Um dos
momentos mais marcantes da infância é quando a criança começa a falar. As
primeiras palavras são celebradas pelos pais, mesmo que não sejam pronunciadas
com perfeição. A capacidade de se comunicar é o que importa. A partir daí, o
vocabulário aumenta rapidamente e chega um dia em que a criança fala até
dormindo. Com poucos anos de vida, já é preciso controlar os pequenos falantes:
“Não fale de boca cheia”; “Não converse com estranhos”; “Desligue esse
telefone”. Depois de aprender a falar, a
criança precisa aprender a evitar determinadas palavras; aprender o modo de
falar, a hora certa, o tom de voz e o momento de calar. Bem, são objetivos para
a vida toda.
Da mesma
forma, os filhos de Deus precisam aprender a falar com o Pai por meio da
oração. A bíblia nos mandar orar sem cessar (1Tss.5.17), mas a oração deve ser
pautada por uma série de parâmetros que a tornam boa e eficaz. Além de orar,
precisamos saber a quem orar, por quem, por quê, para quê, como, quando e onde.
Ore todos os
dias. Fale com Deus e não com os ídolos, santos, guias, espíritos, demônios,
anjos, fadas ou duendes. A oração bíblica tem um alvo certo: o Pai celestial
(Mt.6.9).
Certa vez, os
discípulos disseram a Jesus: “Ensina-nos a orar” (Lc.11.1). Logo, a oração deve ser aprendida. Não me
refiro a aprender uma oração que alguém compôs, mas à necessidade de cada
pessoa aprender a formular suas próprias orações. Petições erradas são
indeferidas. “Pedis e não recebeis porque pedis mal” (Tg.4.3). Aprenda a orar.
A oração não pode ser um falatório vão, uma espécie de verborragia inútil.
Antes de
falar, o bebê passa meses ouvindo. Quem não ouve não fala. Quem ouve mal fala
mal. Nosso trato com a bíblia, a palavra de Deus, definirá a qualidade das
nossas orações.
“O que desvia
os ouvidos de ouvir a lei, até a sua oração será abominável" (Pv.28:9).
Podemos
aprender com tantas preces registradas nas Escrituras, especialmente nos
Salmos, mas, além disso, todo o conteúdo bíblico servirá como base das nossas
orações, inclusive mostrando o que não devemos dizer perante Deus: murmurações,
acusações, votos impensados e “determinações” (como se pudéssemos ordenar a
ação divina), etc.
Tudo começa
pela motivação correta. Não sejamos como os fariseus, que faziam da oração uma
forma de exibição de sua pretensa espiritualidade (Mt.6.5-13). Não seria de se
esperar que obtivessem alguma resposta do céu.
Precisamos
saber que a oração é um ingrediente, um componente importante em nossa
espiritualidade, mas não o único. É como uma engrenagem que, sozinha, não constitui
um motor. Está escrito:
“E se o meu
povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face e
se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, e perdoarei os
seus pecados, e sararei a sua terra” (2Cr.7.14).
A oração é
importante, mas não é tudo, assim como um relacionamento é mais do que a comunicação.
Devemos observar no versículo citado as seis ocorrências da conjunção aditiva
“e” que indica a “soma” dos vários elementos da frase para se chegar a um
resultado. O povo de Deus precisa “se humilhar e orar e buscar e se converter”.
Temos a tendência de colocar o foco em uma coisa e desprezar as outras, mas,
nesse contexto, todas são importantes.
Em alguns
momentos, a auto-humilhação tem o seu lugar, por exemplo, quando precisamos
reconhecer nossos pecados, confessar e pedir perdão. Sem isso, não avançaremos
em nossa espiritualidade. A oração sem humildade é apenas um discurso arrogante
e inútil (Lc.18.10-14).
Precisamos orar
e buscar a face de Deus. Orar e buscar não são sinônimos. A busca inclui a
oração, mas é uma palavra que envolve muito mais, pressupondo necessidade,
importância, objetivo, esforço, persistência e a expectativa do encontro
(Lc.15.4,8). Existe ainda a intensidade da busca: “Buscar-me-eis e me achareis,
quando me buscardes de todo o vosso coração” (Jr.29.13). Quem busca ora, jejua, levanta pelas
madrugadas, renuncia o pecado, lê a bíblia, frequenta os cultos, pede perdão,
ora no templo, no monte, em casa, insiste e persiste até obter a resposta.
Orar é
imprescindível, mas existem muitas outras coisas que precisamos fazer. Se a
oração bastasse, Jesus não diria “Ide e pregai o evangelho a toda criatura”
(Mc.16.15).
A oração não
é um fim em si mesma, mas visa respostas e resultados mediante as ações divinas
em nosso favor. Orações não são palavras mágicas. Sua eficácia não está no uso
das palavras corretas (embora devamos evitar as erradas), mas na qualidade do
nosso relacionamento com Deus. É
importante falar com o Senhor, mas Caim também falou e nem por isso foi
perdoado e salvo. Afinal, ele não pediu perdão. Orou errado (Gn.4.13-14).
A qualidade da
oração não está na quantidade, nas repetições, nos gritos, nas palavras
bonitas, em se fazer um discurso ou relatório para Deus, trazendo explicações,
como se ele precisasse delas.
