O ASPECTO MATERIAL
De acordo com os
evangelhos, várias pessoas procuraram Jesus por motivos diversos. Certa vez, o
Mestre multiplicou pães e peixes para a multidão, mas sendo procurado no dia
seguinte, disse ao povo:
“Vós me buscais, não
pelos sinais que vistes, mas porque comestes do pão e vos saciastes” (João
6.26). Aquelas pessoas
criam que Jesus poderia lhes dar pão, mas esse nível de fé não salva.
A necessidade
material e física, muitas vezes urgente, nos faz sair em busca do suprimento.
Além disso, existe o desejo. Depois de atendidos os requisitos da
sobrevivência, almejamos também a supérflua satisfação da vaidade. Muitas vezes
vemos em Cristo a possibilidade de resposta para todos esses anseios, que podem
passar do razoável ao absurdo.
O que você espera do
cristianismo? Emprego, empresa, dinheiro, carro, saúde física, casamento, casa,
roupa e comida? Tudo bem. Jesus pode nos dar coisas deste mundo e resolver
nossos problemas naturais, mas esta não é a essência do evangelho.
Se pedimos ao Senhor
apenas as coisas que o ímpio já tem, existe algo muito errado com a nossa fé e
a nossa doutrina. Limitados a este nível, estaríamos apenas colocando a fé a
serviço do materialismo e do nosso bem-estar.
A expectativa
materialista pode ser frustrante quando Jesus diz “não”. “Desde então muitos
dos seus discípulos tornaram para trás, e já não andavam com ele” (João 6.66).
Poucos estão prontos
para a resposta que Paulo recebeu: “A minha graça te basta” (2Co.12.9). Que Deus nos ajude a perceber o
valor inefável da sua graça.
O ASPECTO ESPIRITUAL
Depois de
decepcionar aos que buscavam o pão material, Jesus disse aos doze: “Quereis vós
também retirar-vos? Respondeu-lhe, pois, Simão Pedro: Senhor, para quem iremos
nós? Tu tens as palavras da vida eterna” (João 6.67-68). Portanto, o apóstolo conseguiu
vislumbrar a importância do alimento espiritual e seu efeito na eternidade.
“Porque o reino de
Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo”
(Rm.14.17).
O propósito do
evangelho é essencialmente espiritual. As questões físicas são importantes,
porém secundárias. Por isso Jesus, antes de curar o paralítico disse: “Teus
pecados estão perdoados” (Mc.2.5).
Mais importantes do
que as coisas materiais são os valores espirituais: perdão, paz, alegria,
misericórdia, unção, etc, mas é possível que os nossos elevados desejos
espirituais ainda estejam contaminados pelo egoísmo. Pode ser que ainda
estejamos atentos apenas às nossas necessidades e interesses: minha paz, minha
alegria, minha salvação, etc. Estas são fases compreensíveis do nosso
crescimento espiritual, mas podemos e precisamos avançar.
INDO ALÉM DE MIM
MESMO
Algumas pessoas
procuraram o Senhor Jesus para pedirem a bênção a favor de outros (Mt.8.6;
Mt.15.22; Mc.5.23; Lc.5.18). Este é o nível do intercessor e do evangelista,
que saem de sua zona de conforto em busca do bem para o próximo. “Não atente cada um para o que é
propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros” (Fp.2.4). Orar
e agir em favor do próximo são atitudes mais importantes do que aquelas que
visam o interesse próprio. Preocupar-se com a salvação das outras pessoas é
extrapolar os limites do egoísmo. Esta é a fé que opera pelo amor
(Gal.5.6).
FOCO EM DEUS
Tudo que até aqui
foi dito tem o seu valor, mas o nosso alvo principal deve estar no próprio
Deus, no desejo de conhecê-lo cada vez mais e viver eternamente com ele. Este é
o nível do verdadeiro adorador.
É necessário
perguntar: Se o Senhor não nos der o que esperamos ou tirar o que temos,
continuaremos fiéis a ele?
O filho pródigo
voltou para casa por causa do pão e não por amor ao pai. Que bom que voltou! O
pai ficou feliz, mas sua motivação poderia ter sido melhor.
Precisamos atingir
um nível de espiritualidade acima do egoísmo e do altruísmo. Isso não
significa, a priori, que deixaremos de lado nossas necessidades ou as do
próximo, mas existe uma dimensão sobrenatural a ser alcançada.
Deus não permitiu
que Jeremias se casasse e tivesse filhos, mas nem por isso o profeta deixou de
servi-lo (Jr.16.2). Deus disse que tiraria a esposa de Ezequiel, e tirou
(Ez.24.15-18), mas nem por isso aquele servo deixou de ser fiel. Jó perdeu
tudo, mas não desistiu da sua fé (Jó 1.20-22). Paulo chegou ao ponto de dizer
que “morrer é lucro”, pois estaria com Deus (Fp.1.21). São exemplos de pessoas
que alcançaram uma dimensão superior, e por isso tiveram capacidade de
enfrentar situações que para muitos teriam sido insuportáveis.
Teremos alcançado
esse patamar quando formos capazes de dizer verdadeiramente: “Senhor, estou
disposto a abrir mão de tudo neste mundo, inclusive da minha própria vida, para
te servir, te conhecer, te amar e contemplar a tua face”.
Pr. Anísio Renato de
Andrade