"Disse o Senhor a Samuel
(...) Enche um chifre de azeite e vem. Enviar-te-ei a Jessé, o belemita; porque
dentre os seus filhos me tenho provido de um rei. Porém disse Samuel: Como irei
eu? pois, ouvindo-o Saul, me matará. Então disse o Senhor: Toma uma bezerra das
vacas em tuas mãos, e dize: Vim para sacrificar ao Senhor (...) E sucedeu que,
entrando eles, viu a Eliabe, e disse: Certamente está perante o Senhor o seu
ungido. Porém o Senhor disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem
para a grandeza da sua estatura, porque o tenho rejeitado; porque o Senhor não
vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor
olha para o coração (...)
Assim fez passar Jessé a seus sete
filhos diante de Samuel; porém Samuel disse a Jessé: O Senhor não tem escolhido
a estes. Disse mais Samuel a Jessé: Acabaram-se os moços? E disse: Ainda falta
o menor, que está apascentando as ovelhas. Disse, pois, Samuel a Jessé: Manda
chamá-lo, porquanto não nos assentaremos até que ele venha aqui. Então mandou
chamá-lo e fê-lo entrar (e era ruivo e formoso de semblante e de boa presença);
e disse o Senhor: Levanta-te e unge-o, porque é este mesmo. Então Samuel tomou
o chifre do azeite, e ungiu-o no meio de seus irmãos; e desde aquele dia em
diante o Espírito do Senhor se apoderou de Davi; então Samuel se levantou e
voltou a Ramá". (I Sm.16.1-13).
Em
princípio, o estabelecimento de um rei é apenas uma questão política, mas Deus
está no controle. Muitas questões naturais são resolvidas no mundo espiritual.
Deus estava agindo, embora o povo não estivesse consciente disso.
O
texto nos chama a atenção por vários motivos. Um deles é a maneira de Deus
fazer as coisas. Seu jeito é diferente do nosso, mas precisamos confiar nele. O
próprio Samuel apresentou seu questionamento, mas acabou obedecendo à ordem
recebida.
Deus
escolheu o novo rei sem levar em conta a vontade do povo nem o suposto direito
do príncipe herdeiro, Jônatas. O Senhor visava o bem de Israel, mesmo que, para
isso, interesses particulares fossem contrariados.
O
Senhor poderia falar com Davi diretamente ou enviar um anjo, mas enviou Samuel.
Via de regra, Deus usa homens na realização dos seus propósitos.
Logo
no verso 1, Deus poderia ter dito que o escolhido era Davi, mas não disse.
Apenas mandou que o profeta fosse à casa de Jessé. Queremos saber tudo e com a maior
antecedência possível, mas Deus nos dirige passo a passo. Ele vai iluminando o
caminho na medida em que caminhamos. O fato de Samuel não saber quem era o escolhido,
produziria expectativas, desilusões e lições para a família de Jessé.
Samuel
não saiu de casa anunciando que iria ungir o novo rei. Ele também não poderia
mentir. Portanto, Deus lhe deu uma estratégia para ocultar seu objetivo. Mandou
que ele fizesse um sacrifício, que serviria como resposta a quem o interrogasse
sobre o motivo de sua visita a Belém. Não devemos falar demais, anunciando aos
quatro ventos todos os nossos propósitos e planos, pois isso pode atrair
perseguições desnecessárias. O importante, nesse caso, não é a propaganda, mas
a obediência ao que Deus mandou.
O
Senhor escolheu Davi para reinar sobre Israel. Isto poderia ser suficiente, mas
a unção era necessária e importante. Haveria
dificuldades para Samuel cumprir aquela ordem, mas a unção era imprescindível.
Estava em jogo, não apenas um cargo, mas um ministério. Da mesma forma, não nos
bastam posições e títulos. A unção é indispensável.
Deus
sabia que Davi era o seu escolhido, mas, no tempo certo, todos deveriam saber
também. Um dos aspectos da
unção é servir como testemunho público da escolha divina. O primeiro a
reconhecer Davi como rei seria o profeta. Em seguida, a família. O ministério
de Samuel seria um respaldo inicial para a autoridade de Davi. Ninguém poderia
dizer que ele surgiu do nada ou que tenha sido sua a ideia de governar.
Davi
não era parente de Saul. Portanto, não fazia parte da família real. Além disso,
era o filho mais novo, o menor, o último, o menos indicado para reinar. As melhores oportunidades pertenciam,
por costume, ao filho primogênito, nesse caso Eliabe. Todos os fatores
pareciam conspirar contra Davi. Três de seus irmãos eram guerreiros, mas ele
era um simples pastor de ovelhas. O próprio Samuel ficou impressionado com o
irmão mais velho. Davi foi esquecido por todos, inclusive pelo próprio pai,
Jessé.
Quais
seriam os requisitos necessários para que alguém se tornasse rei? O povo se
impressiona com um líder por sua beleza, estatura e eloquência. A árvore
genealógica e a condição financeira também pesam bastante. O que vale, porém, é
a determinação divina.
O
mundo valoriza aspectos exteriores, mas Deus vê o coração. O que nós
valorizamos? O julgamento
pela aparência pode criar ciladas. Talvez estejamos julgando a nós mesmos de
acordo com critérios mundanos e nos sentimos diminuídos. Felizmente, ninguém perguntou a Davi
se ele queria ser rei ou se possuía condições para isso. Deus o escolheu e
pronto.
Muitas
pessoas sofrem por causa do desprezo e da rejeição, mas Deus ama a todos. A
busca por aceitação conduz muitos jovens às drogas e ao sexo ilícito. Vale tudo
para ser aceito pelo grupo? Não.
O
nome "Davi" significa "amado". Todos podiam esquecê-lo, mas Deus o
amava e lembrava-se
dele. Ele foi escolhido por Deus, e o profeta mandou chamá-lo. Hoje
também, ecoa o chamado de Deus para nós. Não podemos deixar de atendê-lo. Davi estava ocupado, cuidando das
ovelhas, mas não usou isso como desculpa.
Assim
que o jovem entrou na casa, o Senhor ordenou que ele fosse ungido. Samuel
trouxe consigo um chifre cheio de azeite. Não seria apenas um toque, mas uma
unção abundante. O azeite foi derramado sobre Davi no meio dos seus
irmãos. A unção do Senhor
sobre nós deve mostrar seus efeitos dentro das nossas casas, antes que isso
ocorra em outros lugares. É no seio familiar que a unção atua em primeiro
lugar, através do nosso testemunho de vida.
Naquele
momento, diz a bíblia, o Espírito do Senhor se apoderou de Davi. O azeite é um
símbolo do Espírito Santo. Depois
da unção, ninguém poderia segurar aquele moço. No capítulo seguinte, temos a
vitória de Davi sobre o gigante Golias. Sabendo que seria rei, Davi estava
convicto de que nenhum gigante seria capaz de matá-lo. Nós também temos
grandes desafios pela frente e precisamos da unção do Espírito Santo.
Daquele
dia em diante, Davi passou por um longo processo de preparação para
reinar. A unção não é um
fim em si mesma, mas o princípio de uma caminhada com renovado vigor.
"O
Espírito do Senhor está sobre mim; porque o Senhor me ungiu, para pregar boas
novas aos mansos; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar
liberdade aos cativos" (Isaías 61.1).
Pr. Anísio Renato de Andrade