Uma
atitude humanista e egoísta nos leva a colocar nossa vontade acima de tudo,
inclusive quando oramos. Embora muitas petições sejam aceitáveis, Jesus nos
ensinou a orar assim: "Pai nosso que estás no céu... seja feita a tua
vontade" (Mt.6.9-10). Imediatamente,
pode surgir uma dúvida: Qual é a vontade de Deus? O que ele quer? Poderíamos propor tantas hipóteses,
mas vejamos o que Paulo escreveu:
"Porque
esta é a vontade de Deus, a vossa santificação, que vos abstenhais da
prostituição." (ITss.4.3). A santificação é um conceito amplo, do qual a
abstinência é um exemplo prático.
Será
que o propósito do evangelho é apenas nos abençoar? Seu efeito seria apenas o
suprimento das nossas necessidades? Além das bênçãos, a obra de Cristo inclui a
santificação, isto é, um processo rumo à santidade, de modo que sejamos cada
vez mais parecidos com Jesus. Ser
"abençoado" está,
geralmente, ligado à ideia de receber. Ser
"santificado" relaciona-se mais à renúncia e aparente perda em prol
de um ganho maior.
A
tradição religiosa distorceu o conceito da palavra "santo", usando-a
para designar alguns cristãos "mortos, porém poderosos", mas a bíblia
refere-se a todos os salvos como santos (At.9.13; Rm.1,7; Ef.1.1 etc).
A
santificação é um processo que começa na conversão. Deus nos resgata como faz o
pai que retira o filho da lama, sendo este o primeiro ato de uma série. Em
seguida, vem o banho e a troca de roupas. Assim também, depois de sermos
retirados do reino das trevas, precisamos de uma transformação, que é parte do
que chamamos "crescimento espiritual". Depois da "metanoia"
(mudança de mente), vem a "metamorfose" (transformação prática). Não
somos apenas transportados para a luz, mas precisamos brilhar como luzeiros no
mundo (Fp.2.15), através de um caráter e modo de vida que sejam motivo de
glória para o nome do Senhor.
O
significado do termo "santificação" tem dois aspectos: "separação" e
"dedicação"; é
separar-se "de" alguma coisa e "para" alguém ou algum
propósito.
Uma
boa figura bíblica para o tema encontra-se na história de Israel. O propósito
de Deus para o seu povo não era apenas libertá-lo do Egito, mas transformá-lo
em nação santa (Ex.19.6). Portanto, deu-lhes a lei para santificá-los. Alguns mandamentos visavam evitar o
pecado (separação). Outros, indicavam o que os israelitas deviam fazer
(dedicação). São os aspectos "negativos" e "positivos" da
santificação, que podem ser resumidos nas palavras do profeta: "Deixai de
fazer o mal. Aprendei a fazer o bem" (Is.1.16-17).
O
cristão não deve ser conhecido apenas por aquilo que parou de fazer, mas pelo
que faz para Deus e em favor do próximo.
A
santificação começa na conversão, mas precisa ser desenvolvida. "Aquele
que é santo, santifique-se ainda" (Ap.22.11). Existem níveis de
santificação. Por exemplo,
a lei dada a Israel tinha o objetivo de santificar o povo. Entretanto, os
sacerdotes deveriam seguir mandamentos ainda mais rigorosos para que pudessem
estar "mais próximos" de Deus (Lv.21). Outro tipo de santificação era a dos
nazireus, que se consagravam de modo especial, abstendo-se até de algumas
coisas que eram permitidas ao povo e aos sacerdotes (Nm.6.1-21).
Quanto
mais nos santificarmos, separando-nos das contaminações do pecado e nos
dedicando ao Senhor, mais próximos estaremos dele, não em sentido geográfico,
pois Deus está em todos os lugares, mas em termos de intimidade. Quanto mais
sujos, mais distantes. O
sumo sacerdote deveria seguir regras rigorosas de pureza para entrar no Santo
dos Santos, o local de maior intimidade com Deus no tabernáculo e no templo.
Havia
um caminho e um procedimento que conduzia ao Santo dos Santos. O sumo sacerdote precisava entrar pela
porta do pátio, fazer o sacrifício para perdão dos seus pecados, lavar as mãos
e, com o sangue no recipiente, adentrar nos recintos mais sagrados da casa do
Senhor. Mas tudo isso não seria suficiente, se o ministro não demonstrasse um
modo de vida coerente com a dignidade do seu ministério. Um comportamento
contraditório poderia desqualificá-lo.
Os
nazireus, rigorosamente santificados, como Samuel, Sansão e João Batista,
tiveram gloriosas experiências com Deus, recebendo poder, revelações e missões
especiais. Sansão, porém, depois de maravilhosas vitórias, conduziu sua vida no
sentido contrário à santificação, tornando-se exemplo de fracasso pessoal,
familiar e ministerial.
A
santificação é, ao mesmo tempo, afastamento do pecado e aproximação de Deus. É
evitar o pecado e tomar atitudes de consagração ao Senhor. A santificação
iniciada pelo Senhor Jesus em nós é um processo contrário à contaminação
iniciada por Adão.
Como
ocorre a santificação? Ela começa pela ação do sangue de Jesus em nós,
perdoando os nossos pecados, e prossegue pela ação da palavra de Deus, cujo
símbolo é a água, vivificada pelo Espírito Santo, mudando nossa mentalidade e
comportamento.
"E
quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e
sem derramamento de sangue não há remissão" (Heb.9.22).
"E
três são os que testificam na terra: o Espírito, e a água e o sangue..."
(IJo.5.8).
"Para
a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra"
(Ef.5.26).
"Vós
já estais limpos pela palavra que vos tenho falado" (João 15.3).
"Eleitos
segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para
a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo..." (IPd.1.2).
Os
filhos são orientados no sentido de lavarem as mãos antes de receberem o
alimento. Assim também, muitas coisas só nos serão dadas pelo Pai celestial na
medida em que nos santificarmos. Não
nos referimos a coisas materiais, pois estas até os ímpios têm, mas bênçãos
espirituais que o dinheiro não pode comprar.
"Santificai-vos,
porque amanhã o Senhor fará maravilhas no meio de vós” (Js.3:5).
A
santificação deve ser nossa prioridade, pois ela é também uma condição para que
entremos no santuário celestial e vivamos eternamente na presença de Deus.
"Não
toqueis nada imundo, e eu vos receberei" (2Co.6.17).
"Segui
a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor"
(Heb.12.14).
Pr.
Anísio Renato de Andrade
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