inevitável era: "Quem é este"?

"E sentiram um grande temor, e diziam uns aos outros: Mas quem é este, que até o vento e o mar lhe obedecem"? (Mc.4.41).

O ápice do questionamento encontra-se no evangelho de Mateus:

"E, chegando Jesus às partes de Cesaréia de Filipe, interrogou os seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens ser o Filho do homem? E eles disseram: Uns, João o Batista; outros, Elias; e outros, Jeremias, ou um dos profetas. Disse-lhes ele: E vós, quem dizeis que eu sou? E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. E Jesus, respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus" (Mt.16:13-17).

Depois de um tempo caminhando com os discípulos, o Mestre pede um feedback, como se dissesse: "Vamos ver qual é o resultado do discipulado até este ponto".  Não basta ser abençoado e aprender boas lições para a vida. Precisamos saber quem é Jesus e tomar uma posição a respeito dele.

Havia muitas opiniões sobre a identidade de Jesus. Apesar de erradas, eram suposições positivas. Seu caráter e suas obras ligavam sua figura aos grandes profetas de Deus.
Se fizermos uma pesquisa de opinião pública sobre nós mesmos, qual será o resultado? As respostas serão reflexos do nosso testemunho, bom ou mau.

Alguns diziam que Jesus era um dos profetas que ressuscitou (Lc.9.18-19).  Temos nessa afirmação um exemplo de fé sem conhecimento espiritual. Eles conheciam as Escrituras e os profetas, mas não sabiam quem era Jesus. Algumas pessoas naquele tempo já acreditavam em ressurreição! Isto era muito avançado para a época. Contudo, de nada adiantam doutrinas corretas sem o conhecimento da pessoa de Jesus.

Elias, Jeremias e João Batista foram lembrados, mas nenhum deles alcançava a grandeza de Cristo. Assim também, de nada adiantará a veneração a tantos personagens da história, pois só Jesus é o salvador.  Nenhum dos profetas antigos ressuscitou, mas Jesus ressuscitaria em breve.

Depois de tomar conhecimento acerca da opinião popular, Jesus perguntou: "E vós, quem dizeis que eu sou"? Não nos basta o senso comum. Cada um de nós precisa posicionar-se sobre Jesus. As opiniões sobre ele continuam variadas e geralmente equivocadas ou incompletas. Seria ele um filósofo, revolucionário, um mestre ou espírito iluminado?

Pedro disse: "Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo".  Este reconhecimento é a porta da salvação.  Como disse João: "Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome" (Jo.20.31).

Então, Jesus disse: "Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus". Aqui está a fronteira entre o conhecimento natural e o espiritual. Podemos evangelizar, e devemos fazê-lo, mas a consciência sobre a identidade de Cristo vem de uma revelação de Deus.  Por isso, os debates com ateus são sempre infrutíferos. A pregação, contudo, não é a exposição de um tratado teológico, mas uma semeadura. A semente lançada, mesmo caindo em boa terra, ainda depende de Deus para germinar.

Depois do "eu sou" vem o "tu és". Jesus disse: "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja" (Mt.16.18).  Temos uma brusca mudança de foco no episódio. O assunto muda da "identidade de Jesus" para a "identidade de Pedro". O discípulo, depois de reconhecer o Mestre, é levado a olhar para si mesmo em busca do auto-conhecimento.

O encontro com Jesus sempre nos leva a olhar para nós mesmos. Só diante da luz podemos nos enxergar. Diante do evangelho reconhecemos nossa condição de pecadores.  Mas, além de tudo isso, o encontro com Jesus é transformador. Simão Barjonas torna-se Pedro. Este foi o nome que Jesus lhe deu, conforme Lucas 6.14.  O Mestre mudou o nome de Simão, mas não foi só isso. Transformou também seu caráter, seu rumo e sua história. 

Novamente, Jesus altera o tema da conversa ao dizer: "Sobre esta pedra edificarei a minha igreja" (Mt.16.18). O propósito divino para os séculos seguintes estava colocado diante dos apóstolos. Foi assim que a igreja começou: encontro com Jesus, reconhecimento, fé e transformação. O povo de Deus é constituído por pessoas transformadas por Jesus. Contra elas, as portas do inferno não prevalecerão.

