quarta-feira, 20 de maio de 2015

QUE TIPO DE SATISFAÇÃO O EVANGELHO NOS GARANTE?





Assim que nascemos, começamos a desejar. Primeiro, o alimento; depois, tudo.
Temos necessidades básicas que precisam ser atendidas, pois disso depende nossa sobrevivência. Depois, vêm as questões relacionadas à realização de sonhos, vontades e caprichos, nem sempre fundamentais.  A tudo isso, a natureza pecaminosa acrescenta a cobiça.
"Se temos o que comer e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes", foi o conselho de Paulo (1Tm.6.8);  mas nós queremos mais, muito mais e sempre mais.  Podemos desejar e conseguir muitas coisas além da comida e da roupa, mas existem limites que devemos respeitar. O problema está no descontrole.
Adão e Eva tinham inúmeras árvores frutíferas à sua disposição, mas queriam mais uma, justamente aquela que Deus proibiu. 
Deus deu o maná para o povo de Israel no deserto, mas eles queriam carne, pepino, cebola, melão, alho e peixe (Num.11.5). Não seria pecado comer essas coisas, mas precisamos entender que o deserto é lugar de renúncia, representando os períodos de provação necessários ao nosso crescimento.
Os desejos podem vir, mas não devem nos dominar. Este é o ponto que separa a espiritualidade da carnalidade. Não podemos ser guiados pelos desejos, que são voláteis e incertos, mas pelo Espírito Santo.  Além do necessário domínio, existem parâmetros para nossas realizações. Nem tudo nos será permitido.  Devemos estar prontos para ouvir o "sim" e o "não", de modo que tenhamos somente o que Deus permitir, quando ele quiser e durante o tempo que ele determinar. 
Em algumas situações, o "não" é definitivo.  No caso dos desejos impróprios, o único caminho  certo é a renúncia. Por exemplo, "não cobiçarás a mulher do teu próximo" (Ex.20.17) e ponto final.  "Andai em Espírito e não satisfareis a concupiscência da carne" (Gal.5.16).  Na busca da satisfação carnal e pecaminosa (Col. 2.23) ocorrem as "obras da carne", listadas pelo apóstolo Paulo em Gálatas 5.19-21.  Este é o caminho daqueles cujo objetivo na vida é apenas a satisfação de seus próprios impulsos.
No caso dos desejos legítimos e naturais, existe o tempo certo para sua realização. Comer frutos verdes não é aconselhável (Jr.31.30). Precisamos esperar a estação própria. 
Muitas vezes, o desejo natural é substituído pela cobiça, crescente e insaciável. A glutonaria é um exemplo disso. Algumas pessoas nunca estão satisfeitas. Por isso, não agradecem nem valorizam o que receberam. Descartam a conquista recente e partem para nova busca.  Dinheiro, sexo, bens e todo tipo de novidade são objetos de um apetite desenfreado.
"Quem amar o dinheiro jamais dele se fartará; e quem amar a abundância nunca se fartará da renda; também isto é vaidade" (Ec.5.10).
"Como o inferno e a perdição nunca se fartam, assim os olhos do homem nunca se satisfazem" (Pv.27.20).
"A sanguessuga tem duas filhas: Dá e Dá. Estas três coisas nunca se fartam; e com a quarta, nunca dizem basta:  A sepultura, a madre estéril, a terra que não se farta de água e o fogo nunca dizem basta" (Pv. 30.15-16).

"Todo trabalho do homem é para a sua boca. Contudo, nunca satisfaz a sua cobiça" (Ec.6.7).

DESEJOS EGOÍSTAS

A correta avaliação dos nossos desejos pode ser uma boa forma de começar a dominá-los.  Nossa tendência é vivermos em função da auto-satisfação. Isso nada mais é do que um modo de vida pautado pelo egoísmo. Tudo que o homem carnal quer é para si mesmo.  A família, porém, torna-se fator de equilíbrio, pois nos ensina a compartilhar.
O texto de Eclesiastes 2 nos mostra quantas coisas o rei Salomão fez apenas para si.  No final, concluiu que tudo era "vaidade e correr atrás do vento" (Ec.2.1-11). 
Jesus disse: "Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me" (Lc.9.23). Portanto, o cristianismo não é um caminho para a satisfação dos nossos desejos egoístas. Negar a si mesmo é a contramão da cobiça.  Jesus nos ensina a olhar para o próximo e não apenas para os nossos próprios interesses.
A busca cega pela satisfação dos desejos pessoais causa repulsa ao sofrimento, mesmo quando ele é necessário. "Tomar a cruz" não satisfaz a carne, mas sim ao espírito.  Sem a cruz, o cristianismo se transformaria em hedonismo, que significa a colocação do prazer como único propósito na vida. Jesus nos ensinou a pedir "o pão nosso de cada dia" (Mt.6.11), mas nos instruiu também, no mesmo capítulo, sobre a abstinência temporária do pão, isto é, o jejum (Mt.6.16-18). Ganho e renúncia fazem parte do evangelho.