É importante
saber que a eficácia da oração tem limites. A oração do justo pode muito
(Tg.5.16), mas não pode tudo. Devemos orar, mas algumas coisas não se resolvem
pela oração. Precisamos agir, quando for o caso e estiver ao nosso alcance.
Deus não costuma fazer o que é da nossa responsabilidade.
“Então disse
o Senhor a Moisés: Por que clamas a mim? Dize aos filhos de Israel que marchem”
(Ex.14.15).
A oração em
favor de outra pessoa chama-se intercessão, mas não devemos descansar nessa
possibilidade como se pudéssemos terceirizar nosso relacionamento com Deus.
Jó demonstrou
grande zelo oferecendo ao Senhor o sacrifício em favor dos filhos, mas Satanás
veio e os matou (Jó 1.5,18,19). O que deduzimos disso? Os filhos de Jó não eram
filhos de Deus e não foram preservados pela intercessão paterna.
Quando a
mulher está grávida, ela “come por dois”, como se costuma dizer, mas, depois do
nascimento, o filho tem que se alimentar, ainda que seja auxiliado nos
primeiros meses. Assim acontece no crescimento espiritual. Eu não posso comer,
beber, dormir, respirar ou tomar remédio por você. Assim, todo cristão precisa
e deve ler a bíblia, orar, etc.
Jesus orava
pelos discípulos (João 17), mas um dia, ele lhes disse: “Vós orareis...” (Mt.6.9).
A intercessão de Cristo e do Espírito Santo são fundamentais (Is.53.12;
Heb.7.25; Rm.8.26), mas não substituem nossas próprias orações. O advogado fala
em defesa do réu, mas a confissão é pessoal (1Jo.2.1; 1Jo.1.9).
Precisamos
saber que algumas orações, por melhores que sejam, podem ser inúteis em virtude
da liberdade de escolha que as pessoas têm, por exemplo, no que diz respeito ao
casamento e à conversão.
Minha oração pode
não evitar o pecado de outra pessoa nem garantirá sua salvação, mas pode ajudar
a evitar o meu próprio pecado. Jesus disse que os escândalos viriam. Não
adianta orar contra eles. O que posso fazer é cuidar para que eu mesmo não os
provoque.
Outra questão
importante é lembrar que o plano de Deus é superior. Jesus orou, dizendo:
“Meu Pai, se
possível, afasta de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como
tu queres” (Mt.26.39).
O cálice não
foi afastado. Jesus mostrou que podemos apresentar nossas angústias e desejos
ao Pai. Você não está impedido de pedir o que quiser, mas não significa que
será sempre atendido.
Os propósitos
de Deus não podem ser impedidos, a não ser naqueles casos em que ele mesmo
deixou a possibilidade de mudança pelo arrependimento, como ocorreu em Nínive.
Nenhuma
oração impedirá o Apocalipse, nem converterá o diabo nem mudará o passado. Depois
do adultério com Bateseba, Davi orou muito para que o filho não morresse, mas a
consequência do pecado não seria aplacada pela oração. Deus não está limitado
neste assunto, mas os efeitos dos nossos erros geralmente permanecem.
Portanto,
vigie para que o mal não aconteça, quando for de sua competência evitá-lo. A
oração não impedirá que colhamos o que foi semeado.
A vigilância
é um importante complemento da oração. A falta de vigilância inutiliza as
melhores armas.
Muitas
orações são rejeitadas por Deus, quando associadas à desobediência (Pv.28:9). A
oração do justo é eficaz (Tg.5.16), mas o pecado bloqueia a comunicação com
Deus, que somente será recuperada mediante a confissão e o pedido de perdão.
Não é assim também entre os homens, quando uma ofensa os separa?
Se alguém não
quer se reconciliar com Deus, sua oração torna-se pecado (Salmo 109.7).
“Por isso,
quando estendeis as vossas mãos, escondo de vós os meus olhos; e ainda que
multipliqueis as vossas orações, não as ouvirei, porque as vossas mãos estão
cheias de sangue. Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de
diante dos meus olhos; cessai de fazer o mal” (Is.1.15-16).
Em situações
assim, até a intercessão pode ser rejeitada. É o caso da oração proibida:
“Jeremias,
não ore por este povo nem faça súplicas ou pedidos em favor dele, nem interceda
por ele junto a mim, pois eu não o ouvirei” (Jr.7.16).
“Se alguém
vir pecar seu irmão, pecado que não é para morte, orará, e Deus dará a vida
àqueles que não pecarem para morte. Há pecado para morte, e por esse não digo
que ore” (1João 5.16).
O propósito
deste estudo não é nos tirar a motivação para orar, mas, ao contrário, nos estimular
a uma vida de oração intensa, correta e eficaz.
“E esta é a
confiança que temos nele, que, se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade,
ele nos ouve. E, se sabemos que nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que
alcançamos as petições que lhe fizemos” (1 João 5.14-15).
Pr. Anísio
Renato de Andrade
Benção! Excelente
ResponderExcluirEstudo completíssimo! Que Deus continue te abençoando e te concedendo essa sabedoria!
ResponderExcluir