Pr. Anísio Renato de Andrade


quinta-feira, 23 de julho de 2015

O VOTO NA BÍBLIA



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O VOTO NA BÍBLIA

Embora a palavra apareça nas Escrituras no sentido de eleição ou decisão (At.1.26; 26.10), o significado mais comum do voto é o de uma promessa solene.  Hoje em dia, costuma-se falar em "propósito", talvez com o mesmo sentido, mas isto só é verdade se a pessoa faz uma promessa a Deus em oração, dizendo: "Farei tal coisa" ou "prometo tal coisa".  Propósito sem oração não tem valor espiritual.

O objeto da promessa é livre, mas não vale prometer o inexequível,  o que não me pertence ou o que foi proibido. Não adianta dizer: "Prometo que darei o carro da minha mãe como oferta" ou "Prometo que nunca vou matar ninguém". Isso não é mais do que a minha obrigação. Por exemplo, dinheiro de prostituição não deve ser apresentado diante do Senhor sob qualquer pretexto (Dt.23.18).

O primeiro exemplo de voto está em Gênesis 28.20-22: "E Jacó fez um voto, dizendo: Se Deus for comigo, e me guardar nesta viagem que faço, e me der pão para comer, e vestes para vestir; e eu em paz tornar à casa de meu pai, o Senhor me será por Deus; E esta pedra que tenho posto por coluna será casa de Deus; e de tudo quanto me deres, certamente te darei o dízimo".

A hora do aperto muitas vezes se transforma na hora do voto (1Sm.1.11,21). Depois, o próprio Deus mencionou o voto de Jacó em Gn.31.13, ou seja, o Senhor estava atento e, obviamente, não se esqueceu da promessa. O pedido de Jacó era coerente com o propósito de Deus. Por isso foi atendido. É provável que todas aquelas bênçãos viriam sem o voto, pois o Senhor já tinha propósitos na vida de Jacó e as promessas feitas a Abraão não seriam anuladas.

Mais tarde, os votos foram regulamentados pela lei de Moisés, mostrando o que seria ou não aceito e como fazer (Lv.7.16; 22.21-23; 27.2-8; Num.15.3,8; 21.2). Normalmente, os israelitas prometiam o sacrifício de um animal como oferta ao Senhor. Um caso excepcional foi o de Jefté, que prometeu sacrificar o que saísse de sua casa quando ele voltasse da guerra. Saiu a filha e foi sacrificada. Foi um voto absurdo, feito numa época em que muitos absurdos aconteceram em Israel por falta de uma liderança nacional definida (Jz.11.30-39).  Quando se reconhece que o voto está errado, o melhor a se fazer é o seu cancelamento mediante oração, com o devido pedido de perdão. Será que a vitória de Jefté dependia daquele voto? Creio que não, pois Deus tinha um compromisso com a nação de Israel, independente do voto. Outros juízes foram vitoriosos sem que tenham feito qualquer promessa.

O cancelamento de voto é previsto nas Escrituras. Se uma mulher fizesse uma promessa ao Senhor e isso chegasse ao conhecimento do pai ou do marido e ele não estivesse de acordo, o voto seria declarado nulo diante de Deus (Num.30.1-14).

Um tipo especial de voto era do nazireado, no qual os pais consagravam os filhos (Jz.13.5) ou a própria pessoa se consagrava ao Senhor durante um tempo ou definitivamente (Num.6.1-21). O nazireu tinha obrigações definidas na lei de Moisés: não poderia tomar bebidas fortes, nem consumir uvas e seus derivados, nem cortar os cabelos nem tocar em cadáveres. Em "compensação", tinham uma unção sobrenatural. Esse tipo de voto era um "pacote" de obrigações pré-definidas. Nos casos de Sansão  e João Batista, o nazireado foi determinado pelo próprio Deus (Jz.13.5; Lc.1.15). Aqueles homens precisavam ser especialmente consagrados porque suas missões eram especiais.