DESEJOS ILUSÓRIOS

O filho pródigo vivia na casa do pai, tinha tudo que precisava, mas estava insatisfeito. Talvez tenha ouvido acerca dos atrativos da cidade. Um dia, resolveu cair de cabeça naquele mundo de aventuras.
Quantos estão insatisfeitos na casa do Pai? Cuidado. As tentações atendem exatamente a esse tipo de sentimento.  O filho ficou iludido com a possibilidade de encontrar satisfação longe de casa. Não encontrou.
Ao contrário, na busca por grandes conquistas, sofreu grande perda. Suas realizações foram fúteis e fugazes. Um dia, achando-se no meio dos porcos, sentiu novamente uma grande insatisfação. Lembrou-se da casa do pai e decidiu voltar (Lc.15.11-32).
Não encontraremos felicidade longe dos caminhos do Senhor.  Judas Iscariotes pensou que ficaria satisfeito com 30 moedas de prata.  O resultado foi a decepção, o desespero e o suicídio (Mt.27.3-5).

ONDE ENTRA DEUS NESSA HISTÓRIA? 

Há quem pense que Deus tem a responsabilidade de satisfazer todos os nossos desejos e realizar todos os nossos sonhos. É o que talvez esperam do evangelho, mas estão enganados.  Alguns desejos são pecaminosos e alguns planos são errados.
Será que Jesus veio ao mundo e morreu na cruz para que tivéssemos todos os nossos desejos atendidos?  Ele não é o gênio da lâmpada. 
O que Jesus fazia pelas pessoas durante seu ministério terreno?  Ele acudiu a muitos que estavam em situação desesperadora, curando-os e libertando-os.  Depois, cada um deveria trabalhar para conseguir o que desejasse. Não vemos Jesus distribuindo dinheiro. 
Ele pode fazer tudo, mas não está a nosso serviço.  Certa vez, Jesus multiplicou pães e peixes e alimentou mais de cinco mil pessoas.  No dia seguinte, quando elas voltaram para comer pão de graça, ele lhes disse: "Eu sou o pão vivo que desceu do céu" (João 6).  Em outras palavras, o Mestre estava ensinando que as pessoas deveriam buscá-lo e não ao pão que ele poderia dar.  
Como podemos, então, entender o versículo que diz "Agrada-te do Senhor e ele fará o que deseja o teu coração"? (Salmo 37.4).   Quando você estiver satisfeito com o próprio Deus, então ele dará outras coisas que você deseja (o que não significa que sejam todas). Ele dá até riquezas materiais para alguns dos seus filhos. Só não podemos pensar que este seja o objetivo do evangelho. Deus enriquece e empobrece a quem ele quer (ISm.2.7), conforme seus soberanos desígnios.

DEVEMOS SATISFAZER AO SENHOR

Quando deveríamos nos contentar, queremos mais; quando deveríamos ficar insatisfeitos, pensamos que basta.  Em alguns momentos, Deus mandou ir além, mas paramos.   Se é para nós, queremos mais; Se é para Deus, o pouco já nos parece suficiente.  O nome desse tipo de satisfação é comodismo. É, mais uma vez, o engano da natureza pecaminosa.  (Ag. 1.1-4).
Vivemos concentrados em satisfazer os nossos desejos, mas deveríamos nos preocupar em agradar a Deus em primeiro lugar.  Esta é a atitude essencial do cristão. Somos servos. O servo faz tudo que o seu senhor quer. Depois, se der tempo, faz algo para si mesmo.
A respeito do Messias, o profeta Isaías escreveu: "Ele verá o fruto do trabalho da sua alma e ficará satisfeito" (Is.53.11).  Nosso propósito deve ser este: que Jesus fique satisfeito conosco.
Cristo perguntou a algumas pessoas: “O que queres que eu te faça”? Foi a oportunidade para a solução de muitos problemas (Mc.10.51, etc). Mas nós também precisamos perguntar a Jesus, como fez Saulo de Tarso: “Senhor, que queres que eu faça” (At.9.6).  Assim, assumiremos nossa posição de servos.

TIPOS DE NECESSIDADES

Além das necessidades físicas e psicológicas, temos necessidades espirituais.  Isso fica evidente, por exemplo, no diálogo de Jesus com a mulher samaritana (João 4). Além de bênçãos, precisamos do abençoador.  Precisamos da presença de Deus e da nossa comunhão com ele. Então, estaremos completos e eternamente satisfeitos.
A satisfação natural, material, pode mascarar uma necessidade espiritual grande e urgente. Foi o que aconteceu com Israel no tempo do profeta Amós.  O mesmo observamos no relato sobre o rico e o Lázaro e ainda na carta à igreja de Laodiceia.
A satisfação que o evangelho nos garante pode ser resumida em duas expressões de Cristo: o pão vivo e a água viva (João 6.51; 7.38), representando o próprio Jesus e o Espírito Santo. Recebendo a Cristo como Salvador e sendo cheios do Espírito Santo, teremos abundância do fruto do Espírito que é "amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio" (Gál.5.22).
Costumamos confundir felicidade com a satisfação dos nossos desejos, mas o que Deus nos oferece é muito mais. É a bem-aventurança daqueles que o conhecem e vivem eternamente na sua gloriosa presença.


Pr. Anísio Renato de Andrade

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