A FIGUEIRA INFRUTÍFERA -
Pr. Anísio Renato de Andrade
“Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha; e indo procurar
fruto nela, não o achou. Disse então ao viticultor: Eis que há três anos
venho procurar fruto nesta figueira, e não o acho; corta-a; para que
ocupa ela ainda a terra inutilmente? Respondeu-lhe ele: Senhor, deixa-a
este ano ainda, até que eu cave em derredor, e lhe coloque esterco; e se
no futuro der fruto, bem; mas, se não, corta-la-ás” (Lc.13.6-9).
Esta parábola começa com algo estranho: “uma figueira no meio da vinha”.
Vinha é uma plantação de videiras. Por quê haveria ali uma figueira?
Por uma concessão e propósito do proprietário.
Neste texto, como em outras passagens bíblicas, o ser humano é comparado a uma árvore.
O dono da vinha é Deus, o Pai. Se estamos no
meio da vinha do Senhor, é apenas por sua graça e amor. Não temos a
natureza e a qualidade correspondentes à santidade divina, mas vivemos
pela misericórdia. Nunca deveríamos fazer exigências diante de Deus com
base em direitos ou méritos. Reconheçamos a graça e sejamos gratos.
Todo cultivo representa investimento e tem um
propósito. Nesse caso, o objetivo era a frutificação. O Senhor tem
expectativas ao nosso respeito. Ele fez grande investimento em nossas
vidas e o maior deles foi o sangue precioso derramado no Calvário. Além
disso, ele nos deu o seu Santo Espírito e dons e ministérios.
Os frutos são resultados esperados. O problema é
que a expectativa de Deus é, geralmente, diferente da nossa, assim como
pais e filhos têm, quase sempre, diferentes desejos e planos. Os pais
se preocupam com a saúde, o caráter, a formação educacional e
profissional do filho, mas ele, sendo uma criança, talvez queira apenas
um brinquedo novo. O que temos desejado, planejado e realizado? Quais
têm sido nossas prioridades?
O texto fala sobre um tempo de avaliação. Quando
chegamos ao final de cada ano, fazemos avaliações. Aqueles a quem Jesus
se dirigia tinham a tendência de avaliar os outros (Lc.13.1-5), mas
precisamos fazer o auto-exame (ICo.11.28). Quando o fazemos, é possível
que nos gloriemos de muitos resultados que talvez não sejam os que Deus
deseja.
Uma figueira pode ser alta, forte, bonita, com
folhagem exuberante e até flores, mas, se não tiver fruto, não estará
cumprindo sua missão. Todas essas características são boas, porém
insuficientes. O bom não substitui o melhor. Afinal de contas, para quê
servimos nós? Para produzirmos sombra? Somos enfeites? Nossa madeira
terá alguma utilidade? Nossas folhas servirão como vestimentas?
(Gn.3.7). O que o Senhor procura em nós é o fruto. Muitos objetos podem
produzir sombra, mas a figueira existe para produzir figos.
Podemos ter alcançado tantas coisas nesta vida:
dinheiro, bens, posições, cargos, títulos e, ainda assim, não termos
produzido fruto.
Quando Jesus voltar, muitos apresentarão um
relatório diante dele, dizendo: Senhor, em teu nome nós profetizamos,
expulsamos demônios, fizemos sinais e maravilhas. Então, ele lhes dirá:
Apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade (Mt.7.22-23).
Desta passagem bíblica, entendemos que o
exercício dos dons espirituais não é fruto diante de Deus. Tanto é assim
que, nos escritos de Paulo, os dons (ICo.12) estão separados do fruto
do Espírito (Gal.5.22). Podemos trabalhar muito e não produzir o que
Deus espera de nós, assim como Marta trabalhava, mas não agradava ao
Mestre (Lc.10.40).
O que seria então o fruto? O antônimo da
iniquidade. Não é apenas evitar o pecado, mas fazer algo positivo em seu
lugar. “Cessai de fazer o mal e aprendei a fazer o bem...”
(Is.1.16-17). O fruto do Espírito é o contrário das obras da carne
(Gal.5.16-22). Podemos resumi-lo em duas palavras: santificação e amor.
A santificação combate o pecado. O amor não nos deixa inativos, mas nos
faz produzir o bem.
Outra forma de definir o fruto é “aquilo que
fazemos de bom por outras pessoas”. O que eu fizer por mim mesmo não
vale como fruto. Como disse Lutero, “nenhuma árvore produz fruto para si
mesma”. Podemos comer e beber do melhor todos os dias, mas nada disso
supera o valor de um copo d’água dado ao sedento (Mt.10.42).
Naquela parábola, o dono da vinha veio procurar o
fruto e, não o achando, ficou decepcionado. A figueira é um símbolo de
Israel e representava diretamente aqueles judeus aos quais Jesus contou a
parábola. Em última instância, ela nos representa também, pois Deus tem
a mesma expectativa a nosso respeito.
Não tendo achado o fruto almejado, o Senhor
mandou cortar a figueira. Temos neste ponto a manifestação da justiça
divina. Em seguida, ocorre a intercessão. O viticultor parece
representar o Senhor Jesus, que é nosso advogado diante do Pai
(IJo.2.1). Personificando o amor divino, ele clama: “Senhor, deixa-a
mais este ano”. Então, a execução judicial foi adiada.
Cada dia das nossas vidas é uma nova
oportunidade. Se estamos ainda nesta terra, é porque não fomos cortados.
Ainda podemos frutificar.
O viticultor se prontificou a cuidar da figueira,
cavando em volta e adubando. O Senhor ainda se propõe a investir mais
em nós. O processo pode ser difícil. Cavar em volta pode ser um
procedimento incômodo que vêm romper a dureza do solo, expor o que está
oculto, retirar as pedras e nos fazer mais receptivos à água que
representa a Palavra de Deus. O adubo pode não ser agradável, não cheira
bem, mas é necessário. Precisamos aprender também com as coisas ruins
que nos sobrevêm.
Que Deus nos ajude a reconhecer tais processos em
nossas vidas, de tal maneira que não venhamos a rejeitar a divina
intervenção.
A figueira ganhou tempo, mas uma nova avaliação
já está marcada. O juízo final se aproxima. Precisamos frutificar
enquanto Deus nos permite.
Jesus disse àqueles homens: “Se não vos
arrependerdes, todos de igual modo perecereis” (Lc.13.5). O
arrependimento é o primeiro fruto que o Senhor procura. Este foi o tema
da pregação de João Batista e também do Senhor Jesus ao iniciar o seu
ministério.
Arrependimento é conscientização, desejo, decisão
e mudança. Que Deus nos ajude para que possamos produzir os frutos que
ele procura em nós.
Pr. Anísio Renato de Andrade
Bacharel em Teologia
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