O voto não deve ser feito como uma tentativa de troca ou negócio com Deus, mas como forma de dedicação especial, súplica em face da necessidade urgente ou demonstração de gratidão. Certamente, a intenção do coração será o mais importante, pois Deus não precisa de nada que possamos oferecer. Não devemos pensar que possamos convencê-lo a fazer ou dar-nos algo pelo fato de lhe prometermos uma oferta. Não é possível subornar Deus. Contudo, um coração contrito ou grato é o que toca o coração do Pai (Salmo 51.17). 

Alguns votos estão relacionados a bênçãos ou unções especiais. Contudo, é melhor deixar que Deus escolha a bênção, caso ela venha a acontecer, pois ele é soberano e não se obriga pelas nossas ações.  Sansão vivia sob o voto do nazireado. Contudo, sua força foi uma característica determinada por Deus e não por ele mesmo. 

Não devemos usar o voto como ferramenta da nossa própria cobiça para obter coisas materiais. O voto de Jacó envolvia coisas materiais, mas ele se encontrava em grande aperto e necessidade. Não foi para alcançar coisas supérfluas que atendessem à sua vaidade pessoal.

O jejum é um tipo de voto, desde que tenha sido iniciado com uma oração envolvendo uma promessa de abstinência durante determinado tempo.

Uma questão muito importante a ser destacada é a seriedade do voto, como está escrito:

"Quando um homem fizer voto ao Senhor, ou fizer juramento, ligando a sua alma com obrigação, não violará a sua palavra: segundo tudo o que saiu da sua boca, fará" (Num.30.2).

"Quando fizeres algum voto ao Senhor teu Deus, não tardarás em cumpri-lo; porque o Senhor teu Deus certamente o requererá de ti, e em ti haverá pecado" (Dt.23.21).

"Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos; o que votares, paga-o. Melhor é que não votes do que votares e não cumprires. Não consintas que a tua boca faça pecar a tua carne, nem digas diante do anjo que foi erro; por que razão se iraria Deus contra a tua voz, e destruiria a obra das tuas mãos? Porque, como na multidão dos sonhos há vaidades, assim também nas muitas palavras; mas tu teme a Deus." (Ec.5.4-7).

"Laço é para o homem apropriar-se do que é santo, e só refletir depois de feitos os votos" (Pv.20.25).

Não podemos fazer voto de tolo. Se é importante que um homem cumpra a sua palavra diante de outro homem, quanto mais diante de Deus? Ninguém é obrigado a fazer um voto, mas, uma vez que foi feito, deve ser cumprido, guardadas as exceções já mencionadas. O não cumprimento configura pecado de mentira contra Deus e pode trazer consequências ruins.

Devemos evitar a banalização do voto. É melhor que não seja feito. Um voto é um compromisso extraordinário com Deus. Quebrá-lo é um pecado grave, embora não seja imperdoável.

Devemos tomar cuidado com votos feitos por ordem de qualquer pessoa. Se você fizer o voto, deverá cumpri-lo. Portanto, pense bem, antes de se comprometer. Não levante a mão levianamente prometendo ofertas ou jejuns que não estão ao seu alcance. Não prometa valores que você não tem, a não ser que você diga claramente que o cumprimento está condicionado à aquisição dos recursos. Nenhum líder deve conduzir seus liderados a fazerem promessas ao Senhor. Se alguma sugestão for feita neste sentido, também devem ser anunciados os riscos e a seriedade do voto.

Ninguém deve ser obrigado a fazer votos.  Não sejamos irresponsáveis com coisas tão sérias.

Nunca use um voto como forma de compensação por um pecado. Nada substitui uma vida de obediência a Deus. Ele não quer jejum ou ofertas de ímpios ou de crentes rebeldes. 

Muitos dos textos aqui citados estão no Antigo Testamento, mas os votos aparecem também no Novo Testamento (At.18.18; 21.23). Certamente, muita coisa mudou na Nova Aliança, exceto a seriedade da nossa relação com Deus.  Hoje, não vamos prometer animais para o sacrifício nem faremos votos de nazireus. Contudo, podemos fazer promessas ao Senhor, se assim desejarmos, com responsabilidade e bom senso. Se prometemos, devemos cumprir. Afinal, não queremos também que ele cumpra suas promessas em nossas vidas?

