Quando alguém bate à porta, a pergunta que normalmente se
faz é esta: "Quem é"? O mesmo
acontece nos contatos telefônicos etc. A identificação é muito importante
porque está relacionada ao caráter e à expectativa que se pode ter. O que a
pessoa fala, faz, possui ou oferece é secundário. Precisamos saber quem ela é.
Vemos esse tipo de cuidado na bíblia: "Quando eu for aos filhos de Israel, e
lhes disser: O Deus de vossos pais me enviou a vós; e eles me disserem: Qual é
o seu nome? Que lhes direi? ...Assim
dirás aos filhos de Israel: Eu Sou me enviou a vós... O Senhor, Deus de vossos
pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó, me enviou a
vós" (Ex.3.13-15).
A preocupação de Moisés era
pertinente. Não podemos ter uma ideia vaga ou indefinida sobre Deus. Não
servimos a um "deus" qualquer, mas ao único criador de todas as
coisas.
Quando Jesus se manifestou, seus
milagres chamaram a atenção de muita gente e a pergunta inevitável era:
"Quem é este"?
"E sentiram um grande temor,
e diziam uns aos outros: Mas quem é este, que até o vento e o mar lhe
obedecem"? (Mc.4.41).
O ápice do questionamento
encontra-se no evangelho de Mateus:
"E, chegando Jesus às partes de Cesaréia de Filipe,
interrogou os seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens ser o Filho do
homem? E eles disseram: Uns, João o Batista; outros, Elias; e outros, Jeremias,
ou um dos profetas. Disse-lhes ele: E vós, quem dizeis que eu sou? E Simão
Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. E Jesus,
respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não
revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus" (Mt.16:13-17).
Depois de um tempo caminhando com os discípulos, o Mestre
pede um feedback, como se dissesse: "Vamos ver qual é o resultado do
discipulado até este ponto". Não
basta ser abençoado e aprender boas lições para a vida. Precisamos saber quem é
Jesus e tomar uma posição a respeito dele.
Havia muitas opiniões sobre a
identidade de Jesus. Apesar de erradas, eram suposições positivas. Seu caráter
e suas obras ligavam sua figura aos grandes profetas de Deus.
Se fizermos uma pesquisa de
opinião pública sobre nós mesmos, qual será o resultado? As respostas serão
reflexos do nosso testemunho, bom ou mau.
Alguns diziam que Jesus era um dos
profetas que ressuscitou (Lc.9.18-19).
Temos nessa afirmação um exemplo de fé sem conhecimento espiritual. Eles
conheciam as Escrituras e os profetas, mas não sabiam quem era Jesus. Algumas
pessoas naquele tempo já acreditavam em ressurreição! Isto era muito avançado
para a época. Contudo, de nada adiantam doutrinas corretas sem o conhecimento
da pessoa de Jesus.
Elias, Jeremias e João Batista
foram lembrados, mas nenhum deles alcançava a grandeza de Cristo. Assim também,
de nada adiantará a veneração a tantos personagens da história, pois só Jesus é
o salvador. Nenhum dos profetas antigos
ressuscitou, mas Jesus ressuscitaria em breve.
Depois de tomar conhecimento
acerca da opinião popular, Jesus perguntou: "E vós, quem dizeis que eu
sou"? Não nos basta o senso comum. Cada um de nós precisa posicionar-se
sobre Jesus. As opiniões sobre ele continuam variadas e geralmente equivocadas
ou incompletas. Seria ele um filósofo, revolucionário, um mestre ou espírito iluminado?
Pedro disse: "Tu és o Cristo,
o filho do Deus vivo". Este
reconhecimento é a porta da salvação.
Como disse João: "Estes, porém, foram escritos para que creiais que
Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu
nome" (Jo.20.31).
Então, Jesus disse:
"Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o
sangue, mas meu Pai, que está nos céus". Aqui está a fronteira entre o
conhecimento natural e o espiritual. Podemos evangelizar, e devemos fazê-lo,
mas a consciência sobre a identidade de Cristo vem de uma revelação de
Deus. Por isso, os debates com ateus
são sempre infrutíferos. A pregação, contudo, não é a exposição de um tratado
teológico, mas uma semeadura. A semente lançada, mesmo caindo em boa terra,
ainda depende de Deus para germinar.
Depois do "eu sou" vem o
"tu és". Jesus disse: "Tu és Pedro, e sobre esta pedra
edificarei a minha igreja" (Mt.16.18).
Temos uma brusca mudança de foco no episódio. O assunto muda da "identidade
de Jesus" para a "identidade de Pedro". O discípulo, depois de
reconhecer o Mestre, é levado a olhar para si mesmo em busca do
auto-conhecimento.
O encontro com Jesus sempre nos
leva a olhar para nós mesmos. Só diante da luz podemos nos enxergar. Diante do
evangelho reconhecemos nossa condição de pecadores. Mas, além de tudo isso, o encontro com Jesus é transformador.
Simão Barjonas torna-se Pedro. Este foi o nome que Jesus lhe deu, conforme
Lucas 6.14. O Mestre mudou o nome de
Simão, mas não foi só isso. Transformou também seu caráter, seu rumo e sua
história.
Novamente, Jesus altera o tema da
conversa ao dizer: "Sobre esta pedra edificarei a minha igreja"
(Mt.16.18). O propósito divino para os séculos seguintes estava colocado diante
dos apóstolos. Foi assim que a igreja começou: encontro com Jesus, reconhecimento,
fé e transformação. O povo de Deus é constituído por pessoas transformadas por
Jesus. Contra elas, as portas do inferno não prevalecerão.
Pr. Anísio Renato de Andrade
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