Assim
que nascemos, começamos a desejar. Primeiro, o alimento; depois, tudo.
Temos
necessidades básicas que precisam ser atendidas, pois disso depende nossa
sobrevivência. Depois, vêm as questões relacionadas à realização de sonhos,
vontades e caprichos, nem sempre fundamentais.
A tudo isso, a natureza pecaminosa acrescenta a cobiça.
"Se
temos o que comer e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes",
foi o conselho de Paulo (1Tm.6.8); mas
nós queremos mais, muito mais e sempre mais.
Podemos desejar e conseguir muitas coisas além da comida e da roupa, mas
existem limites que devemos respeitar. O problema está no descontrole.
Adão
e Eva tinham inúmeras árvores frutíferas à sua disposição, mas queriam mais
uma, justamente aquela que Deus proibiu.
Deus
deu o maná para o povo de Israel no deserto, mas eles queriam carne, pepino,
cebola, melão, alho e peixe (Num.11.5). Não seria pecado comer essas coisas,
mas precisamos entender que o deserto é lugar de renúncia, representando os
períodos de provação necessários ao nosso crescimento.
Os
desejos podem vir, mas não devem nos dominar. Este é o ponto que separa a
espiritualidade da carnalidade. Não podemos ser guiados pelos desejos, que são
voláteis e incertos, mas pelo Espírito Santo.
Além do necessário domínio, existem parâmetros para nossas realizações.
Nem tudo nos será permitido. Devemos
estar prontos para ouvir o "sim" e o "não", de modo que
tenhamos somente o que Deus permitir, quando ele quiser e durante o tempo que
ele determinar.
Em
algumas situações, o "não" é definitivo. No caso dos desejos impróprios, o único caminho certo é a renúncia. Por exemplo, "não
cobiçarás a mulher do teu próximo" (Ex.20.17) e ponto final. "Andai em Espírito e não satisfareis a
concupiscência da carne" (Gal.5.16).
Na busca da satisfação carnal e pecaminosa (Col. 2.23) ocorrem as
"obras da carne", listadas pelo apóstolo Paulo em Gálatas 5.19-21. Este é o caminho daqueles cujo objetivo na
vida é apenas a satisfação de seus próprios impulsos.
No
caso dos desejos legítimos e naturais, existe o tempo certo para sua
realização. Comer frutos verdes não é aconselhável (Jr.31.30). Precisamos
esperar a estação própria.
Muitas
vezes, o desejo natural é substituído pela cobiça, crescente e insaciável. A
glutonaria é um exemplo disso. Algumas pessoas nunca estão satisfeitas. Por
isso, não agradecem nem valorizam o que receberam. Descartam a conquista
recente e partem para nova busca.
Dinheiro, sexo, bens e todo tipo de novidade são objetos de um apetite
desenfreado.
"Quem
amar o dinheiro jamais dele se fartará; e quem amar a abundância nunca se
fartará da renda; também isto é vaidade" (Ec.5.10).
"Como
o inferno e a perdição nunca se fartam, assim os olhos do homem nunca se
satisfazem" (Pv.27.20).
"A sanguessuga tem duas filhas: Dá e
Dá. Estas três coisas nunca se fartam; e com a quarta, nunca dizem basta: A sepultura, a madre estéril, a terra que
não se farta de água e o fogo nunca dizem basta" (Pv. 30.15-16).
"Todo trabalho do homem é para a sua
boca. Contudo, nunca satisfaz a sua cobiça" (Ec.6.7).
DESEJOS
EGOÍSTAS
A
correta avaliação dos nossos desejos pode ser uma boa forma de começar a
dominá-los. Nossa tendência é vivermos
em função da auto-satisfação. Isso nada mais é do que um modo de vida pautado
pelo egoísmo. Tudo que o homem carnal quer é para si mesmo. A família, porém, torna-se fator de
equilíbrio, pois nos ensina a compartilhar.
O
texto de Eclesiastes 2 nos mostra quantas coisas o rei Salomão fez apenas para
si. No final, concluiu que tudo era
"vaidade e correr atrás do vento" (Ec.2.1-11).
Jesus
disse: "Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a
sua cruz e siga-me" (Lc.9.23). Portanto, o cristianismo não é um caminho
para a satisfação dos nossos desejos egoístas. Negar a si mesmo é a contramão
da cobiça. Jesus nos ensina a olhar
para o próximo e não apenas para os nossos próprios interesses.
A
busca cega pela satisfação dos desejos pessoais causa repulsa ao sofrimento,
mesmo quando ele é necessário. "Tomar a cruz" não satisfaz a carne,
mas sim ao espírito. Sem a cruz, o
cristianismo se transformaria em hedonismo, que significa a colocação do prazer
como único propósito na vida. Jesus nos ensinou a pedir "o pão nosso de
cada dia" (Mt.6.11), mas nos instruiu também, no mesmo capítulo, sobre a
abstinência temporária do pão, isto é, o jejum (Mt.6.16-18). Ganho e renúncia
fazem parte do evangelho.
DESEJOS
ILUSÓRIOS
O
filho pródigo vivia na casa do pai, tinha tudo que precisava, mas estava
insatisfeito. Talvez tenha ouvido acerca dos atrativos da cidade. Um dia,
resolveu cair de cabeça naquele mundo de aventuras.