Pr. Anísio Renato de Andrade



quinta-feira, 9 de julho de 2015

OS PREGADORES SÃO OS PROFETAS ATUAIS?




Há algumas décadas, os cristãos se dividiam entre os que criam e os que negavam a existência de profetas na igreja. Agora, temos a terceira via, afirmando que os pregadores são os profetas da atualidade. Pronto, chegou-se a um ponto de equilíbrio antibíblico.
O que a bíblia diz?
"E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres" (Ef.4.11). São "outros" e não "os mesmos".
Pastor é pastor, profeta é profeta. Uma pessoa pode até ter os dois ministérios e profetizar enquanto prega, mas isso é raro. Profetizar é dizer o que Deus falou diretamente ao profeta e não apenas repetir o que a bíblia disse. Falar o que eu quero que aconteça na vida de alguém não é profetizar. Ficar dizendo "eu profetizo isso e aquilo na sua vida" é uma ótima forma de tornar-se um falso profeta.
Profetizar é dizer o que Deus mandou que fosse dito. Não vale repetir o que o pregador diz. Precisamos é orar mais e buscar os dons espirituais que Paulo listou na primeira carta aos coríntios.
A bíblia não diz "profetizai sem cessar", mas sim "orai sem cessar". Devemos orar pelos irmãos e não ficar "profetizando isso e aquilo na vida deles". Só os profetas podem profetizar. Um texto que tem sido usado para justificar a prática é a visão do vale de ossos secos, onde o Senhor disse: "Profetiza sobre estes ossos" (Ez.37.4). Ezequiel profetizou porque Deus mandou. Se você ouve Deus diretamente, e ele te manda profetizar, vai em frente. Ezequiel profetizou, mas os israelitas não estavam autorizados a saírem profetizando uns para os outros conforme seus próprios desejos ou mesmo repetindo profecias alheias. A coisa era muito séria, porque a profecia que não se cumprisse significava pena de morte para o indivíduo.
"O profeta que tiver a presunção de falar alguma palavra em meu nome, que eu não lhe tenha mandado falar, ou o que falar em nome de outros deuses, esse profeta morrerá" (Dt.18.20).
O que acontece é que ultimamente tem sido dado um sentido diferente à palavra "profetizar", mas esse sentido não é bíblico.
Por exemplo, se perguntarem se você pode "abençoar um irmão", talvez você pensará que ele está precisando de uma ajuda financeira, não é mesmo? Este é um exemplo de como pegamos as palavras bíblicas e deturpamos o seu significado. Precisamos voltar à bíblia. Se alguém se considera profeta, profetize. Se a profecia se cumprir, é de Deus, mas profetizar simplesmente o que queremos que aconteça não é certo e não é bíblico.
Se todos puderem profetizar à vontade o que bem entenderem, quem vai cumprir essas profecias? Deus? Isso o colocaria como refém do homem. De fato, Deus só se compromete a fazer aquilo que ele mesmo falou. Aqui está o limite do propagado poder das palavras humanas.
A verdadeira profecia é sobrenatural, pode desvendar coisas ocultas que o profeta não seria capaz de descobrir, podendo também trazer previsões que vão se cumprir, a não ser, por exemplo, que o arrependimento desvie o castigo (como ocorreu no caso de Nínive). As profecias bíblicas eram quase sempre pesadas. Eram até chamadas de "peso do Senhor" (Mal.1.1). Envolviam repreensões contra o pecado, avisos de juízo e promessas de bênçãos para os arrependidos. Não é uma lista de coisas boas que uma pessoa deseja pra outra ou para si mesma. O aspecto pesado das profecias fazia com que os profetas fossem odiados geralmente. Os profetas bem quistos eram os falsos.
O mesmo vale para os atos proféticos, os quais têm mais a ver com o Antigo Testamento. Só podem ser feitos por profetas e por ordem de Deus. Se não for assim, será apenas uma simpatia (ou antipatia mesmo).

