CRISTIANISMO EM TRÊS NÍVEIS
Qual é a sua relação com o
cristianismo? Você o estuda, pratica ou vive?
Talvez faça as três coisas ou
duas delas ou apenas uma. Refiro-me às
dimensões do conhecimento, da religiosidade e da espiritualidade.
O NÍVEL DA LETRA
O principal objeto material do
cristianismo é um livro: a bíblia. Sendo assim, ele é passível de leitura,
estudo, análise e interpretação, produzindo valioso conhecimento. Entretanto,
este nível ainda não é o cristianismo propriamente dito, senão apenas a teoria
a seu respeito. É muito comum que se conheça um livro sem se conhecer o autor.
Alguém pode estudar e conhecer muito bem a fórmula do chocolate, mas fabricá-lo
é outra coisa e comê-lo seria uma terceira. O conhecimento teórico é
importante, mas não pode ser tratado e valorizado como um fim em si mesmo. Por
outro lado, a produção (que requer o conhecimento) pode ocorrer apenas para o
benefício alheio ou até para a perda. O consumo é o que proporcionará acesso ao
sabor e à nutrição.
O NÍVEL DA RELIGIOSIDADE
A fé muitas vezes se manifesta
através de orações, jejuns, cânticos, ofertas e pregações, mas tudo isso pode
ser feito sem fé. Logo, essas ações não são a espiritualidade em si. A prática
religiosa não deve ser confundida com a vida cristã. É possível fazer sem ser
ou ainda ser sem fazer, embora este último caso seja menos provável. O que
quero dizer é que, embora uma árvore seja reconhecida pelos seus frutos, a
ausência dos mesmos não significa que ela tenha deixado de ser uma árvore
frutífera ou que esteja morta. O excesso de atividade ou obra não é prova de
espiritualidade. Existem movimentos
mecânicos que imitam a vida, mas não a possuem,
ao mesmo tempo em que um ser vivo pode estar inativo. Não pretendo
incentivar a inércia, mas apenas fazer diferença entre esses elementos.
A VERDADEIRA ESPIRITUALIDADE
A experiência espiritual legítima
é o real contato com Deus, o qual produz, invariavelmente, efeitos na vida do
indivíduo. É mais que conhecimento teórico, embora não o desvalorize. Está acima
da prática religiosa, mas não a destrói. É também o firme compromisso com
Cristo, que repercute em todos os aspectos da vida. A religiosidade nos ocupa
em certos dias e horários, mas a verdadeira espiritualidade é um constante modo
de vida com o propósito de agradar a Deus. A religião nos dá rótulos. A
espiritualidade nos dá conteúdo. Em João 3, temos o exemplo de Nicodemos, um
homem conhecedor da letra e praticante da religião. Em João 4, lemos sobre a
mulher samaritana, uma religiosa com vida irregular. A proposta de Jesus para ambos foi no sentido
de conduzi-los à verdadeira espiritualidade.
A prática religiosa é trabalho e
nos faz sentir como servos de Deus. Isso é bom, mas a espiritualidade nos
identifica como filhos que conhecem o Pai e vivem para agradá-lo.
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