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OS VACILOS
DE GIDEÃO
O livro de juízes fala de uma época quando não havia
rei em Israel e cada um fazia o que bem entendia (Jz.17.6). O pecado grassava e
os povos vizinhos oprimiam os israelitas. De tempos em tempos, Deus levantava
juízes para livrarem a nação. Um deles foi Gideão, que teve um “início de
carreira” brilhante, quando, com apenas 300 homens, livrou Israel dos
midianitas. Bom, esta era a “manchete” da época, mas a verdadeira causa do
livramento foi o poder de Deus. Aqui terminava a ação divina para aquele tempo
e começavam as invenções humanas. Imediatamente, o ministério de Gideão foi
reconhecido e ele ficou famoso. O povo o
elevou à glória, digo, à vanglória. Começaram a chegar as recompensas materiais
e as propostas tentadoras. O problema de Gideão deixou de ser com os midianitas
e passou a ser com os próprios israelitas; era o fim da opressão e o início da bajulação.
Primeiro, veio a proposta do reino, uma armadilha
disfarçada de oportunidade. Os israelitas queriam fazê-lo rei. Gideão deveria
fazer o que Deus mandou (Jz.6.14) e não o que o povo queria. Os reis precisavam
ser ungidos para assumirem o trono e não era este o caso. Exercer aquele “ministério”
sem vocação e sem unção seria um problema sério. Gideão resistiu ao apelo
popular e não aceitou o cargo:
“Porém Gideão lhes disse: Sobre vós eu não dominarei,
nem tampouco meu filho sobre vós dominará; o Senhor sobre vós dominará”
(Jz.8.23).
Que resposta maravilhosa! Gideão brilhou mais uma vez.
Porém, seu fracasso veio na sequência:
“E disse-lhes mais Gideão: Uma petição vos farei:
Dá-me, cada um de vós, os pendentes do seu despojo... E estenderam uma capa, e
cada um deles colocou ali um pendente do seu despojo. E foi o peso dos
pendentes de ouro, que pediu, mil e setecentos siclos de ouro, afora os
ornamentos, e as cadeias, e as vestes de púrpura que traziam os reis dos
midianitas, e afora as coleiras que os camelos traziam ao pescoço”
(Jz.8.24-26).
Gideão estava indo tão bem, mas caiu rapidamente. Ele
não queria ser rei, mas desejava as riquezas dos reis. De fato, o maior
problema ainda estava porvir. Aquela riqueza seria usada para fazer um éfode,
uma suntuosa roupa sacerdotal.
“E fez Gideão dele um éfode, e colocou-o na sua
cidade, em Ofra; e todo o Israel prostituiu-se ali após ele; e foi por tropeço
a Gideão e à sua casa” (Jz.8.27).
O juiz perdeu o juízo. A história tomou um rumo
inesperado e surpreendente a partir do momento que ele fez um “objeto sagrado”
que veio a ser um ídolo ou amuleto, símbolo de um misticismo desnecessário. Gideão,
sendo da tribo de Manassés, nunca
deveria envolver-se em assuntos sacerdotais, próprios da tribo de Levi. A
cidade de Ofra tornou-se centro de peregrinações dos israelitas. A expressão
“prostituiu-se” envolve ritual religioso conforme se vê no verso 33. O
verdadeiro juiz prestou-se ao papel de falso sacerdote, contribuindo para a
criação de um falso movimento religioso em Israel. Gideão fracassou por uma
mistura de questões religiosas, financeiras e sexuais, desviando-se do caminho
da verdade (Jz.8.30-31).
O juiz conduziu à idolatria e à prostituição o mesmo povo
que tinha sido liberto por ele. Se alguém falasse alguma coisa, seria alertado
para “não tocar no ungido do Senhor”. A maioria diria “Gideão é uma bênção” ou
“lembre-se do que Deus fez através dele”.
Gideão vivia de história. Afinal, ele tinha sido usado
poderosamente pelo Senhor, e ninguém duvidava disso, mas um passado bom não
justifica o presente errado. Depois, seu filho, Abimeleque (nome que significa
“meu pai é rei”), continuou vivendo da história do pai, mesmo sem conhecer o
Senhor nem ter experiência espiritual alguma.
O problema não teve solução. Não houve quem pudesse repreender,
julgar e condenar Gideão, pois ele era a autoridade máxima, mesmo não sendo
rei.
Acontece que nenhum líder, rei, juiz, sacerdote ou anjo
está acima da palavra de Deus. Por este motivo, não podemos aceitar a heresia,
ainda que venha de alguém que foi usado por Deus algum dia. Gideão transgrediu
a lei do Senhor com a sua idolatria e prostituição, tornando-se um herege,
apesar do seu histórico louvável. Há quem defenda a tese de que a iniciativa
idólatra tenha sido do povo. De todo modo, Gideão não os impediu nem orientou.
Os fracassos de Gideão, Sansão e Jefté foram exceções
entre os juízes. Houve vários outros líderes levantados por Deus naquela época
que não vacilaram. Ninguém deve
generalizar, propondo que todos sejam falsos, mas todos nós precisamos vigiar,
pois assim como Deus usa homens, o diabo também quer usar.
Os fracassos de alguns personagens bíblicos estão na
palavra de Deus para o nosso aprendizado. Aprendamos.
Pr. Anísio Renato de Andrade