Pr. Anísio Renato de Andrade

quinta-feira, 2 de julho de 2015

A NOIVA, O SERVO, O FILHO E O SOLDADO






A bíblia nos fala de tantas maneiras diferentes, que podem parecer contraditórias. Somos a noiva de Cristo, servos de Deus, seus filhos ou soldados? Somos tudo isso. Uma visão voltada exclusivamente para uma dessas facetas pode causar distorção no entendimento e na prática cristã. Todos esses termos referem-se à realidade espiritual, mas, em primeira análise, devem ser considerados como metáforas plenamente conciliáveis no que tange às lições transmitidas. Pensando assim, não perguntaremos como Jesus pode ser, ao mesmo tempo, o pastor e a porta das ovelhas, o cordeiro de Deus e o leão de Judá (João 10.7,11; Ap.5.5).

Jesus contou muitas parábolas relacionadas ao reino de Deus, como se vê, por exemplo, nos capítulos 13 e 25 do evangelho de Mateus. Por que tantas? Não seria repetitivo?  O que ocorre é que nenhuma parábola é suficiente para expressar toda a realidade espiritual. Então, o Mestre contou diversas. Cada uma demonstra diferentes aspectos, conceitos e valores do reino. 

Em Mateus 25, Jesus começou falando sobre 10 virgens que esperavam o noivo, mas, desejando mostrar o outro lado da questão, ele falou, na sequência, sobre 3 servos que esperavam o seu senhor (Mt.25.14-30). Jesus deseja que tenhamos uma visão cada vez mais ampla sobre a sua pessoa, sobre o Pai, o reino de Deus, a segunda vinda e sobre nós mesmos, nossa posição e responsabilidades.

"Regozijemo-nos, e alegremo-nos, e demos-lhe glória; porque vindas são as bodas do Cordeiro, e já a sua noiva se aprontou" (Ap.19.7).

A igreja é a noiva de Cristo. Esta figura nos lembra o amor, o compromisso, a festa de casamento e a intimidade. O noivo não é ausente ou distante. Não é uma pessoa estranha ou indiferente. Cristo se importa conosco e nos ama profundamente. O amor é a base de tudo, mas não é o fim. Existe muito mais na nossa relação com Deus.

"Mas agora, libertados do pecado, e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna" (Rm.6.22).

Na parábola dos talentos, somos representados pelos servos (Mt.25.14-30). É outra perspectiva que o cristão precisa ter acerca de si mesmo. Agora, não se fala em festa, mas em recursos, responsabilidade, trabalho e prestação de contas. Precisamos servir ao Senhor de acordo com os dons que ele nos confiou. Contudo, não podemos ter apenas essa visão, transformando a vida cristã em ativismo mecânico ou meramente profissional. Precisamos servir por amor, ainda que haja uma recompensa.

"Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus" (João 1.12).

Quando nos trata como filhos, a palavra nos lembra vínculo, natureza e herança. Contudo, não podemos nos esquecer da nossa participação no exército de Deus. Somos soldados. Isso nos lembra disciplina, treinamento, armamento, inimigos, lutas, guerras e vitórias.

"Sofre, pois, comigo, as aflições, como bom soldado de Jesus Cristo" (2Tm.2.3).

A percepção parcial da identidade cristã pode criar expectativas indevidas. Como filhos, esperamos benefícios, provisão, carinho e proteção. Não está errado, mas o que faremos quando Deus permitir dificuldades em nossas vidas?  Quem não tem luta é soldado morto.

"Amados, não estranheis a ardente prova que vem sobre vós para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse" (IPd.4.12).
 
Portanto, a vida espiritual assemelha-se muito à vida natural quanto à diversidade de papéis e situações. Queremos bênção sem compromisso? Vitória sem luta? Canaã sem deserto? Festa sem trabalho?

Devemos confiar em Deus e aceitar o que ele tem para nós, certos de que, "todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus (Rm.8.28). 

Pr. Anísio Renato de Andrade