quarta-feira, 6 de julho de 2016

BETEL E PENIEL – DOIS ENCONTROS COM DEUS




Estes nomes bíblicos, em seu contexto original, não se referem a igrejas, mas eram cidades de Israel, localizadas onde Jacó teve encontros marcantes com o Senhor (Gn.28.10-22; Gn.32.22-30).
Apesar das semelhanças, é grande o contraste entre aquelas experiências. Betel significa “casa de Deus”. Peniel significa “face de Deus”. Estes dois sentidos nos mostram o maior impacto do segundo encontro, apesar da importância indiscutível do primeiro.
O encontro em Betel ocorreu quando Jacó fugia de Esaú, indo para Harã. Naquela noite, Jacó dormiu, tendo uma pedra por travesseiro, e sonhou com uma escada entre o céu e a terra, por onde os anjos subiam e desciam. Acima dela, estava Deus.
O encontro em Peniel aconteceu quando Jacó voltava para encontrar-se com Esaú. A expectativa era de um acerto de contas, com grave risco à vida de suas mulheres e seus filhos. O desafio era tão grande, que Jacó não conseguiu dormir naquela noite, mas lutou com um homem que, de acordo com o texto, era o próprio Deus em manifestação visível (teofania) (Gn.32.30). A situação era de máxima urgência. O perigo iminente não permitiria um agendamento futuro para a busca ao Senhor.
Em Betel, o encontro aconteceu por iniciativa de Deus que, por amor a Jacó, manifestou-se a ele. Naquele tempo, o jovem Jacó não possuía coisa alguma, mas queria ganhar.
No segundo encontro, Jacó tomou a iniciativa de agarrar o “anjo”. Agora, tendo numerosa família e servas e bens, estava apavorado diante da possibilidade de perder tudo.
Na primeira experiência, Jacó queria coisas naturais, principalmente pão, roupa e segurança na viagem.
Na segunda, queria uma bênção superior, bem expressa na frase “tenho visto a Deus face a face e a minha alma foi salva”.
Em Betel, Jacó era um expectador da atividade angelical, como ocorreu também em Maanaim (Gn.32.1-2), mas, em Peniel, ele se torna um protagonista da cena, segurando com determinação aquele varão misterioso.
Betel é sonho. Peniel é luta.
Betel é o contato indireto, distante, uma apresentação inicial do “Deus de Abraão e de Isaque”.
Peniel é a “colisão transformadora” entre Jacó e Deus. Jacó torna-se Israel, o “príncipe de Deus”. Além disso, o Senhor passou a se apresentar como o “Deus de Jacó” (Ex.3.6).
Entre os dois encontros, houve um intervalo de 20 anos (Gn.31.38). Naquele tempo, Jacó dedicou-se ao trabalho e à família, mas não ao Senhor. Contudo, Deus permite desafios que despertam o homem. Jacó precisava voltar a Canaã e encarar Esaú. Quando se aproximava, recebeu a notícia assustadora de que o irmão vinha ao seu encontro com 400 homens. Em todo o tempo, Deus havia cuidado de Jacó. O Senhor tinha um plano para ele e não havia desistido daquele que seria um dos principais patriarcas de Israel.
Contudo, Jacó precisava de uma experiência sobrenatural com Deus. Ele havia recebido a bênção de Isaque, mas carecia de receber a bênção diretamente de Deus. Para tanto, mandou a família prosseguir viagem diante dele e ficou sozinho para buscar ao Senhor. Todos nós precisamos de uma busca espiritual pessoal, particular e intensa (Mt.6.6). Nosso relacionamento com Deus não é um show. No fim das contas, o desafio é entre você e Deus. Apesar de podermos orar uns pelos outros, não é possível terceirizar nossa espiritualidade. Jacó precisou lutar pessoalmente com Deus.
Além de sua própria vida correr risco naquele momento, muitas pessoas dependiam dele. Viajando um pouco à frente estavam suas mulheres e seus filhos. Não era uma família qualquer. Ali estavam 11 futuros patriarcas de Israel, embora ainda não soubessem disso. Dentre os 20 anos passados na casa de Labão, 7 foram de serviço anterior ao casamento. Nos 13 anos seguintes, Jacó teve 11 filhos com suas 4 mulheres, que competiam entre si para ver quem lhe dava mais descendentes. Portanto, naquele dia em Peniel, os filhos de Jacó eram crianças, estando o mais velho com 12 ou 13 anos. Isso nos permite perceber um pouco o peso da responsabilidade e a angústia daquele pai, mas não era só isso.
Ali estavam Rúben, Simeão, Gade, Aser, Zebulom, Naftali, Dã, Issacar, Levi, José e Judá. Jacó não morreria naquele caminho. Esaú não poderia matá-lo, pois o plano de Deus ainda não estava concluído. Benjamim ainda não havia nascido.
