quinta-feira, 2 de julho de 2015

A NOIVA, O SERVO, O FILHO E O SOLDADO






A bíblia nos fala de tantas maneiras diferentes, que podem parecer contraditórias. Somos a noiva de Cristo, servos de Deus, seus filhos ou soldados? Somos tudo isso. Uma visão voltada exclusivamente para uma dessas facetas pode causar distorção no entendimento e na prática cristã. Todos esses termos referem-se à realidade espiritual, mas, em primeira análise, devem ser considerados como metáforas plenamente conciliáveis no que tange às lições transmitidas. Pensando assim, não perguntaremos como Jesus pode ser, ao mesmo tempo, o pastor e a porta das ovelhas, o cordeiro de Deus e o leão de Judá (João 10.7,11; Ap.5.5).

Jesus contou muitas parábolas relacionadas ao reino de Deus, como se vê, por exemplo, nos capítulos 13 e 25 do evangelho de Mateus. Por que tantas? Não seria repetitivo?  O que ocorre é que nenhuma parábola é suficiente para expressar toda a realidade espiritual. Então, o Mestre contou diversas. Cada uma demonstra diferentes aspectos, conceitos e valores do reino. 

Em Mateus 25, Jesus começou falando sobre 10 virgens que esperavam o noivo, mas, desejando mostrar o outro lado da questão, ele falou, na sequência, sobre 3 servos que esperavam o seu senhor (Mt.25.14-30). Jesus deseja que tenhamos uma visão cada vez mais ampla sobre a sua pessoa, sobre o Pai, o reino de Deus, a segunda vinda e sobre nós mesmos, nossa posição e responsabilidades.

"Regozijemo-nos, e alegremo-nos, e demos-lhe glória; porque vindas são as bodas do Cordeiro, e já a sua noiva se aprontou" (Ap.19.7).

A igreja é a noiva de Cristo. Esta figura nos lembra o amor, o compromisso, a festa de casamento e a intimidade. O noivo não é ausente ou distante. Não é uma pessoa estranha ou indiferente. Cristo se importa conosco e nos ama profundamente. O amor é a base de tudo, mas não é o fim. Existe muito mais na nossa relação com Deus.

"Mas agora, libertados do pecado, e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna" (Rm.6.22).

Na parábola dos talentos, somos representados pelos servos (Mt.25.14-30). É outra perspectiva que o cristão precisa ter acerca de si mesmo. Agora, não se fala em festa, mas em recursos, responsabilidade, trabalho e prestação de contas. Precisamos servir ao Senhor de acordo com os dons que ele nos confiou. Contudo, não podemos ter apenas essa visão, transformando a vida cristã em ativismo mecânico ou meramente profissional. Precisamos servir por amor, ainda que haja uma recompensa.

"Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus" (João 1.12).

Quando nos trata como filhos, a palavra nos lembra vínculo, natureza e herança. Contudo, não podemos nos esquecer da nossa participação no exército de Deus. Somos soldados. Isso nos lembra disciplina, treinamento, armamento, inimigos, lutas, guerras e vitórias.

"Sofre, pois, comigo, as aflições, como bom soldado de Jesus Cristo" (2Tm.2.3).

A percepção parcial da identidade cristã pode criar expectativas indevidas. Como filhos, esperamos benefícios, provisão, carinho e proteção. Não está errado, mas o que faremos quando Deus permitir dificuldades em nossas vidas?  Quem não tem luta é soldado morto.

"Amados, não estranheis a ardente prova que vem sobre vós para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse" (IPd.4.12).
 
Portanto, a vida espiritual assemelha-se muito à vida natural quanto à diversidade de papéis e situações. Queremos bênção sem compromisso? Vitória sem luta? Canaã sem deserto? Festa sem trabalho?

Devemos confiar em Deus e aceitar o que ele tem para nós, certos de que, "todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus (Rm.8.28). 

Pr. Anísio Renato de Andrade


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