O filho pródigo foi embora por direito, mas voltou pela
graça.
Graça é benevolência; é a boa vontade de Deus para conosco,
sem obrigação de sua parte nem méritos da nossa. É o favor imerecido.
Quando Adão e Eva pecaram, veio o castigo. Entretanto, a
graça se manifestou na promessa de um descendente para esmagar o inimigo e
quando, num gesto inesperado de carinho, Deus fez roupas de pele para o casal
(Gn.3).
Logo depois, o pecado se multiplicou, provocando a ira
divina. "Noé, porém, achou graça aos olhos do Senhor" (Gn.6.8). Esta benevolência se consumou na salvação
através da arca.
Antes que Sodoma fosse destruída, o favor divino se revelou
na visita dos anjos que retiraram Ló da cidade (Gn.19).
Pela graça, Israel foi liberto do Egito. Mais tarde, o
pecado fez com que fossem levados cativos para a Babilônia, mas a graça se
manifestou mais uma vez, quando o remanescente voltou à terra prometida
(Ed.9.8).
No Novo Testamento, a graça está personificada no Messias:
"A lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus
Cristo" (João 1.17). "Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a
remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça" (Ef.1.7).
"Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os
homens" (Tito 2.11).
A morte de Jesus encerrou a dispensação da lei mosaica e
iniciou um tempo especial da graça, que pode ser visto como a porta da
salvação, aberta até que Jesus volte. Contudo, essa oportunidade é fechada para
cada indivíduo no momento de sua morte.
A salvação não pode ser conquistada pelo homem, mas
recebida gratuitamente (Rm.6.23; At.15.11). "Para mostrar nos séculos
vindouros as abundantes riquezas da sua graça pela sua benignidade para conosco
em Cristo Jesus. Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem
de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie"
(Ef.2.7-9). A graça dá; a fé recebe. Em
todas as citadas manifestações da bondade divina durante a história bíblica,
havia possibilidade de rejeição por parte do homem.
A graça não é automática em seus efeitos, pois, se assim
fosse, toda a humanidade seria salva. Ela é extensiva a todos os homens
(Rm.5.18), mas muitos a rejeitam. É necessário que haja uma resposta humana
positiva, recebendo Jesus Cristo como salvador (João 1.11-12; Rom.10.9). Sem
isso, a graça torna-se inútil para o indivíduo.
"E nós, cooperando também com ele, vos exortamos a que
não recebais a graça de Deus em vão. Porque diz: Ouvi-te em tempo aceitável E
socorri-te no dia da salvação; Eis aqui agora o tempo aceitável, eis aqui agora
o dia da salvação" (2Co.6.1-2).
Nada há que possamos fazer para comprar ou conquistar uma
só bênção. Orações e jejuns são formas de manifestarmos nosso desejo, mas Deus
só nos atende pela graça. Não é razoável que alguém se apresente ao Senhor para
exigir direitos ou estabelecer condições.
Também não podemos confundir a graça de Deus com aprovação
ao pecado. É o que muitos têm feito, supondo que seus erros serão simplesmente
desconsiderados. Não é assim. A graça não dispensa o arrependimento, o pedido
de perdão e a mudança de vida, mas dispensa pagamentos, penitências,
indulgências, compensações e sacrifícios expiatórios, pois a morte de Cristo
foi suficiente neste sentido.
Judas, irmão de Tiago, advertiu acerca dos falsos mestres ,
dizendo:
"Porque se introduziram alguns, que já antes estavam
escritos para este mesmo juízo, homens ímpios, que convertem em dissolução a
graça de Deus" (Jd.4).
A graça não significa licença para pecar, mas a disposição
divina para receber o pecador arrependido.
A mesma deturpação foi percebida por Paulo, que disse:
"Permaneceremos no pecado, para que a graça abunde? De
modo nenhum. Nós, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda
nele"? (Rm.6.1-2).
Ao invés de permanecermos no pecado, devemos permanecer na
graça (Gal.5.4), ou seja, permanecer no caminho do Senhor, buscando a
santificação e deixando de lado a auto-confiança, sabendo que dependemos de
Deus a cada instante.
"E, despedida a sinagoga, muitos dos judeus e dos
prosélitos religiosos seguiram Paulo e Barnabé; os quais, falando-lhes, os
exortavam a que permanecessem na graça de Deus" (At.13.43). Permanecer na graça é como ficar na arca até
que o dilúvio termine. Quem não permanece na graça cai no juízo.
Queremos tantas coisas do Senhor, mas precisamos reconhecer
que a sua graça é suficiente, pois sem ela estaríamos destruídos. Além disso, o
que vier é lucro.
"E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu
poder se aperfeiçoa na fraqueza" (2Co.12.9).
"A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com todos
vós. Amém" (Ap.22.21).
Pr. Anísio Renato de Andrade
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