A muitos de nós, a Palavra está dizendo: O plano de Deus ainda não se concretizou. Faremos muito mais do que imaginamos.
Jacó não morreria enquanto Benjamim não nascesse. Os 11 filhos ainda não haviam crescido, mas eles haveriam de ter filhos que o próprio Jacó conheceria.
A situação pode ser terrível, mas, para quem tem promessas de Deus, ainda não é o fim. O futuro será bem maior e melhor do que o passado, por mais importante que tenha sido, mas precisamos tomar atitudes certas no tempo certo.
A responsabilidade de Jacó era imensa. Por exemplo, entre as crianças daquela família estava Levi, de cuja descendência viriam os sacerdotes de Israel. Ali estava “Zezinho do Egito”, o mais novo, talvez ainda no colo, mas que seria responsável pela preservação da vida de milhares de pessoas no tempo da fome. Ali estava o garoto Judá, de cuja linhagem viriam os reis de Israel e principalmente o Rei dos reis, Jesus Cristo.
Hoje sabemos muitas coisas que Jacó não sabia, mas o certo é que a sua responsabilidade era muito grande. Jacó não podia desanimar, desistir nem fracassar. Precisava lutar. Dele dependiam muitas pessoas, inclusive nós, que um dia seríamos alcançados pelo evangelho. Como Deus disse em Betel: “Em ti e na tua descendência serão benditas todas as famílias da terra” (Gn.28.14).
Todo servo de Deus deve investir em sua vida espiritual, sabendo que dela dependem muitos outros.
No primeiro encontro com Deus, Jacó ficou tão impressionado, que mudou o nome da cidade, que se chamava “Luz”, palavra hebraica que significa “amendoeira” e não tem relação alguma com a “luz” do nosso idioma. Como se diz, “qualquer semelhança é mera coincidência” e não deve ser usada como pretexto para divagações relacionadas a uma pretensa “iluminação”.
Naquela ocasião, Jacó mudou o nome do lugar para Betel, mas ele mesmo não foi mudado. Gostamos de fazer mudanças no ambiente, alterações exteriores, mudar placas e rótulos, trocar o nome das coisas, inclusive dos pecados, mas o que Deus quer é uma mudança do nosso caráter.
A experiência de Betel foi maravilhosa, mas insuficiente. Será que vivemos satisfeitos com nossas antigas experiências com Deus? Elas são importantes, mas precisamos avançar. O Senhor tem muito mais para nós. Não sejamos vencidos pelo comodismo nem pela inércia.
Muitos anos antes, quando Jacó apresentou-se a Isaque para receber a bênção da primogenitura, disse ao pai: “Eu sou Esaú”, mas, em Peniel precisou confessar “Eu sou Jacó”, nome que significa “enganador”. Precisamos clamar ao Senhor por uma nova experiência com ele, uma renovação da nossa fé e compromisso, mas a confissão é uma parte importante desse processo. Confessemos a Deus os nossos pecados e as falhas do nosso caráter, clamando ao Senhor que nos transforme.
Então, disse Deus: “Não chamarás mais Jacó, mas Israel, porque como príncipe lutaste com Deus e com os homens e prevaleceste” (Gn.32.28).
A mudança do nome de Jacó simboliza a transformação do seu caráter. Encontros com Deus envolvem mudanças necessárias, profundas e definitivas. Em Betel, Jacó foi abençoado, mas em Peniel, ele foi transformado.
É tempo de buscar ao Senhor como Jacó, que passou toda a noite em luta com Deus, dizendo “Não te deixarei, enquanto não me abençoares”. Orações rotineiras e rápidas não constituem grande investimento espiritual. Enquanto nossa busca não for uma luta, não teremos maiores resultados.
“Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós. Alimpai as mãos, pecadores; e vós de duplo ânimo purificai os corações. Senti as vossas misérias, e lamentai e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo em tristeza. Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará” (Tg.4.8-10).
Jacó tinha muitos bens e uma família numerosa, mas buscava uma bênção superior. Ele não precisava receber coisas, mas um toque de Deus. Naquela noite, ele foi tocado e marcado pelo Senhor. Jacó foi mudado e nunca mais enganou alguém. Pelo contrário, tornou-se um profeta de Deus, sendo dele a primeira profecia sobre o leão da tribo de Judá (Gn.49.9).
Pr. Anísio Renato de Andrade

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