Quantos
estão insatisfeitos na casa do Pai? Cuidado. As tentações atendem exatamente a
esse tipo de sentimento. O filho ficou
iludido com a possibilidade de encontrar satisfação longe de casa. Não
encontrou.
Ao
contrário, na busca por grandes conquistas, sofreu grande perda. Suas
realizações foram fúteis e fugazes. Um dia, achando-se no meio dos porcos,
sentiu novamente uma grande insatisfação. Lembrou-se da casa do pai e decidiu
voltar (Lc.15.11-32).
Não
encontraremos felicidade longe dos caminhos do Senhor. Judas Iscariotes pensou que ficaria
satisfeito com 30 moedas de prata. O
resultado foi a decepção, o desespero e o suicídio (Mt.27.3-5).
ONDE
ENTRA DEUS NESSA HISTÓRIA?
Há
quem pense que Deus tem a responsabilidade de satisfazer todos os nossos
desejos e realizar todos os nossos sonhos. É o que talvez esperam do evangelho,
mas estão enganados. Alguns desejos são
pecaminosos e alguns planos são errados.
Será
que Jesus veio ao mundo e morreu na cruz para que tivéssemos todos os nossos
desejos atendidos? Ele não é o gênio da
lâmpada.
O
que Jesus fazia pelas pessoas durante seu ministério terreno? Ele acudiu a muitos que estavam em situação
desesperadora, curando-os e libertando-os.
Depois, cada um deveria trabalhar para conseguir o que desejasse. Não
vemos Jesus distribuindo dinheiro.
Ele
pode fazer tudo, mas não está a nosso serviço.
Certa vez, Jesus multiplicou pães e peixes e alimentou mais de cinco mil
pessoas. No dia seguinte, quando elas
voltaram para comer pão de graça, ele lhes disse: "Eu sou o pão vivo que
desceu do céu" (João 6). Em outras
palavras, o Mestre estava ensinando que as pessoas deveriam buscá-lo e não ao
pão que ele poderia dar.
Como
podemos, então, entender o versículo que diz "Agrada-te do Senhor e ele
fará o que deseja o teu coração"? (Salmo 37.4). Quando você estiver satisfeito com o próprio Deus, então ele
dará outras coisas que você deseja (o que não significa que sejam todas). Ele dá até riquezas materiais para alguns
dos seus filhos. Só não podemos pensar que este seja o objetivo do evangelho.
Deus enriquece e empobrece a quem ele quer (ISm.2.7), conforme seus
soberanos desígnios.
DEVEMOS
SATISFAZER AO SENHOR
Quando
deveríamos nos contentar, queremos mais; quando deveríamos ficar insatisfeitos,
pensamos que basta. Em alguns momentos, Deus
mandou ir além, mas paramos. Se é para
nós, queremos mais; Se é para Deus, o pouco já nos parece suficiente. O nome desse tipo de satisfação é comodismo.
É, mais uma vez, o engano da natureza pecaminosa. (Ag. 1.1-4).
Vivemos
concentrados em satisfazer os nossos desejos, mas deveríamos nos preocupar em
agradar a Deus em primeiro lugar. Esta é
a atitude essencial do cristão. Somos servos. O servo faz tudo que o seu senhor
quer. Depois, se der tempo, faz algo para si mesmo.
A
respeito do Messias, o profeta Isaías escreveu: "Ele verá o fruto do
trabalho da sua alma e ficará satisfeito" (Is.53.11). Nosso propósito deve ser este: que Jesus
fique satisfeito conosco.
Cristo
perguntou a algumas pessoas: “O que queres que eu te faça”? Foi a oportunidade
para a solução de muitos problemas (Mc.10.51, etc). Mas nós também precisamos
perguntar a Jesus, como fez Saulo de Tarso: “Senhor, que queres que eu faça”
(At.9.6). Assim, assumiremos nossa
posição de servos.
TIPOS
DE NECESSIDADES
Além
das necessidades físicas e psicológicas, temos necessidades espirituais. Isso fica evidente, por exemplo, no diálogo
de Jesus com a mulher samaritana (João 4). Além de bênçãos, precisamos do
abençoador. Precisamos da presença de
Deus e da nossa comunhão com ele. Então, estaremos completos e eternamente
satisfeitos.
A
satisfação natural, material, pode mascarar uma necessidade espiritual grande e
urgente. Foi o que aconteceu com Israel no tempo do profeta Amós. O mesmo observamos no relato sobre o rico e
o Lázaro e ainda na carta à igreja de Laodiceia.
A
satisfação que o evangelho nos garante pode ser resumida em duas expressões de
Cristo: o pão vivo e a água viva (João 6.51; 7.38), representando o próprio
Jesus e o Espírito Santo. Recebendo a Cristo como Salvador e sendo cheios do
Espírito Santo, teremos abundância do fruto do Espírito que é "amor,
alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio
próprio" (Gál.5.22).
Costumamos
confundir felicidade com a satisfação dos nossos desejos, mas o que Deus nos
oferece é muito mais. É a bem-aventurança daqueles que o conhecem e vivem
eternamente na sua gloriosa presença.
Pr.
Anísio Renato de Andrade
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